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Brasil tem preocupante aumento de número de ataques em escolas

A violência nas escolas tem sido um problema crescente no Brasil nos últimos anos. O aumento dos ataques em escolas tem gerado grande preocupação em todo o país e colocado em pauta a discussão sobre segurança nas escolas.

Os ataques em escolas podem ser motivados por diversas razões, como problemas de saúde mental, bullying, vingança ou terrorismo. Independentemente da motivação, o resultado é sempre trágico e traumático para as vítimas, suas famílias e a comunidade escolar como um todo.

Segundo relatório para a transição do governo federal, entregue em dezembro passado, o Brasil teve 16 ataques à escola no Brasil desde o início do ano 2000, quatro deles no segundo semestre do ano passado. Além das 35 mortes, foram 72 feridos. Sendo que 12 destes ataques, foram com armas de fogo.

A pesquisa detalha que dos 22 ataques, 12 envolveram armas de fogo. Em seis casos, os atiradores tinham arma em casa. Em quatro, as armas foram compraram de terceiros. Em dois episódios a sua origem é desconhecida. O mais jovem dos atiradores tinha 10 anos, e o mais velho (ex-aluno) 25 anos. Os ataques foram protagonizados por 16 alunos e 12 ex-alunos – em três situações a ação foi em dupla.

Ao todo fora unidades atacadas:
12 estaduais
6 municipais
1 cívico-militar
4 particulares

Vítimas fatais:
24 estudantes
5 professoras
2 profissionais de educação
5 alunos e ex-alunos responsáveis pelos ataques

Armas de fogo (12 casos):
6 tinham a arma em casa
4 compraram de terceiros
2 são de origem desconhecida

No portal da CNN, foram listados os seguintes casos:

2022 – dezembro – Ipaussu/SP
Na noite do dia 14 de dezembro, um jovem de 22 anos invadiu uma escola do interior de Ipaussu (SP) após esfaquear duas pessoas e fazer outra de refém. Conforme detalhado no Boletim de Ocorrência, a motivação do crime foi vingança contra a diretora da escola, com quem o autor do crime teve problemas há dez anos.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que as vítimas de esfaqueamento foram duas professoras, uma de 26 e outra de 43 anos. A violência ocorreu por volta das 20h, quando o homem armado com uma faca pulou o muro da escola procurando pela diretora.

Ao não a encontrar, o autor do crime feriu as duas professoras em diferentes partes do corpo, como braço e abdômen. De acordo com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), as servidoras atingidas foram socorridas pela equipe da escola e encaminhadas aos hospitais da região.

2022 – novembro – Aracruz/ES
Duas escolas na cidade de Aracruz, no Espírito Santo, sofreram ataques com armas de fogo na sexta-feira do dia 25 de novembro do ano passado. Quatro pessoas morreram e 10 ficaram feridas, segundo a prefeitura da cidade. A Polícia Civil, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e outros órgãos atuam no atendimento das vítimas.

A prefeitura de Aracruz confirmou o ataque em duas instituições de ensino, a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Primo Bitti e na escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), ambas no bairro Coqueiral.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do estado, o atirador conseguiu entrar na primeira escola, a EEFM Primo Bitti, após quebrar o cadeado do portão. Ele abriu fogo na sala dos professores, deixando duas professoras mortas e nove feridos.

O atirador prosseguiu para a segunda escola de carro, onde matou uma criança de 12 anos, e deixou duas pessoas feridas, ainda sem informação sobre a idade delas.

Em coletiva de imprensa, o governador Renato Casagrande disse que o autor dos ataques confessou ter cometido o crime em conversa com os pais e com a polícia. Ele não falou sobre sua motivação, mas disse ter planejado o ataque por cerca de dois anos.

2022 – maio – Sobral/CE
Um aluno de 15 anos atirou em três estudantes de uma escola pública em Sobral, no Ceará, no dia 5 de outubro de 2022.

A arma de fogo usada estava registrada em nome de um CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador), que, segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do estado, supostamente pertence a um familiar do jovem.

De acordo a Delegacia Municipal de Sobral, o aluno confessou durante depoimento que havia premeditado o ato após ser vítima de bullying. O crime aconteceu na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Professora Carmosina Ferreira Gomes, no bairro Sumaré.

As três vítimas atingidas pelos tiros foram encaminhadas à Santa Casa de Misericórdia de Sobral. Um deles não resistiu aos ferimentos e morreu. Os outros tiveram alta hospitalar.

2022 – março – São Paulo/SP
Uma estudante de 12 anos foi esfaqueada por um colega de classe no Colégio Floresta, zona leste de São Paulo, no dia 22 de março de 2022. Um colega de 11 anos que tentou protegê-la acabou ferido também.

O agressor era outro estudante, de 13 anos, e, segundo a polícia, disse que sofria bullying.

A estudante foi golpeada com faca ao menos 10 vezes e teve o pulmão perfurado, mas sobreviveu. O menino de 11 anos teve ferimentos leves.

2022 – setembro de 2022 – Morro do Chapéu/BA
Um adolescente de 13 anos atacou a Escola Municipal Yeda Barradas Carneiro, onde estuda, na cidade de Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina, na Bahia.

Na manhã do dia 27 de setembro do ano passado, ele ateou fogo no colégio e feriu a diretora com o uso de uma faca. O jovem foi apreendido pela Polícia Militar e respondeu por ato infracional análogo ao crime de lesão corporal leve.

Segundo informações da Polícia Civil baiana, o estudante entrou na escola e atirou explosivos caseiros do tipo coquetel molotov, que causaram as chamas. Em seguida, teria esfaqueado a coordenadora. Ninguém ficou ferido pelo contato com o fogo e a vítima foi encaminhada a exame de corpo de delito.

2022 – setembro – Barreiras/BA
Um estudante armado entrou na Escola Municipal Eurides Sant’Anna, no dia 26 de setembro, e atirou contra dois alunos na cidade de Barreiras, interior da Bahia. Uma aluna cadeirante, de 20 anos, morreu durante o ataque. Não há informações sobre a motivação do crime.

2021 – maio Saudades/SC
Um jovem de 18 anos invadiu uma escola de ensino primário no município de Saudades, no oeste do estado de Santa Catarina, em 4 de maio de 2021. Ele matou três crianças e duas professoras. Segundo informações da Polícia Civil, ele portava um facão e golpeou alunos e professores ao entrar no local.

Outras três crianças e uma funcionária também ficaram feridas e foram encaminhadas ao hospital de Saudades.

2019 – julho – Caraí/MG 
No dia 7 de novembro de 2019, um aluno de 17 anos invadiu uma sala de aula da Escola Estadual Orlando TAvares no município mineiro de Caraí. Ele disparou e feriu dois estudantes.

2019 – março de 2019 – Suzano/SP 
Um ataque na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, deixou dez mortos, incluindo os dois atiradores, e 11 feridos.

Os autores do massacre, Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, e G.T.M., de 17, eram ex-alunos da instituição.

Um dos atiradores acabou matando o comparsa e depois cometeu suicídio.

2018 – setembro – Medianeira/PR
Um estudante de 15 anos do ensino médio pegou uma arma e atirou nos colegas em uma escola estadual da pacata cidade de Medianeira, a 60 quilômetros de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná.

Tinha uma lista para livrar os amigos – no fim, dois acabaram baleados. O atentado aconteceu no Colégio Estadual João Manoel Mondrone. Segundo a polícia, o autor do ataque seria alvo de bullying na escola.

2017 – outubro – Goiânia/GO
Um adolescente de 14 anos matou a tiros dois colegas e feriu outros quatro em uma sala de aula do Colégio Goyases, em Goiânia em 20 de outubro de 2017.

Filho de policiais militares, ele usou a arma da mãe, que havia levado à escola particular escondida na mochila. Segundo a Polícia Civil, o rapaz sofria bullying e o crime foi premeditado.

2012 – abril – Santa Rita/PB
Dois jovens chegaram à Escola Estadual Enéas Carvalho, em Santa Rita (Região Metropolitana de João Pessoa), em uma moto e invadiram o pátio. Eles usavam uniforme da escola. Um deles atirou contra um adolescente de 15 anos. O atirador disparou outras cinco vezes, atingindo duas garotas.

Uma delas, de 17 anos, foi baleada no braço direito. A outra, levou um tiro no pé esquerdo. De acordo com a polícia, o motivo do crime teria sido ciúme.

2011 – setembro – São Caetano do Sul/SP 
Um estudante de apenas 10 anos atirou na professora e se matou em seguida na Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, no ABC paulista.

Ele usou uma arma do pai, um guarda civil municipal. De acordo com colegas e funcionários da escola ouvidos na época, o menino era muito estudioso, inteligente e calmo.

2011 – abril – Rio de Janeiro/RJ (Realengo)
Considerado à época como o maior massacre em escolas brasileiras até então, a tragédia em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, deixou 12 crianças mortas.

O crime foi cometido por um ex-aluno de 23 anos que levou dois revólveres à Escola Municipal Tasso da Silveira e disparou contra os alunos, todos de 13 a 15 anos. Depois de invadir duas salas de aula, ele foi atingido na barriga pela polícia e disparou um tiro na própria cabeça.

2003 – janeiro – Taíuva/SP
Em 27 de janeiro, um estudante de 18 anos disparou 15 tiros contra cerca de 50 estudantes no pátio da Escola Estadual Coronel Benedito Ortiz, em Taiúva, interior do Estado. Ele usou a última bala do revólver calibre 38 para atirar na própria cabeça e morreu. O episódio não deixou vítimas fatais além do rapaz.

Bullying é apontada como principal motivo

Por mais que as motivações dos ataques em escolas tenham diversas motivações, a prática do bullying é apontada como um dos principais gatilhos que acionam os atos violentos. Segundo documento do governo federal, de dezembro de 2022:

“São normalmente associados ao bullying e situações prolongadas de exposição a processos violentos, incluindo negligências familiares, autoritarismo parental e conteúdo disseminado em redes sociais e aplicativos de trocas de mensagem”.

Em todos os casos, os assassinos eram alunos ou ex-alunos da instituição da escola invadida.

Ataques em escolas em 2023

Até o fechamento desta matéria, o Brasil teve mais um ataque letal na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, em São Paulo. Um adolescente de 13 anos matou quatro professoras e um aluno com uma fana na manhã de segunda-feira, dia 27 de março. A professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, teve uma parada cardíaca e morreu no Hospital Universitário da USP e faleceu.

No dia seguinte, terça-feira dia 28 de março, um adolescente, de 15 anos tentou um ataque com faca na Escola Municipal Manoel Cícero, na Gávea, zona sul do Rio. O jovem foi imobilizado por funcionários do colégio e acabou se ferindo na cabeça, sem gravidade. Policiais militares levaram para a delegacia de polícia que apurou que o adolescente estaria ressentido após uma suposta desilusão amorosa. Entretanto, existe a suspeita de envolvimento do adolescente com fóruns de promoção da violência na internet. Além do agressor, uma menina, que seria o alvo do agressor, foi ferida levemente.

Ataques impedidos pela polícia

Na semana anterior ao ataque a Escola Estadual Thomazia Montoro, a Interpol polícia internacional deu um alerta para sobre um novo ataque. Foi identificado a partir de rastreamento na deep web – a parte da internet que não pode ser encontrada por ferramentas de busca comuns -, e a Polícia Federal foi acionada e descobriu que um menor de 17 anos planejava um ataque à escola no Rio. Os agentes da Polícia Federal chegaram a ir à unidade de ensino do menino. No entanto, os investigadores federais descobriram que ele era menor de idade e, por isso, o caso foi transferido para a Delegacia de Proteção ao Adolescente (DPCA) e ele foi apreendido na sexta-feira (24). O jovem exibia suásticas e fazia e saudação nazista em vídeos nas redes de internet.

Já na sexta, dia 31 março, a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) cumpriu mandados de busca e apreensão em uma operação contra um possível ataque a outra escola no Rio de Janeiro. O celular de uma adolescente, de onde, segundo a polícia, partiram as ameaças, foi apreendido e tinha mensagens com menção a ataques em escolas de educação infantil e informações de que seriam adotados todos os cuidados para que o plano não fracassasse. Após a apreensão, a adolescente admitiu, em depoimento, que pensava em matar seus colegas e se suicidar logo depois. A jovem aparentemente tem problemas de relacionamento na escola, é órfã de mãe e é vítima de bullying. O Conselho Tutelar e a Secretaria Municipal de Educação foram acionados para dar apoio psicológico à adolescente

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Débora Barroso

Jornalista comunitária e colaboradora da ComCausa.