Entrevistas

Entrevista Redson do Cólera

São Paulo, em 1979 os irmães Redson e Pierre, se jutam à Helinho e, influenciados pelo punk rock que rodava o mundo, junto com os ventos da anistia, montam uma banda com uma proposta libertária. Posteriormente se juntou a eles Val no baixo subistituindo Helinho, que até hoje integra o grupo. Muitos anos depois reencontro velhos companheiros se apresentando na Baixada Fluminense.

O que te levou a formar o Cólera?

Redson – Estávamos muito reprimidos pelo governo militar, não precisava ser um punk, bastava ser jovem, não andar dentro dos padõres e já era considerado perigo para a ditadura. Isto me levou a ser um ativista com 15 anos, a participar de passeatas… e não importava se era de bancário, estudante, professor… eu tava lá. E de tanto participar, fui aprendendo técnicas legais de derrubar cavalo com bola-de-gude e enfrentar tropa de choque.

Quando o punk surgiu para você?

– No início não parecia que dentro daquele movimento eu poderia ser um militante. Ah! Barulho, corrente, aquela doideira toda que eu não achava legal. Eu já era um pacifista, escrevia letras neste tom. Aí conheci o The Clash, a banda que me deu outra referência, pois tinha um contexto temático voltado para o ativismo.

O que mantêm até hoje a militância do Cólera?

– Eu pensei: “É isso que eu quero fazer. Passar esta ideia que nós temos que mudar de alguma forma e quero participar ”. Como eu ganhei esta semente, tenho que passar aonde eu for.

O Cólera sempre procurou ter um discurso coerente. Você atribui à esta militância anterior?

– Sim, mas também a minha diversidade de tratar com a música. Mesmo naquela época eu não escutava só punk, até hoje eu escuto tudo.

Em 1985 vocês colocaram no encarte do disco “Pela paz em todo mundo” a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. O que levou a fazer isto?

– Em meados de 83, após o que aconteceu em São Paulo [brigas entre grupos punks], e as coisas que vinham acontecendo no Brasil em relação ao movimento [difamação pela imprensa que gerou perseguição], a gente achou que estava devagar como Banda. Apesar de estar acontecendo um monte de coisas, muitos shows. Mas não estávamos fazendo tudo que a gente queria e podia alcançar. Era o que eu enxergava da minha posição como punk. Mesmo dentro do movimento tinha pessoas que impunham as coisas – e se perde direitos em uma situação como esta. Então, você tem que entender como as coisas acontecem para depois mudar para algo melhor.    Aí eu achei a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, que eu já tinha lido. Depois, com esta informação toda, corri atrás, estudei, fui ver tudo que estava por trás e pensei: Meu! É isso aí. A liberdade de ir e vir, de se expressar, respeitar o espaço do próximo. É o que todo mundo quer, mas na maioria das vezes, não sabe falar isso. Tinha toda esta informação e a gente no movimento punk ainda naquela de sair gritando “F***-se o sistema!”. No fundo, o que eu senti é que poderíamos ser o porta-voz de um movimento que estava morrendo, ali entre 85 e 86.

Então, o movimento punk estava dando uma esfriada?

– É, aí pensei que a gente não poderia parar. Todo mundo pensou que a gente fosse continuar, só que mais radicais. Mas nós nunca fomos radicais. Então, ser um porta-voz desta vontade de gritar, de liberdade, seria o que ficaríamos felizes de fazer. O [disco] “Pela Paz…” é este veículo de mensagem. E aí, com passar do tempo, 88, 89 e 90, a coisa deu uma melhorada e hoje eu vejo o “punk” de uma forma muito particular.

“Acho que hoje é parecido com a nossa época. A mola mestra de tudo isto que esta acontecendo é o que foi para nós o lema do punk: “Faça você mesmo”. Os jovens estão pegando e fazendo.” – Redson, Cólera.

Como assim?

– Nós estamos viajando o país todo e o que estamos vendo são movimentos militantes que em determinado momento foram influenciados pelo o que o Cólera falava. O que mais tenho escutado são coisas como: Ah! Aqui em Fortaleza nós começamos este movimento porquê o Cólera motivou a gente. A galera do MH2O foi inspirada pelo Cólera, hoje organizaram shows em praça pública com mais de 2 mil pessoas. São vários movimentos no Brasil inteiro que a gente sente que foram sementes que a gente plantou e deu retorno.

Como é o Punk para você hoje?

– O Punk hoje no Brasil, para mim, é um punk mais maduro, consciente, que está acontecendo de várias formas diferentes de Norte a Sul. Tem uma diversidade imensa que a gente não sabe.

Isto foi criado de uma maneira despretensiosa?

– Acho que hoje é parecido com a nossa época. A mola mestra de tudo isto que esta acontecendo é o que foi para nós o lema do punk: “Faça você mesmo”. Os jovens estão pegando e fazendo. Os jovens estão pegando e fazendo. É, natural. Acho que hoje é parecido com a nossa época. A mola mestra de tudo isto que esta acontecendo é o que foi para nós o lema do punk: “Faça você mesmo”. Os jovens estão pegando e fazendo. Os jovens estão pegando e fazendo. Como é o caso deste show aqui em Nova Iguaçu. Não viemos só tocar, somos parceiros, chegamos mais cedo para ajustar as coisas… e tudo isso é o tesão da vida.

E qual é a visão hoje de uma banda que tem mais de 27 anos de Punk, com caras com mais de 40 anos de idade, com os rumos da política do Brasil?

– Claro que você não consegue vencer tudo. É todo um emaranhado de coisas, é um mundo inteiro. Mas a gente consegue bastante coisa quebrando barreiras. Fomos a primeira banda punk do país a ir para a Europa. Fizemos um disco punk falando de paz, outro de ecologia, quebramos barreiras. Conseguimos pelo menos fazer a nossa parte. Eu acho que isto é, em geral, o que não acontece no Brasil.

Então o que falta?

– Nós temos um povo que não tem auto-estima. Isto pesa! Se as pessoas não buscam o melhor para as necessidades básicas delas, como elas vão exigir dos políticos? Então, a gente, enquanto Cólera, se sente feliz porque estamos fazendo este trabalho de conscientização, direta ou indiretamente, até com uma galerinha nova. Hoje temos um público de 12, 13 anos, até o pessoal mais velho.

Qual é a causa do Cólera?

– Falar de paz e fazer um som que todo mundo possa participar. Fazer, por exemplo, deste ambiente do show que vamos tocar daqui a pouco, uma coisa em que a pessoa realmente se envolva, participe, faça parte deste universo livre. A música é a chave que abre esta porta. Por isso, que não paramos. O Cólera esta aí até hoje por isso. A gente tem consciência de que é isto. Portanto, não tem porque não fazer.

– Entrevista de dezembro de 2006

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

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