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Memória: Dia da Morte de Santa Dulce dos Pobres

No dia 13 de março de 1992, morreu Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes conhecida como irmã Dulce, a Santa Dulce dos pobres.

Maria Rita, muito devota de Santo Antônio, era filha de dona Dulce Maria de Souza Brito e do doutor Augusto Lopes Pontes, dentista e professor da Universidade Federal da Bahia, aos treze anos vendo na carne a vida dos empobrecidos da Bahia acompanhada da sua tia, decidiu que queria ser religiosa, entendeu que aquele era o sinal que ela pedia a Deus pela sua vocação, por ser muito nova foi recusada pelo Convento de Santa Clara do Desterro.

No bairro de Nazaré, na Rua da Independência, 61, a menina foi transformando a casa da família num centro de atendimento à pessoas necessitadas. A casa ficou conhecida como “a portaria de São Francisco”, dado ao tanto de pessoas que se aglomeravam na sua porta. Com o consentimento da família e o apoio de sua irmã, Dona Dulcinha, Maria Rita acolhia a todos.

Em 1933 logo após se formar professora primária (1932), Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, após seis meses de noviciado, ela fez sua profissão de fé e votos perpétuos, tomando o hábito de freira e recebendo o nome de Irmã Dulce, em homenagem a sua mãe, aos 19 anos de idade. Em seguida (1934), voltou a Salvador. Sua primeira missão como religiosa foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, na Cidade Baixa, além de também assistir as comunidades pobres da região.

Irmã Dulce foi uma das pioneiras na causa operaria dentro da
Igreja Católica, com Frei Hildebrando Kruthanp, fundou a União Operária São Francisco, primeiro movimento cristão operário da Bahia, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações. Tinham como finalidade a difusão das cooperativas, a promoção cultural e social dos operários e a defesa dos seus direitos. E o Colégio Santo Antônio, voltado para os operários e seus filhos.

Para abrigar doentes que recolhia nas ruas, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha do Rato, em Salvador. Depois de ser expulsa do lugar, teve que peregrinar durante uma década, instalando os doentes em vários lugares, até transformar em albergue o galinheiro do Convento de Santo Antônio, que mais tarde deu origem ao Hospital Santo Antônio, centro de um complexo médico, social e educacional que continua atendendo aos pobres. Mesmo com a saúde frágil, Irmã Dulce construiu e manteve uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país, as Obras Sociais Irmã Dulce.

Por trinta anos dormiu em uma cadeira de madeira, cumprindo a promessa feita em 1956 para que sua irmã Dulce sobrevivesse a uma gravidez de alto risco.

Em 1980, durante a primeira visita do Papa João Paulo II ao Brasil, Irmã Dulce foi convidada a subir ao altar para receber uma bênção especial. O Papa retirou do bolso um rosário e ofereceu a ela dizendo: “Continue, Irmã Dulce, continue”

Em 1988, foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz, pelo então presidente do Brasil José Sarney, com o apoio da rainha Silvia da Suécia.

Em 20 de outubro de 1991, recebe no convento, em seu leito de morte, a segunda visita do Papa João Paulo II ao Brasil para receber a bênção e a extrema unção.

Em 2000, foi distinguida pelo Papa João Paulo II com o título de Serva de Deus. O processo de beatificação de Irmã Dulce tramitou na Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano.

O “anjo bom da Bahia” morreu em seu quarto, de causas naturais, aos setenta e sete anos, às 16h45 do dia 13 de março de 1992, ao lado de pessoas queridas por ela, como as irmãs do convento. Seu corpo foi sepultado no alto do Santo Cristo, na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia e depois transferido para a Capela do Hospital Santo Antônio, centro das Obras Sociais Irmã Dulce.

Beatificação e canonização

Irmã Dulce foi declarada venerável pela Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano em 21 de janeiro de 2009, deixando-a mais próxima da beatificação. Em 3 de abril do mesmo ano, o Papa Bento XVI aprovou o decreto de reconhecimento de suas virtudes heroicas. Em 9 de junho de 2010, o corpo de Irmã Dulce foi exumado, velado e sepultado novamente, como último estágio do processo de beatificação. Em 27 de outubro do mesmo ano, o cardeal arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Geraldo Majella Agnelo anunciou a beatificação da religiosa, em uma coletiva de imprensa realizada na sede das Obras Sociais Irmã Dulce, tornando-a a primeira bem-aventurada da Bahia. O anúncio foi sucedido pelo decreto em 10 de dezembro de 2010 e aconteceu após o reconhecimento de um milagre pela intercessão da religiosa na recuperação de uma mulher sergipana, que havia sido desenganada pelos médicos após sofrer uma hemorragia durante o parto.

No dia 22 de maio de 2011, Irmã Dulce foi beatificada em Salvador, e passou a ser reconhecida como “Bem-Aventurada Dulce dos Pobres”. A Solene Eucaristia de Beatificação foi presidida pelo enviado especial do Papa Bento XVI, Dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador. Nessa mesma solenidade foi declarado o dia 13 de agosto como a data de sua festa litúrgica, que é comemorada em Salvador, e em pelo menos 28 igrejas e capelas de outros estados. Nesse dia, em 1933, a religiosa fez sua profissão de fé e votos perpétuos, tornando-se freira. A data também é comemorada pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, mas sua festa litúrgica é celebrada em 13 de março nessa denominação.

Em 13 de maio de 2019, o Vaticano reconheceu um segundo milagre de Irmã Dulce, a cura de uma pessoa cega. Com isso, a beata poderia ser canonizada. Quase dois meses depois, em 1 de julho, a Santa Sé anunciou que a data de canonização seria 13 de outubro do mesmo ano, no Vaticano. O rito de canonização ocorreu na celebração da missa dominical de 13 de outubro de 2019 no Vaticano pelo Papa Francisco, e além de irmã Dulce, que recebeu o título canônico de Santa Dulce dos Pobres, outros quatro beatos de nacionalidades diferentes foram canonizados. Na homilia da celebração, Francisco exaltou que os cinco beatos foram canonizados por se dedicarem ao serviço dos mais pobres na vida religiosa, fazendo um “caminho de amor nas periferias existenciais do mundo”. Santa Dulce dos Pobres tornou-se a primeira mulher comprovadamente nascida no Brasil a ser canonizada, e a 37ª santa brasileira.

Logo depois da canonização, foi criado pelo bispo auxiliar de Salvador, dom Marco Eugênio Galrão, o primeiro santuário do mundo dedicado à santa, o Santuário Santa Dulce dos Pobres, cujo orago anterior era Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no bairro Roma, em Salvador. Simultaneamente também foi criada a primeira paróquia do mundo dedicada a Santa Dulce, a Paróquia de Santa Dulce dos Pobres, no bairro do Saboeiro, em Salvador. A criação da paróquia deu-se durante a celebração da missa, presidida pelo bispo auxiliar de Salvador dom Estevam dos Santos.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa