Crianças com direitos

Damian Wayne e Alienação Parental

A primeira aparição do 5º Robin (sim, tiveram outros antes dele, uma menina, inclusive. Mas isso fica pra outro momento) ocorreu em 1987, como um bebê na Graphic Novel Batman: O Filho do Demônio. Se tornou em um personagem de fato quando foi reintroduzido na cronologia do Morcego em setembro de 2006 (Batman #655), pelas mãos de Grant Morrison (Asilo Arkham (1989); Os Novos X-Men (2001); Grandes Astros Superman (2006)), um dos maiores roteiristas da nona arte. O primeiro contato dos leitores com o menino não foi um dos melhores, nos apresentando algo muito parecido com o que vemos nas animações.

Damian era uma criança que foi treinada desde o seu nascimento para ser uma arma mortal por sua mãe, Talia Al Ghul, e a Liga dos Assassinos. Talia é a filha de um dos mais notáveis e inteligentes inimigos do Batman, Ra’s Al Ghul (A Cabeça do Demônio).

Damian se mostra um menino arrogante, teimoso, violento e sem nenhum talento para trabalho em equipe. É constantemente testado em sua moral e ética, até então questionáveis. Bruce tem receio do que Damian possa se tornar sem uma bússola moral. Ele sabe de seu potencial, tanto pro bem quanto para o mal. O pequeno Robin é um assassino em essência.
Mas Damian é uma criança. Uma criança que nunca conheceu o afeto e que está tentando achar o seu lugar no mundo ao lado de seu pai. Pai esse que nunca conheceu, até que a mãe decidisse que era o momento certo. Um menino que tinha uma visão deturpada do pai, o considerando fraco pela missão que tomou pra si e pelo modo que decidiu executar essa missão: sem matar.
A Alienação Parental é um ato promovido ou induzido por um dos genitores, avós ou aqueles que possuam a autoridade, guarda ou vigilância da criança, para que o menor repudie o outro genitor, causando prejuízo ao estabelecimento ou manutenção de vínculo com este, consequentemente interferindo na formação psicológica da criança ou do adolescente.
Trata-se de um abuso psicológico pelo qual o alienador pratica atos capazes de manipular a consciência de seu filho (alienado), impedindo, dificultando ou destruindo vínculos com o outro genitor. Dentre as alienações estão: dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar.

Partindo desse princípio, podemos perceber que o personagem da DC Comics, Bruce Wayne, mais conhecido como o Batman, que faz parte da Trindade, junto com Mulher Maravilha e Superman, sofreu uma das mais brutais alienações: o fato de não saber a existência do próprio filho. E no decorrer das histórias nós percebemos que uma dinâmica se desenvolve entre os personagens, ambos tentando recuperar o que lhes foi tomado, tendo sido negada a oportunidade da convivência de pai e filho.

Lendo as histórias, percebemos que Damian foi criado como uma ferramenta para dar prosseguimento aos desejos do avô, de dominar a terra eliminando dois terços da população. O próprio personagem diz ” minha mãe nunca se importou comigo. Administrar um império do crime não deixa muito tempo para afeto.”

Podemos perceber também que a violência da alienação causou cicatrizes psicológicas no menino que até os dias atuais aparecem nas HQs. Damian luta o tempo todo contra a violência que foi plantado na sua personalidade pela mãe e pelo avô.

Nas HQs Bruce e Damon tiveram a chance, mesmo com todas as dificuldades, de estabelecer um laço de afeto, convivência e amor. Esperamos que todos os genitores que sofrem alienação parental possam ter esse tipo de oportunidade. Torcemos para que a ficção seja transposta para a realidade.

Fontes: Torre da Vigilância

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Alexandre Paiva

Professor de História e colaborador da ComCausa