ComCausa visita novo Memorial do Holocausto no Rio

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ComCausa visita novo Memorial do Holocausto no Rio
ComCausa visita novo Memorial do Holocausto no Rio

Na semana do Dia Internacional em Lembrança do Holocausto, a ComCausa visitou o novo memorial às vítimas que foi inaugurado no último dia 19 de janeiro.

Localizado no topo do Morro do Pasmado, em Botafogo, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, o Memorial às Vítimas do Holocausto é dividido em dois espaços. O superior onde existe um totem de 20 metros que faz referência aos dez mandamentos, destacando o ensinamento “não matarás”, e a parte inferior onde fica a galeria de exibição.

Na parte inferior, foi montado um roteiro dividido em salas, que mostram gradualmente como a onda de ódio propagada pelo nazismo, na primeira metade do século XX, impactou na história de tantos seres humanos.

Após a entrada com a projeção da chama da vida e os dizeres de sobreviventes do Holocausto, segue à direita a primeira sala do roteiro que expõe fotos coloridas onde mostra como era a vida das pessoas, suas famílias, a diversão, o trabalho, ou seja, o cotidiano antes das perseguições.

Na sequência da exposição é mostrado quando o governo alemão iniciou a sua gradual política de segregação a grupos que consideravam dispensáveis da humanidade. Prioritariamente judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de jeová, maçons, negros, deficientes físicos e mentais. Iniciando pelos inimigos internos, integrantes do próprio povo alemão, e depois espalhando a política genocida pelo mundo. Neste momento, ao seguir a galeria circular da exposição, as fotos e até a iluminação da sala, ficam sem cor. A partir daí é exposto os horrores praticados na escalada da violência até chegar aos campos de extermínio. A primeira vez na história que um governo montou uma estrutura industrial para matar pessoas, inclusive seus próprios cidadãos. Ao final deste trecho da sala, que é margeada pela reprodução de um trilho de trem, se inicia a galeria mostrando a libertação, o processo de responsabilização e a retomada de vidas daqueles que conseguiram sobreviver ao horror.

Nomes e rostos

Um dos destaques do memorial é que houve a preocupação, colocada de forma interativa com os visitantes, em destacar rostos, nomes e histórias daqueles que pereceram, dos que conseguiram resistir e sobreviver a uma das maiores atrocidades da humanidade.

Holocausto e a atual extrema direita

As visitas podem ser feitas com a apresentação de guias que, por mais que tentassem ser isentos, acabavam fazendo, mesmo que de forma velada, uma comparação da história que levou até esse genocídio ao que está acontecendo em governos embalados pela onda de extrema direita fascista, que utiliza praticamente as mesmas metodologias, hoje facilitada pelo acesso da comunicação por internet.

Impossível não se fazer a analogia, pois a ascensão ao governo da Alemanha por Adolf Hitler, e as pessoas que com ele cometeram tantas atrocidades, se deu de forma democrática através do voto da população, muitos destes que votaram para a ascensão do nazismo, depois foram vítimas de sua necropolítica. Neste processo, a manipulação e direcionamento do ódio a grupos específicos através da divulgação sistemática de fake news – sim, já existia -, a promoção e legitimação da violência do “nós contra eles”, é uma estratégia que infelizmente vemos se repetir no Brasil e em outros países do mundo.

Nazismo e governo Bolsonaro

Na exposição, o guia citou a antropóloga Adriana Dias, uma das maiores autoridades em neonazismo no Brasil, que encontrou uma carta e banner que levava a site de Bolsonaro, em 2004, fazendo assim uma ligação direta da ideia de que a base bolsonarista utiliza é o neonazismo.

Seu trabalho de pesquisa também identificou mais de 300 células neonazistas espalhadas pelo Brasil, que reúnem cerca de 5 mil extremistas. Em entrevista para a Deutsche Welle em 2019, ela deu o alarme para o problema.

Por coincidência, na mesma tarde que visitávamos o Memorial às Vítimas do Holocausto, Adriana Dias nos deixava, perdia a luta para o câncer, mas deixou com seu trabalho – como o Memorial do Holocausto -, o alarme de que a história pode se repetir como tragédia.

Morre a antropóloga Adriana Dias

Serviço
Memorial às Vítimas do Holocausto
Endereço: Alameda Embaixador Sanchez Gavito, s/n – Mirante do Pasmado, Botafogo.
Acesso pela Rua General Severiano.

Como chegar
Horário de funcionamento da exposição:
De quinta a domingo, das 10h às 18h (última entrada às 17h)
Classificação indicativa: 12 anos
Horário de funcionamento do Parque Yitzhak Rabin: Todos os dias, de 8h às 22h

“O oposto do amor não é nenhum ódio, é a indiferença. O oposto de arte não é a feiura, é a indiferença. O oposto de fé não é nenhuma heresia, é a indiferença. E o oposto da vida não é a morte, é a indiferença”.

Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto e ganhador do Prêmio Nobel da Paz.

Histórico do projeto
O Memorial às Vítimas do Holocausto, localizado no Morro do Pasmado, no Rio de Janeiro, começou a ser idealizado há cerca de 30 anos pelo então deputado estadual Gérson Bergher Z”L (1925-2016). Sua esposa, a Vereadora Teresa Bergher, deu continuidade à realização do projeto, e é autora da Lei Municipal nº6322 de 17 de janeiro de 2018, que possibilitou a construção do espaço cultural. Em 2017, foi criada a Associação Memorial do Holocausto, entidade sem fins lucrativos, responsável pela gestão de doações da iniciativa privada, planejamento e execução do Memorial. Após a aprovação do Memorial pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a Prefeitura fez a cessão de uso do espaço para a Associação.

O marco inicial do projeto é o Monumento às Vítimas do Holocausto, um monumento com cerca de 20 metros de altura, inaugurado em dezembro de 2020, no Mirante do Pasmado, no Parque Yitzhak Rabin. O monumento é uma criação do arquiteto André Orioli, que venceu um concurso promovido pela Prefeitura do Rio em parceria com o Instituto dos Arquitetos do Brasil, em 1998. O projeto de Orioli já previa área de exposições no subsolo do Monumento, mas contou com a colaboração de outras entidades parceiras até chegar à construção.

O espaço interno do Memorial às Vítimas do Holocausto, com cerca de 1600 metros quadrados, se integra à àrea externa e abrirá para o público no início de 2023. Contou com o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) para a concepção curatorial e do programa educativo, implantação da museografia, além do desenvolvimento do modelo de gestão e captação de recursos. O subsolo do Memorial contempla uma exposição de longa duração dividida em quatro áreas, café e espaço para outras atividades culturais e educativas.

A obra foi realizada numa parceria entre a Prefeitura, a Associação Cultural Memorial do Holocausto (ACMH) e a iniciativa privada.

Sobre a Associação
Criada em 2017, a Associação Cultural Memorial do Holocausto (ACMH), entidade sem fins lucrativos, que tem como presidente Alberto David Klein e presidente de Honra a vereadora Teresa Bergher, foi criada com o intuito de coordenar a implantação e a gestão do projeto. Através de uma gestão direta, contratou e coordenou as obras civis, e em fase posterior, contratou o IDG para o desenvolvimento do projeto curatorial e museográfico da exposição de longa duração e a formulação de um plano de gestão. Concluída esta etapa, hoje a ACMH é a gestora executiva do Memorial.

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