Rio de Janeiro

Encontro no Rio fortalece o acolhimento a famílias enlutadas

A ComCausa participou do encontro “Reescrevendo Lutos”, realizado no centro do Rio de Janeiro e promovido pelos movimentos Mães Sem Nome e Mães Atípicas, com o apoio do mandato da vereadora Thais Ferreira. O evento reuniu principalmente mães e profissionais especializados no atendimento de famílias que enfrentam a perda de filhos e filhas, criando um espaço de acolhimento, reflexão e suporte emocional para essas pessoas em luto.

Um espaço de escuta e acolhimento

O encontro teve como principal objetivo criar um ambiente de escuta e acolhimento para mães e familiares que perderam seus entes queridos em diferentes circunstâncias, muitas delas envolvendo violência. Grupos como o Mães Sem Nome, que se destacam na luta e resistência de mães que perderam seus filhos, desempenharam um papel crucial no evento. Além disso, foram abordadas as diversas formas de violência que resultam na perda de filhos, destacando a necessidade de políticas públicas mais eficazes para apoiar essas famílias.

O evento contou com uma roda de conversa, onde cada participante teve a oportunidade de compartilhar sua história e vivência pessoal. Profissionais de saúde mental, assistência social e direito estiveram presentes, oferecendo orientações sobre como lidar com o processo de luto e o enfrentamento dessa dor. O objetivo foi não apenas acolher essas famílias, mas também refletir sobre formas de criar estruturas de apoio contínuo, para além do acolhimento inicial.

O papel do Mães Sem Nome

O movimento Mães Sem Nome nasceu da dor de mulheres que perderam seus filhos em diversos contextos. O grupo foi formado com o objetivo de dar suporte emocional às mães que enfrentam o luto pela perda violenta de seus filhos. Mais do que um momento de acolhimento, o Mães Sem Nome se tornou um símbolo de luta por justiça e memória, unindo mulheres que, muitas vezes, se sentiam invisíveis para a sociedade e para o poder público.

O nome do grupo reflete essa sensação de anonimato e invisibilidade, já que muitas dessas mães têm suas histórias silenciadas e seus casos ignorados. Além do suporte emocional, o Mães Sem Nome trabalha para pressionar as autoridades, garantindo que as mortes de seus filhos não sejam esquecidas e que as investigações e processos judiciais sejam levados adiante. Elas lutam não apenas pela justiça em nome de seus filhos, mas também por políticas públicas que previnam mais perdas e assegurem apoio contínuo a outras mães que possam enfrentar a mesma dor.

O apoio contínuo como um gesto de justiça

A vereadora Thais Ferreira, que cedeu o espaço para a realização do encontro, destacou a importância de iniciativas como essa. “Receber essas mães é mais do que um ato de acolhimento, é um gesto de justiça. Precisamos dar visibilidade às suas histórias e garantir que elas tenham o suporte emocional e jurídico necessário para enfrentar essa luta”, afirmou Thais durante o evento.

Além do espaço de acolhimento, o encontro também trouxe à tona discussões sobre a necessidade de políticas públicas voltadas para amparar essas famílias. Movimentos sociais como o Mães Sem Nome, Mães Atípicas e programas como o Acolher, da ComCausa, foram citados como exemplos de iniciativas que reforçam a importância de uma atuação conjunta e contínua.

A atuação da ComCausa no acompanhamento a longo prazo

Representando a ComCausa, estiveram presentes a jornalista Débora Barroso e o fundador da instituição, Adriano Dias. Em sua fala, Adriano ressaltou a importância de um acompanhamento contínuo para as famílias enlutadas, enfatizando que muitos casos exigem atenção a longo prazo. “Existem casos que acompanhamos há mais de 28 anos. Todos os anos, ou em momentos especiais, entramos em contato novamente com essas famílias para que elas não se sintam sozinhas”, disse Adriano. Ele também destacou que, com o passar do tempo, muitos casos que não ganham grande notoriedade acabam sendo esquecidos pela sociedade, deixando as famílias desamparadas.

Adriano reforçou que o luto é um processo complexo e, muitas vezes, a própria rede familiar não consegue mais oferecer o apoio necessário.

“Por isso, nossa função é garantir que esse suporte seja contínuo, mesmo após o atendimento inicial. É fundamental refletir sobre como cada situação foi conduzida e identificar possíveis falhas no acolhimento, para que o processo de acompanhamento seja sempre eficaz”, explicou.

Outro ponto destacado por Adriano foi o papel da comunicação na preservação da memória desses casos. “A comunicação é uma ferramenta essencial para manter vivos os casos e a luta por justiça”, disse ele, reforçando que é por meio dela que as histórias dessas vítimas continuam a ser lembradas e discutidas. A assistente social Elisabete Meneses Barbosa também esteve presente, acompanhando a ComCausa no encontro.

A criação de um memorial e o fortalecimento das redes de apoio

Durante o mês de setembro, a ComCausa está reformulando seu site e planeja criar um memorial fixo para os casos acompanhados pelo programa Acolher, que oferece suporte a familiares de vítimas de violência. A instituição também pretende ampliar essa iniciativa em parceria com outros movimentos sociais, como o Mães Sem Nome, reforçando a importância de manter viva a memória das vítimas.

“Estamos discutindo a ampliação das formas de atuação, pois entendemos que é necessário fortalecer essas redes de apoio e garantir que a memória dessas vítimas seja preservada”, afirmou Adriano Dias. Ele também ressaltou que é fundamental criar canais de diálogo entre diferentes esferas da sociedade para valorizar essas histórias e assegurar que o luto dessas famílias seja respeitado.

A criação de redes de apoio, o fortalecimento do diálogo entre a sociedade civil e o poder público, e a valorização da memória das vítimas são passos essenciais para que essas famílias não sejam esquecidas e possam encontrar formas de reconstruir suas vidas após a perda.

Veja também:

Luto Parental: Um caminho doloroso de superação

Editoria Virtuo Comunicação

Projeto Comunicando ComCausa

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa