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Documentário “Casa de saúde Dr. Eiras – A história”

O minidocumentário ‘Casa de saúde Dr. Eiras – A história’ está disponível em todas as plataformas digitais.

O filme é um projeto de conclusão de curso de jornalismo idealizado por Luana Rodrigues, em parceria com Maurício Campelo, o documentário retrata a história do manicômio Dr. Eiras, em Paracambi.

“Agradeço toda palavra de apoio, muito obrigada aos entrevistados, as autoridades responsáveis, pelo nosso orientador Raphael Torres, por nossos familiares e amigos”. relata Luana Rodrigues.

Fundada em 1963, o Dr. Eiras de Paracambi era uma filial da Casa de Saúde Dr. Eiras de Botafogo e recebia exclusivamente pacientes psiquiátrica com problemas crônicos, os classificados na época como “sem possibilidades terapêuticas”. O hospital foi criado como uma entidade privada e prestava assistência a pacientes conveniados ao antigo sistema de previdência social.

A história do Dr. Eiras era a personificação do estigma e exclusão de pessoas em sofrimento psíquico grave, em nome de pretensos tratamentos. Localizado há cerca de 90 Km do centro da capital do Rio de Janeiro, se tornou – como a maioria das unidades desta finalidade no século 20 -, como depósitos de gente, um “buraco negro” de pessoas em sofrimento mental.

Luana Rodrigues é morada da Baixada Fluminense e se sentiu motivada a realizar uma pesquisa aprofundada sobre o hospital psiquiátrico. Ela relata que durante suas pesquisas, observou que existem poucos artigos e matérias que relatam o caso.

Assistam com muito carinho, pois falar sobre um tema tão denso como “Políticas Públicas de Saúde direcionadas a pessoas com transtornos mentais” foi mergulhar em vivências fortes, difíceis e nos transformou! – finaliza.

Dez anos do fechamento do hospital psiquiátrico Dr Eiras

Conheça Luana Rodrigues e sua motivação para o documentário:

Eu sou Luana Rodrigues, 30 anos, formanda em jornalismo, e sou do distrito de Engenheiro Pedreira em Japeri, oriunda do bairro Mucajá. Cresci com dois lados da família apresentando transtornos mentais, a parte do meu pai com minha avó Simiana, esquizofrênica. Ela não nos reconhecia, não era a avó que meus amigos na infância descrevia como a deles… Era um corpo quase que “sem alma”, aprendi a lidar, ela faleceu na minha adolescência, mas eu ainda não entenderia o que era essa pequena faísca que se alastrava pela família paterna e temos em cada um desenvolvido outros transtornos.

Na família da minha mãe, minha tia Eliane, síndrome de Down. Os médicos não davam expectativa de vida além dos 20 anos, apenas pela condição dela. Ela viveu mais de 40 anos, mas não teve acesso há muitos direitos, como saúde, educação, convivência com outras pessoas como ela. Meus avós não puderam fazer muito, eram idosos, e ela além da síndrome, ela possuía alguns transtornos que a deixavam agressiva, ao ponto de deixar minha avó acordada durante três dias!

Ela agredia crianças, quebrava tudo que visse pela frente, o organismo driblava as fortes medicações e ela virava noites agitada. Quando meus avós falecerem, minha mãe ficou com a tutela dela, ela sempre a teve mais do que uma irmã, era uma filha! Desde pequena eu acompanhei minha mãe tendo que ir ficar com ela quando não havia ninguém pra olhar, dividindo a tarefa com meu tio que era solteiro e morava com ela.

Meu tio precisou sair da cidade a trabalho e minha tia veio morar em nossa casa, fizemos um quarto pra ela, tinha sempre alguém que pagávamos com o pouco do benefício dela pra tomar conta, mas geralmente dividíamos entre nós a tarefa de cuidar dela.

Minha mãe, meu irmão, meu pai e eu. Muitas pessoas não aguentavam ficar com ela, outras se afeiçoaram que mesmo depois de não trabalhar mais aqui, vinha visitá-la. Comecei minha vida adulta educando minha tia, eu era a única que ela respeitava, mas era uma dura missão. Eu não compreendia ainda como isso era sistêmico na sociedade, então nessa vivência eu aprendi com ela que eu precisava além de empatia, exercer a defesa dela.

Escolhi jornalismo, pois comunicação é minha paixão. Me comuniquei através de maquiagem, teatro, figurino, moda, dança, audiovisual. Com este documentário, eu mais uma vez além de narrar um fato tão forte da vida dessas pessoas, expresso minha comunicação.

Foi um louvável 10 para minha conclusão na graduação, mas que este documentário tenha fins de conscientização, retratação, dar voz aqueles que a tiveram negada. É meu modo de expressar gratidão por hoje entender o que aconteceu nesse sistema manicomial, entrar pra luta, defender a eles, defender aos meus.

A ignorância, o abandono, não tolero, com a consciência que obtive, pude ver que com afeto e estruturas sociais, todos nós podemos viver em conjunto!

Agradeço demais a cada pessoa que contribuiu com esse trabalho, ele foi muito mais que minha forma de obter um diploma. Foi abrir uma página obscura da história, conhecer seus elementos e não pararei por aqui. Pretendo continuar a pesquisa, além de levantar dados, chegar a mais depoimentos, conhecer mais políticas públicas. Isso é apenas o início.

Assista ao documentário em:

Facebook: Casa de saúde Dr. Eiras – A história

Instagram: Casa de saúde Dr. Eiras – A história

YouTube: Casa de saúde Dr. Eiras – A história

 

ComCausa visita antigas instalações do Dr. Eiras em Paracambi

 

 

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Emanoelle Cavalcanti

Acadêmica de psicologia, voluntária na Ong Médicos do Mundo