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“CPX” três letras uma sigla e a partir dela um mar de desrespeito e violência

Por Eduardo Carvalho – Colunista do UOL

‘CPX”. Três letras. Uma sigla. E a partir dela, um mar de desrespeito e violência. O motivo? A usurpação da imagem do que seria um simples boné, mas não é. Na cabeça do ex-presidente e candidato Lula (PT), objeto da mais suja captação e produção de fake news.

Foi num ato. No COMPLEXO do Alemão. E por isso, ”CPX” para quem é cria do Rio ou mora em uma das comunidades do conjunto de favelas (sigla que até mesmo a polícia usa para geolocalizar a região e tantas outras). PUBLICIDADE Onde o que se viu foram ruas tomadas, e dessa vez não por caveirões blindados, balas e viaturas, agentes de segurança armados ou civis. Mas sim pelo povo, frente a um líder, esperançando um desejo de país melhor

Uma mobilização que só foi possível graças à coordenação dos ativistas Rene Silva e Camila Moradia, além de tantos outros parceiros, colegas de movimentos e lutas, representando cada um a sua quebrada, num ato mais que simbólico. Tão significativo que por sua vez se fez importante.

Quatro anos depois, há duas semanas da eleição, reunindo líderes progressistas, que ouviram, enfim, o clamor feito por Mano Brown numa amarga antevéspera do voto. Na Lapa. 2018.

Você deve ter visto em vídeo ou alguém deve ter citado. A maior autocrítica/crítica feita, e que ainda hoje não havia sido digerida por quem pensa no espectro. ”Volta pra base”, bradou o rapper naquele momento.

E assim fez a História mudar. Um retorno para onde tudo começa: a favela. Lugar de potência, onde reside a força-motriz que movimenta o país. Gente de bem, honesta, trabalhadora, pacífica e feliz. Que nem eu, nascido e crescido em favela. Como minha mãe, Dona Lúcia, e tantos outros que fazem desse lugar o melhor lugar.

Pessoas que não suportam mais ter suas vidas negligenciadas e esquecidas. Pessoas que só são lembradas quando atravessadas pelo racismo que organiza a violência, e que torna todos os cidadãos de favelas pessoas ligadas ao tráfico. O que não era nem para ser discutido se não fosse pelo viés de segurança pública, dentro de uma política de drogas. Uma política real, não a genocida, que vigora e ganha ainda mais densidade

Pessoas que não suportam mais ter suas vidas negligenciadas e esquecidas. Pessoas que só são lembradas quando atravessadas pelo racismo que organiza a violência, e que torna todos os cidadãos de favelas pessoas ligadas ao tráfico. O que não era nem para ser discutido se não fosse pelo viés de segurança pública, dentro de uma política de drogas. Uma política real, não a genocida, que vigora e ganha ainda mais densidade.

Na tristeza que me toma, quero crer no dia que vamos ser felizes correndo nos becos, sem preocupação. Andando tranquilamente na favela onde nascemos, compartilhando o orgulho e consciência de que o pobre e favelado têm seu lugar

E antes que me esqueça, segue a lista das siglas de outras favelas. Para quem tiver dúvidas, basta conhecer alguma delas.

CDD – Cidade de Deus (comunidade do Rio de Janeiro)

BXD – Baixada (região do Rio do Janeiro)

PPG – Pavão-Pavãozinho e Galo (comunidade do Rio de Janeiro)

KGL – Catete, Glória e Lapa (bairros do Rio de Janeiro)

TTK – Catete (bairro do Rio de Janeiro)

VDG – Vidigal (comunidade do Rio de Janeiro)

PU – Parque União (comunidade dentro do Complexo da Maré)

VP – Vila da Penha (bairro do Rio de Janeiro)

VJ – Vila do João (comunidade dentro do Complexo da Maré)

BS – Baixa do Sapateiro (comunidade dentro do Complexo da Maré)

Jaca – Jacaré (comunidade do Rio de Janeiro).

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa