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Centenário de Darcy Ribeiro

Nesta data fazemos memória dos cem anos de Darcy Ribeiro, que foi Antropólogo, sociólogo, escritor, historiador e político brasileiro, reconhecido pelas causas indígenas e de educação do país.

Durante o primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), Darcy Ribeiro, como vice-governador, criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal – dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio.

Darcy Ribeiro foi educador, político, etnólogo, antropólogo e escritor brasileiro. Seus estudos foram essenciais para alavancar uma nova reforma educacional no Brasil. Na área da antropologia, aprofundou na análise das comunidades indígenas. O principal conceito difundido por ele foi o de identidade cultural.

Darcy Ribeiro preocupou-se em identificar uma cultura nacional do povo brasileiro que não anulasse nenhuma das culturas presentes em nosso território e nem separasse, como em “caixas” de classificação, cada uma das diferentes culturas.

Darcy Ribeiro considerava o Brasil uma espécie de nova Roma, tropical e mestiça, por ele denominada a mais bela e luminosa província da Terra. Em As Américas e a Civilização (1970), o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) definira Povos-Novos como povos que se constituíram “pela confluência de contingentes profundamente díspares em suas características raciais, culturais e linguísticas, como um subproduto de projetos coloniais europeus”.

Sua morte:

Darcy Ribeiro pediu a extrema unção de Leonardo Boff, em uma das mais lindas visões de Deus.

Darcy – “Quero discutir com você o tema da morte, porque estou enfrentando a morte, meu grande último desafio.”

Em seguida faz Boff ler o prefácio do, então inédito, Confissões, livro no qual Darcy faz uma leitura da vida. E Boff leu o seguinte:

“Pena que a vida , tão carregada de lutas e fracassos, e vitórias, e vontade de trabalhar, seja marcada por uma profunda desesperança, porque nós voltamos, através da morte, ao pó cósmico, ao esquecimento e ficamos na memória que é curta e só de algumas pessoas, e voltamos à diluição cósmica.”

Então ao final da leitura Boff diz:

Boff – “Darcy, acho que é uma interpretação de quem vê de fora. É como você ver a borboleta, e ver o casulo. Você pode chorar pelo casulo que foi deixado para trás e ver que ele morreu. Mas você pode olhar a borboleta e dizer: “Não, ele libertou a borboleta, e ela é a esperança de vida que está dentro do casulo”.

Boff continua – “Darcy, deixa te dizer como imagino tua chegada , o teu grande encontro. Não vai ser com Deus Pai porque para você Deus tem de ser Mãe, tem de ser mulher…” (risos)

Darcy – “Então vai ser uma Deusa”

Boff – “Imagino assim: que Deus, quando você chegar lá em cima, vai te dizer com os braços abertos: “Darcy, como você custou para chegar, eu estava com uma saudade louca de você, finalmente você veio, você não queria vir, você teve de vir e agora chegou.” E te abraça, te afaga em seu seio, e te leva de abraço em abraço, de festa em festa”

Darcy – “De farra em farra…” (risos)

Boff – “Isso será pela eternidade afora”

Boff narra que nesse momento Darcy parou, olhou de lado, como que o interrogando e disse:

Darcy – “Como gostaria que fosse verdade! Minha mãe morreu cheia de fé e morreu tranqüila, eu invejo você, que é um homem inteligente e de fé. Eu não tenho fé. Como gostaria que fosse verdade”

Boff conta que aí lhe correu uma lágrima e ele ficou silencioso, estremeceu e teve um acesso de diabetes, uma queda muito grande de pressão e tiveram de levá-lo.

Boff – “Darcy não se preocupe com a fé, porque Deus não se incomoda com a fé. pelos critérios de Jesus, quem tem amor tem tudo. Então quando agente chega na tarde da vida como você, que atendeu os famintos como você, crianças abandonadas como você, índios marginalizados como você; negros que você defendeu, as mulheres oprimidas, desde o neolítico ninguém louvou a mulher quanto você – quem fez isso ganha tudo, porque optou pelos últimos, por aqueles que estavam em necessidade. Quem fez isso tem o Reino, tem a eternidade, tem Deus. E você só fez isso.”

Darcy respirou e disse: “Puxa, mas tem de ser verdade”.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa