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Madrasta presa por suspeita de envenenar enteados

Foi presa nesta sexta (20) Cíntia Mariano sob suspeita der ter provocado a morte de Fernanda e tentado matar Bruno, ambos seus enteados.

De acordo com a polícia, Cíntia Mariano Dias Cabral, de 49 anos, envenenou os Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, e o irmão Bruno, de 16 anos. A jovem Fernanda morreu no dia 28 de março, depois de ficar internada por quase duas semanas. Já Bruno apresentou sintomas semelhantes aos da Fernanda logo após almoçar na casa da madrasta. Ele também chegou a ser hospitalizado, mas ao contrário de Fernanda, sobreviveu.

Foi a mãe de Bruno, a empresária Jane Carvalho Cabral, que no dia 15 de maio, cerca de dois meses após a Fernanda ter sido hospitalizada, socorreu o menino e ouviu o relato dele indicando que a madrasta havia acrescentado alguma substância tóxica à refeição que lhe foi servida. Segundo Jane, o jovem começou a passar mal cerca de uma hora após a refeição. Ele deu entrada no Hospital Municipal Albert Schweitzer com tonteira, língua enrolada, babando e com coloração da pele branca — sintomas similares aos apresentados pela irmã dele, Fernanda, ao chegar à mesma unidade de saúde dois meses antes.  Ao perceber que o quadro clínico do filho caçula se assemelhava ao que desencadeou a morte da irmã, a mãe procurou a 33ª DP (Realengo) para prestar queixa contra a madrasta de seus dois filhos.

A partir da notícia crime na delegacia, Cíntia passou a ser investigada e os policiais chegaram à conclusão que ciúmes da relação estabelecida pelo marido com os filhos do casamento anterior estariam por trás das motivações dela em provocar a morte dos enteados. A parti daí a madrasta teve a prisão temporária decretada pela Justiça sob suspeita de homicídio qualificado e tentativa de homicídio.

Filho afirma que Cíntia disse “fez isso tudo por amor”

Em um dos depoimentos colhidos para a investigação, um dos filhos biológicos de Cíntia afirmou que ela alegou “que fez isso tudo por amor” ao companheiro, pai das vítimas. A Polícia Civil acredita que os crimes podem ter sido cometidos por ciúmes. A madrasta dos dois jovens não contou ao filho “onde adquiriu o veneno conhecido como ‘chumbinho'” e nem revelou “se teve ajuda de alguém”. Na casa da família, os agentes apreenderam, na cozinha, um frasco contendo veneno antipulgas. Também foram recolhidos, na lata de lixo, restos do feijão contaminado que teria sido servido por Cíntia ao enteado.

O filho de Cíntia também contou aos agentes que Bruno chegou a estranhar o gosto da comida, que estaria muito amargo, e passou a separar o feijão enquanto almoçava. “Foi nesse momento que Cíntia pegou o prato dele e colocou mais feijão para disfarçar as bolinhas de chumbinho e o gosto ruim da comida que ela havia colocado”, diz o depoimento.

O rapaz afirmou ainda acreditar que a mãe é “uma pessoa muito fria, que manipula os outros”, e que ela é “muito possessiva e ciumenta” com o marido. De acordo com o depoimento, o pai do estudante e de Fernanda brigou com a companheira e saiu de casa no dia seguinte ao almoço que levou o filho a passar mal.

A partir destes relatos, Cintia teve a prisão por 30 dias decretada, período no qual a polícia irá aprofundar as investigações. O prazo poderá ser prorrogado, ou a prisão ser convertida em preventiva, de acordo com a evolução do inquérito policial.

Tentativa de suicídio

Ao perceber que seria presa, Cíntia tentou se matar, mas sobreviveu e, assim que recebeu alta, foi presa e levada para a delegacia. Em depoimento na polícia, orientada por um advogado, recorreu ao direito de se pronunciar somente em juízo se recusou a prestar declarações. Entretanto, um de seus filhos biológicos relatou aos policiais que a mãe havia confidenciado a ele ter misturado chumbinho à comida de Fernanda em março e a Bruno em maio.

Provas do crime

Exames aos quais Bruno foi submetido apontaram a presença de alto nível de chumbo em seu organismo, o que indicaria a ingestão de substância semelhante ao raticida apreendido na casa da madrasta. E na primeira diligência realizada na casa de Cíntia foram recolhidos um frasco contendo chumbinho (popular veneno para matar ratos) e restos do feijão que teria sido servido por ela ao enteado adolescente. O material ainda precisa ser submetido à perícia especializada.

A polícia também apreendeu o celular de Cíntia e solicitaram a quebra de sigilo telefônico na tentativa de identificar outros indícios de que ela tenha pesquisado sobre formas de envenenamento. Também será solicitado à Justiça a exumação dos restos mortais de Fernanda para que sejam feitos exames cadavéricos que irão apontar se a morte da jovem foi provocada por envenenamento, bem como se havia em seu organismo substância semelhante à que intoxicou seu irmão bruno.

Possível ligação com outras mortes

Além das acusações que leram a sua prisão, a polícia investiga relatos apontam que tanto o ex-marido de Cintia, quanto uma ex-vizinha, que também morreram repentinamente. A investigação vai buscar indícios de que ambos tenham morrido por causa semelhante à da enteada.

Cintia tem ao menos dois filhos biológicos, frutos de um relacionamento anterior, além de duas crianças geradas com o atual marido. Dois dias após a morte de Fernanda – 29 de março -, Cíntia postou uma nova foto com a música “Estrelinha”, de Marília Mendonça. Um trecho da música diz: “Quando bater a saudade, olhe aqui pra cima. Sabe lá no céu, aquela estrelinha, que eu muitas vezes mostrei pra você? Hoje é minha morada; a minha casinha”(SIC).

“Uma mulher dessas não pode ser chamada de ser humano. Isso é um monstro”. Foi assim que a empresária Jane Carvalho Cabral se referiu à madrasta de seus dois filhos – “Ela visitou a minha filha no hospital todos os dias, como se nada tivesse acontecido. E me abraçou no enterro, embora não parecesse comovida. Mas, até então, eu pensava apenas que era o jeito dela” — conta Jane.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa