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Memória: Onze anos das chuvas em Xerém de 2013

No final da tarde do dia 03 de janeiro de 2013, uma terça-feira, ocorreu a primeira chuva na região de Xerém, distrito de Duque de Caxias, localizado aproximadamente 50 km do centro do Rio de Janeiro, próximo a Petrópolis. À 01h da madrugada, chuvas intensas se repetiram, seguidas por outra “tromba d’água” por volta das 03h, inundando vários sub-bairros de Xerém.

Na quinta-feira, dia 05, no final da manhã, a ComCausa estabeleceu contato com parceiros que assumiram funções na Secretaria Municipal de Segurança de Caxias e de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do Rio. Esses parceiros, de forma extra-oficial, forneceram informações sobre o planejamento para ação na região por parte do Estado e município.

A prefeitura direcionou funcionários e equipamentos das áreas de Assistência Social, Defesa Civil, Obras, Segurança, Saúde, entre outros, para prestar apoio na região. Além disso, foi mobilizado maquinário e veículos que foram “encontrados” após a mudança de governo. Adicionalmente, esforços foram feitos para estruturar postos de saúde, escolas e creches na região, visando atender à crescente demanda. No entanto, a cidade enfrentava problemas, pois a prefeitura estava sucateada e o lixo não era recolhido há três meses.

O governador criou um gabinete envolvendo Assistência Social, Segurança, Saúde (com a Defesa Civil e Bombeiros vinculados), polícias estaduais, Obras, Trabalho, Secretaria Estadual do Ambiente (responsável pela “manutenção” dos rios), DER (equipamentos), entre outros, e deslocou esse aparato para a região. Na manhã do dia 04, por volta das 9h, segundo informações de colegas da imprensa (O Dia e Extra), já havia um grande contingente para prestar socorro aos afetados. As áreas mais atingidas permaneceram fechadas na quinta e sexta-feira (dias 04 e 05), sendo possível acessá-las somente no sábado.

Em 05 de janeiro, a ComCausa foi até Xerém no final da manhã, enfrentando dificuldades devido ao congestionamento que começava no acesso da Washington Luiz. Ao chegar, tentaram estabelecer contato com os órgãos públicos presentes, mas sem sucesso.

A ComCausa priorizou: 1) Registrar a extensão dos danos; 2) Obter informações sobre óbitos e desaparecidos não divulgados; 3) Registrar estruturas de apoio dos governos e da sociedade; 4) Avaliar as condições de abrigamento; 5) Estabelecer relações com pessoas e instituições locais; 6) Verificar as condições da saúde pública; 7) Obter informações sobre possíveis processos de indenizações, documentos, etc.

Após conversas principalmente com moradores e comerciantes, foi possível mapear o território e visitar quatro áreas. Os bairros mais afetados, por grau de intensidade, foram Café Torrado (e arredores), Vila Verde (conhecido como Av Venâncio), Mantiqueira e áreas próximas à praça de Xerém e Pedreira. O bairro Igreja Velha, na entrada do distrito, também foi visitado, onde ocorreram alagamentos, mas com danos estruturais menores.

Embora tenham surgido denúncias de moradores sobre óbitos e desaparecidos não divulgados, os relatos apresentavam pouca consistência e recorrência, não se consolidando ao longo do tempo.

Óbitos: 02 pessoas.

Desabrigados: Aproximadamente 200 pessoas.

Atingidos: Aproximadamente 100 mil pessoas.

A resposta eficiente da Prefeitura e do Governo do Estado incluiu a disponibilização de maquinário para desobstrução e limpeza, bem como um aparato robusto de apoio social e de saúde. O Judiciário também desempenhou um papel importante no fornecimento do primeiro apoio aos afetados. Além disso, a comunidade recebeu significativo auxílio de voluntários e moradores menos impactados, que demonstraram solidariedade, especialmente na assistência aos desabrigados.

Numerosos moradores abriram suas casas para acolher vizinhos, e foram estabelecidos sete abrigos em Xerém em instituições como igrejas. A ComCausa visitou dois desses abrigos, o da Igreja Metodista Wesleyana, localizado na estrada principal de Xerém, e o da Igreja Batista, próximo ao bairro Café Queimado. Apesar de as condições não serem ideais, considerando a urgência da situação, foram relativamente satisfatórias. Foi informado que a prefeitura designou segurança, gerentes de saúde e assistência social em cada local que funciona como abrigo.

A ComCausa estabeleceu comunicação direta com todos os representantes dos locais visitados, além de conectar-se com moradores e comerciantes engajados (serão organizados e enviados os contatos), contribuindo posteriormente para a logística a fim de recebermos apoio de maneira mais eficaz. Contudo, houve pouco sucesso na interação com representantes do poder público.

No que diz respeito à saúde da população, estão sendo implementadas medidas preventivas contra surtos de leptospirose, hepatite e diarreia, comuns nesse tipo de situação. Além da vacinação, tanto o Governo do Estado quanto o municipal disponibilizaram um kit com antibióticos, hipoclorito de sódio, álcool, entre outros, para atender 500 pessoas. Foram também distribuídos 3 mil comprimidos de antibióticos contra leptospirose e estabelecido um “centro de hidratação” para pacientes com dengue, com capacidade para 300 pessoas.

Apesar dos danos, este episódio evidenciou como a sociedade organizada, em colaboração com o poder público, pode oferecer uma resposta rápida e eficaz diante de eventos naturais como os que infelizmente o Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo terão que enfrentar nos próximos tempos.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa