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Greve de 1988 na CSN em Volta Redonda

A Greve de 1988, também conhecida no meio sindical como Massacre de Volta Redonda, foi um movimento levado a cabo pelos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional, situada em Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro, durante o mês de novembro do ano de 1988. Durante 17 dias, eles paralisaram a usina, fazendo reivindicações que iam desde reposição salarial a melhorias nas condições de trabalho.

Três operários morreram e 46 foram feridos na noite de 9 de novembro de 88, quando tropas do Exército e da PM invadiram a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ). Cerca de 1.200 soldados armados com fuzis automáticos e bombas de gás lacrimogêneo ocuparam a empresa.

Lembrando os trabalhadores assassinados em intervenção do Exército na greve da CSN

Dia 7 de novembro de 1988. Metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) iniciam uma greve e ocupam a Usina Presidente Vargas (UPV), em Volta Redonda (RJ).

Assim como outras categorias, os operários empunhavam bandeiras de luta como a imediata aplicação dos direitos constitucionais e a reposição salarial.

O Brasil vivia um período de aprofundamento da crise, estagnação, inflação galopante e arrocho salarial. Ganhos conquistados pelas lutas salariais eram sistematicamente corroídos pela inflação, que apresentava índices de 100% ao mês.

A política industrial e econômica do governo do ex-presidente José Sarney amparava-se em três pilares: déficit público, submissão ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e privatizações.

Aos trabalhadores, não restava outro caminho: aumentar o tom das mobilizações. Em Volta Redonda, a greve na CSN contou com a participação de mais de 30 mil metalúrgicos mais o apoio da comunidade local.

O atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, Silvio Campos, à época um dos grevistas da CSN, lembra que aquela era uma greve de ocupação, ou seja, os operários permaneceram de braços cruzados nas dependências da empresa.

Apesar de toda a pujança do movimento e a disposição do Sindicato em dialogar, a direção da Companhia optou pelo caminho do acirramento do conflito. Primeiro, veio à intervenção do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Depois, a partir da conivência do governo Sarney, o Exército.

Tragédia anunciada

No dia 9 de novembro, tropas do Exército invadiram a empresa. Três trabalhadores foram mortos a tiros (Carlos Augusto Barroso, 19 anos; Valmir Freitas Monteiro, 22 anos; e William Fernandes Leite, 23 anos. Outras 31 pessoas acabaram feridas.

A tragédia ficou conhecida como ‘massacre de Volta Redonda’. Um dos informativos da CUT publicado na época mostra a virulência da repressão contra os trabalhadores. “Soldados do exército, com tanques e armados de metralhadoras, sob ordem de um general comandado diretamente de Brasília, investiram contra a assembleia de metalúrgicos da CSN espancando e atirando. Invadiram as instalações da usina em manobra de guerra e espalhando o terror inclusive nos bairros da cidade. Mataram trabalhadores, vários estão feridos a golpes de cassetete e baioneta […] Nem nos 21 anos de ditadura militar os generais assentados na presidência da República, as forças de repressão, ousaram matar trabalhadores dentro da fábrica.”

A ditadura havia acabado, mas a repressão seguia os mesmos moldes do período anterior.

Chama para o fortalecimento da greve

Mesmo com toda truculência do Exército, Silvio Campos recorda que a morte dos companheiros foi a chama para o fortalecimento da greve. “O sentimento de raiva por ter perdido companheiros como se fossem assassinos era unânime. A disposição dos trabalhadores de não por fim ao movimento era evidente”, disse. “Assembleias aconteciam todos os dias e ao final sempre eram lembrados os nomes dos companheiros mortos”, acrescentou.

Segundo Campos, a CUT teve um papel importante no desfecho da greve. Os trabalhadores decidiram pelo fim do movimento em assembleia realizada no dia 24 de novembro após a conquista de parte das reivindicações.

Homenagem

No dia 1º de maio do ano seguinte, com a presença do então presidente nacional da CUT, Jair Meneguelli, foi construído na Praça Juarez Antunes – ex-presidente do Sindicato e um dos líderes da greve de 88 – um monumento, de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, em homenagem aos três operários.

Porém, passada algumas horas, uma bomba destruiu, em partes, a escultura. A pedido do próprio Niemeyer, a obra foi reerguida mantendo parte de sua destruição.

A banda de Punk Rock, Garotos Podres, gravou uma música sobre o Massacre de Volta Redonda, com o título “Aos Fuzilados da CSN

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa