Campanhas

Dia da execução de Olga Benário no campo de concentração nazista

No dia 23 de abril de 1942, Olga Gutmann Benário Prestes, era executada no campo de concentração nazista de Bernburg na cidade de Munique, na Alemanha. aos 34 anos, junto de 199 outras presas,

Filha do famoso advogado Leo Benário, e da Eugenie Guttman Benário que era de uma rica família judia.Durante a sua juventude Olga fez parte da organização clandestina chamada Grupo Schwabing, em que se destacou. Aos 16 anos, se mudou para Berlim junto do seu namorado Otto Braun, onde se tornou secretária de Agitação e Propaganda da base operária do bairro de Neukölln e, pouco tempo depois, foi promovida à secretária de Agitação e Propaganda de Berlim.

No tempo em que esteve em Berlim Olga atuou principalmente contra o crescimento das milícias de extrema-direita – em especial, as nazistas. Em abril de 1928, Olga resgatou seu namorado, Otto Braun, da prisão de Moabit e passou a ser procurada pela justiça alemã, considerada traidora da pátria, o governo alemão chegou a oferecer 5 mil marcos por informações que levassem à sua prisão. Ela, então, fugiu para a União Soviética em julho de 1928 onde conheceu Carlos Prestes.

Quando esteve em Moscou, Olga aperfeiçoou seus conhecimentos sobre marxismo e recebeu treinamento militar, foi então enviada ao Brasil em 1934, para garantir a segurança de Luís Carlos Prestes em missão designada pela Internacional Comunista. A Internacional Comunista era uma seção do Partido Comunista que determinava as bases de difusão do comunismo internacionalmente.

A vinda de Prestes ao Brasil

Luís Carlos Prestes era conhecido no Brasil por causa da sua luta armada contra as tropas do governo de Artur Bernardes na famosa Coluna Prestes da década de 1920. Prestes liderou um grupo de cerca de 1.500 homens, que marchou 25 mil km pelo Brasil ajudando os pobres e denunciando o governo de Bernardes, conhecido pelo autoritarismo. Em 1927, quando o grupo de Prestes se desarmou na Bolívia, não havia sofrido uma derrota sequer.

Segundo a historiadora e filha de Prestes, Anita Leocádia Prestes Olga já havia escutado histórias em Moscou acerca dos feitos de Prestes, a missão de Olga era se passar por esposa de Prestes, e ir clandestinamente para o Brasil, isso porque ele era procurado por ter desertado do exército durante a Coluna Prestes. Durante a missão Olga e Prestes se apaixonaram e vieram a se casar.

No Brasil, Prestes foi considerado presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Esse grupo político pregava a luta contra o fascismo e a tomada do poder no Brasil por um movimento revolucionário. Ele também fazia parte dos quadros do Partido Comunista do Brasil (PCB). Durante muito tempo acreditava que a vinda de Prestes ao Brasil seria para organizar um movimento revolucionário contra o governo de Getúlio Vargas. Essa informação é contestada pela historiadora Anita Leocádia Prestes.

Com Prestes se deu a Intentona Comunista uma tentativa de golpe militar em três cidades brasileiras: Natal, Recife e Rio de Janeiro. Contra Vargas, que fracassou, então Prestes passa a ser perseguido pelo estado.

Prisão e deportação de Olga

Em março de 1936, Olga e Luís Carlos Prestes foram presos junto de vários outros colegas, que foram torturados pela polícia para dar informações, Olga porém se recusou a ceder informações ao governo que decidiu deportá-la mesmo estando grávida de Luís Carlos Prestes.

Mesmo sendo ilegal pela lei brasileira da época, já que Olga estava grávida de uma filha brasileira, o Superior Tribunal Federal deu a ordem de deportação em 1936. Colocaram ela no navio La Coruña rumo a Hamburgo, na Alemanha. A deportação era uma sentença de morte, pois ela era judia, e já sabiam da perseguição nazista contra os judeus.

No dia 18 de outubro de 1936, foi recebida pela polícia secreta nazista a Gestapo, em Hamburgo, no dia 27 de novembro daquele ano, na prisão de Barminstrasse em Berlim, Olga deu a luz a sua filha, Anita Leocádia Prestes, que seria encaminha para um orfanato se não fosse a forte pressão internacional organizada pela mãe de Prestes que fez o governo alemão entregar a criança para a família.

Campo de concentração

Olga, no entanto, continuou presa e sendo transferida pelo campo de Lichtenburg, depois Ravensbrück e, por fim, Bernburg. Onde foi sujeita a frio, fome, interrogatórios constantes, trabalho escravo e torturas físicas. Até que em outubro de 1941, Hitler ordenou “a deportação de todos os judeus alemães”, o que levou à seleção das mulheres para campos na Polônia. Consciente do extermínio, Benário perdeu todas as esperanças. No campo de concentração de Bernburg, ela foi executada aos 34 anos na câmara de gás com mais 199 presas. O destino de Olga só foi descoberto pela família ao final da Segunda Guerra Mundial em 1945.

Olga era linda, alta, de cabelos escuros e olhos azuis. Era uma mulher movida por ideais de liberdade e justiça social, independente, generosa, tinha caráter e convicções políticas e era sempre corajosa e confiante.

Carta de Olga ao entregar sua filha:

“Certamente já sabe há muito tempo, pela nossa querida mãe, que a nossa pequenina não está mais comigo. Posso afirmar, com certeza, que de 5 de março de 1936 a 21 de fevereiro de 1938, atravessei o período mais negro de minha vida. Entende certamente, o quanto um homem pode compreender o que se passou em mim e o que se percebe e o que significa ser mãe. Diante de tais acontecimentos tem-se a seguinte alternativa: o bem se é cobrado o bem te endurece. Tu sabes que somente a segunda alternativa pode me colocar. Para isso sou ajudada firmemente pelo fato de que ainda sou capaz de distinguir entre pouco significado do que diz respeito a uma pequena pessoa em particular e os acontecimentos que interessam em geral a todo e ao inverso. Mas já imaginaste alguma vez, como são extraordinários os azares do destino. Nós dois estamos atrás dos muros de uma prisão em dois continentes diferentes. Da nossa vida em comum nasceu um pequeno ser e agora este ser encontra-se seguro nos braços da nossa querida mãe. Que Anita Leocádia seja a representante do nosso amor e da nossa solicitude junto a nossa mãe”.

23 de setembro de 1936 deportação de Olga Benário Prestes

| Editoria Virtuo Comunicação

| Projeto Comunicando ComCausa

| Portal C3 | Instagram C3 Oficial

João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa