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Memória: Caso Ítalo Lopes

Na fatídica noite de 14 de setembro de 2006, a cidade de Mesquita foi abalada por um trágico acontecimento. Ítalo Lopes, conhecido como “Ita” e militante do grupo de cultura hip-hop Setor BF, perdeu a vida de maneira chocante nas mãos de dois policiais.

Por volta das 22 horas, o sargento Mário Benine e o soldado Whashington Luiz, que haviam concluído seu turno de serviço no 20º Batalhão de Polícia Militar de Mesquita, notaram um veículo Gol branco de modelo antigo com a placa dobrada circulando pela movimentada Avenida Getúlio de Moura. A suspeita em relação ao automóvel levou os policiais a comunicarem o fato ao Batalhão, que prontamente organizou um cerco. Enquanto isso, os PMs começaram a seguir discretamente o veículo.

Em determinado momento, o Gol branco adentrou uma rua transversal à avenida, seguido de perto pela viatura dos dois policiais. Os eventos seguintes ocorreram na Rua Oscar Soares, onde uma festa estava em andamento. Nesse momento, tiros ecoaram pela noite.

Ítalo Lopes era residente de Mesquita e participava da festa, que era um encontro organizado por conhecidos através da plataforma Orkut. A casa ficou lotada, e os participantes decidiram ocupar a rua. Foi então que um Gol branco com dois ocupantes parou próximo ao local, um dos indivíduos saiu do veículo e abriu fogo, direcionando seus disparos a Ítalo, que acabou sendo atingido por nove tiros, o último deles na cabeça. Os responsáveis pelo ataque fugiram rapidamente.

Logo após os tiros, os policiais Mário Benine e Whashington Luiz, que estavam rastreando o veículo suspeito, abandonaram sua viatura e se dirigiram à cena do crime. Nesse momento, várias pessoas estavam fugindo do local, incluindo Rafael Borges de Andrade, que também foi ferido, atingido no abdômen. Quando os policiais se aproximaram de Ítalo, constataram que ele já não apresentava sinais vitais. Foi então que avistaram o Gol branco dobrando a esquina.

Pouco tempo depois, os policiais receberam um aviso via telefone da sala de operações do 20º BPM de que a viatura de perseguição havia detido o veículo suspeito. Eles se dirigiram imediatamente ao local.

Os policiais militares Sérgio Luiz e Cláudio Correa estavam em uma viatura na Avenida Marques Rollo e foram informados pelo rádio sobre o veículo suspeito que estava sendo seguido por dois policiais de folga em um carro particular. Logo após, eles interceptaram o Gol branco na Rua Carlos Laerte. Os ocupantes do veículo se identificaram como policiais militares: Paulo Rogério Soares, do 16º Batalhão da Polícia Militar em Olaria, estava ao volante, enquanto André Pereira Marcelo, soldado do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), o acompanhava. Ambos foram detidos sem oferecer resistência.

Durante a revista do carro, foram encontrados um revólver calibre 38 e uma pistola 9mm sob o banco do passageiro, além de uma pistola 380 com André. Nesse momento, os policiais Mário Benine e Whashington Luiz chegaram ao local, seguidos por várias viaturas. Foi então que Sérgio Luiz e Cláudio Correa foram informados sobre o assassinato e imediatamente deram voz de prisão aos suspeitos.

“Ele trabalhava muito, não dá para medir a covardia que fizeram” – Jorge Xavier dos Passos, pai de Ita.

Ítalo Lopes, o Íta, tinha 29 anos e ia na contramão da realidade da maioria dos jovens negros e pobres da Baixada Fluminense: estava fazendo um curso de áudio-visual na CUFA (Central Única das Favelas), era conselheiro do Plano Diretor de Mesquita e militante do grupo de cultura hip hop Setor BF. Produzia no bairro Coréia, onde morava, o projeto “Coréia na Cultura”, que uma vez por ano juntava vários artistas da cena Rap.

Íta era um parceiro da ComCausa, assim como, era amigo de um monte de gente que promovia a resistência cultural a política de exclusão à qual na Baixada a população – principalmente os mais jovens – é acometida. Muito por conta disso, pelo seu jeito tranquilo, a notícia e os motivos de sua morte até hoje são um grande questionamento para todos.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa