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Marli Coragem e a luta incansável contra a violência policial e a injustiça

Marli Pereira Soares, uma mulher negra nascida em 25 de outubro de 1954 na Favela do Pinto, no Rio de Janeiro, desempenhou papéis fundamentais como mãe, empregada doméstica e funcionária pública. Sua vida tomou um rumo transformador em outubro de 1979, quando, residindo em Belford Roxo, testemunhou o trágico falecimento de seu irmão, Paulo Pereira Soares, nas mãos da polícia militar.

Esse episódio doloroso marcou o início da incansável batalha de Marli por justiça, diante da violência policial e do genocídio que assolam a população negra. Desde então, ela se tornou uma voz ardente, dedicando sua energia à denúncia das injustiças e à luta contra a impunidade. A história de Marli Pereira Soares destaca-se como um testemunho impactante da resistência contra a violência sistêmica, inspirando outros a se unirem na busca por um sistema mais justo e igualitário

Marli Coragem

No dia 12 de outubro de 1979, ela testemunhou o assassinato de seu irmão, Paulo, pela polícia militar. E ela não se calou. Na madrugada do dia seguinte, junto com seu pai, ela foi na delegacia de Belford Roxo, na Baixada Fluminense fazer a sua denúncia. Ficou conhecida como “Marli Coragem” pelo seu gesto.

O delegado Jairo Campos foi quem os atendeu e os acompanhou até o 20º Batalhão, da mesma área. Marli deixou claro que a polícia tinha invadido a casa onde ela morava com seus parentes duas vezes e numa delas, ocorreu o assassinato de seu irmão. Enquanto estava no quartel, ela viu três dos policiais militares que tinham invadido sua casa e reconheceu um dos assassinos de seu irmão. Esse dia foi o primeiro de sua longa jornada por justiça, porque Marli precisou ir mais 30 vezes na delegacia fazer reconhecimentos, até que passou a ir todos os dias e por isso não conseguia mais emprego e sua subsistência passou a ser decorrente da cobertura que a impressa deu ao caso.

Marli, em plena Ditadura Militar, enfrentou a Polícia que sequestrou e matou seu irmão.

Cobrou justiça e no dia 12 de maio de 1980, foi decretada a prisão preventiva dos cinco assassinos de Paulo, irmão de Marli. Mas pelas informações que encontrei, apenas um foi preso de fato e em quatro anos foi solto. O advogado da família teve apoio da OAB e a cobertura da impressa foi tão grande que até mesmo o “presidente” se manifestou através de seu porta voz dando apoio a Marli e sua busca pela justiça.

A pressão, as ameaças e o medo continuaram constantes na vida de Marli e ela se manteve escondida por muito tempo em decorrência disso, mas isso não impediu, que anos mais tarde, seu filho Sandro, de 15 anos, ser assassinado pela polícia.

Desde então seu paradeiro é desconhecido, mas seu nome sobrevive na memória das várias pessoas que lutam contra o genocídio da juventude negra e contra os abusos de poder da polícia. Sua história foi relatada no livro “Marli Mulher: tenho pavor de barata, de polícia não” que conta com detalhes a jornada dela pela justiça.

Em 1993, aos 39 anos, Marli era funcionária pública e residia em Jacarepaguá com sua família. Seu filho de 15 anos, Sandro, estudou e trabalhou ao lado dela até ser brutalmente assassinado na Zona Oeste do Rio, junto com dois amigos. Testemunhas contaram que viram os jovens sendo detidos por uma patrulha da polícia militar horas antes de serem encontrados mortos. Meses depois, o sobrinho de 18 anos de Marli também seria vítima de homicídio.

Esta é mais uma história em meio a tantas narrativas de mulheres negras que foram apagadas não apenas de sua cidade, Belford Roxo, mas também de seu estado e país. É nosso dever e direito lutar para que seus nomes jamais sejam esquecidos.

Marli Coragem

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

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