Memória: Morte Marisa Letícia uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT)

0
3
Marisa Leticia
Marisa Leticia

No dia 3 de fevereiro de 2017, morreu Marisa Letícia, uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT) e 35ª primeira-dama do Brasil.

Costurou a primeira bandeira do PT e estampou as primeiras camisetas com a identidade visual do partido. Nascida em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, morava com seu pai, o agricultor Antônio João Casa, e a mãe, a benzedeira Regina Rocco e outros dez irmãos em uma casa feita de taipa, sem energia e saneamento na zona rural do município.

Aos 9 anos de idade já trabalhava como babá, aos 13 na produção de uma fábrica de bombons, aos 19 anos se casaria com Marcos, que viria a ser assassinado seis meses depois, deixando Marisa grávida do primeiro filho.

Em 1973, Marisa conheceu Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na época ele ocupava o cargo de secretário-geral do sindicato e estava viúvo, eles começaram o namoro e sete meses depois se casaram tendo mais três filhos em quase 40 anos de casamento.

Marisa foi a principal liderança feminina do Novo Sindicalismo e da rearticulação política da classe operária. Onde Lula aparece como principal liderança do movimento Sindical, ela articula para a adesão de mulheres à luta dos sindicatos.

Foi uma das lideranças que desafiaram a ditadura militar, sobretudo quando seu marido Lula e outros grevistas foram presos pelo DOPs em 1980, como protesto, centenas de mulheres marcharam pelo centro de São Bernardo do Campo.

Quando os sindicatos foram fechados pelo governo federal após a libertação de Lula, Marisa organizou reuniões clandestinas em casas, para organizar politicamente operárias e donas de casa. Ao lado de Frei Betto, passou a organizar aulas abordando temas como ditadura militar, economia, direitos trabalhistas, direitos humanos, reforma agrária e sindicalismo, ministradas semanalmente no salão paroquial da Igreja Matriz de São Bernardo do Campo.

Na vida pública ao lado de Lula, ela organizava campanhas políticas, e à medida que o Partido crescia, logo a imprensa atacava o casal, acusando falsamente de possuir uma casa de veraneio no Guarujá. Durante a campanha de 1989, algumas falsas notícias sobre Lula começaram a circular circulando boatos de que Lula decepa o próprio dedo para se aposentar. Outros boatos diziam que Lula confiscaria as poupanças e fecharia as igrejas. A equipe de Collor chegou a pagar uma ex-namorada de Lula para acusá-lo na TV de tentar forçá-la a fazer um aborto. Na eleição de 1994, vencida por FHC, o casal foi novamente alvo de boatos sobre enriquecimento ilícito e uso irregular de verbas.

Em 2002 Marisa não descansou um segundo para tornar Lula presidente do Brasil, e ela a 35º Primeira-Dama, a imprensa não tardou em desqualificá-la, caçoando de seus trejeitos, hábitos e roupas, submetendo-a constantemente a comparações depreciativas com suas antecessoras – contrapondo, por exemplo, seu nível básico de instrução à titulação da antropóloga Ruth Cardoso.

O início do que se tornaria a prisão de Lula e a morte dela, foi em 2005, quando cogitou comprar cotas do condomínio Mar Cantábrico, no Guarujá, e a partir de 2010 passou a frequentar o sítio de Jacó Bittar em Atibaia. Foi o bastante para que se tornasse alvo da guerra jurídica contra o PT movida pela Operação Lava Jato e pela imprensa.

Em 2016, Marisa tornou-se ré em duas ações penais de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Diziam que os imóveis seriam vantagens indevidas oferecidas pelas empreiteiras OAS e Odebrecht em troca de favorecimentos de contratos com a Petrobrás.

Marisa Letícia foi acusada falsamente de enriquecimento ilícito e de ter cometido diversos crimes, essas mentiras tomaram as redes sociais e viraram até mesmo mote de uma campanha publicitária das Lojas Marisa. Insultos à aparência da ex-primeira dama se tornaram comuns.

Assediada, perseguida e submetida a um verdadeiro linchamento moral, Marisa ficou reclusa e passou a ter de lidar com um estado permanente de estresse e ansiedade. Em janeiro de 2017, Marisa foi internada após sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico.

Seu prontuário foi vazado e estimulou comentários de ódio nas redes sociais. Um neurocirurgião chegou a recomendar o assassinato da ex-primeira-dama “Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela”.

A morte de Marisa foi anunciada uma semana depois de sua internação, no dia 3 de fevereiro de 2017. A imprensa foi alertada da morte antes mesmo da família. O anúncio do falecimento de Marisa foi seguido por celebrações enfáticas de antipetistas nas redes sociais.

Os Procuradores da Lava Jato também ironizam o falecimento de Marisa. E mesmo após sua morte, e apesar da extinção da punibilidade, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região negou recurso pedindo a absolvição da ex-primeira-dama nos processos em que era ré.

Os ataques à honra motivados por desinformação persistiram até após a morte. Em abril de 2020, um juiz responsável pelo processo de inventário e partilha afirmou que Marisa Letícia possuía 256 milhões de reais em investimentos em certificados de depósito bancários (CDBs).

No mês seguinte, o magistrado corrigiu a informação. Ele afirmou ter confundido e multiplicado acidentalmente o valor em 10 mil vezes. Os investimentos de Marisa Letícia eram, na verdade, 26 mil reais.

Em 2021, os processos em que Marisa havia sido acusada foram anulados por irregularidades processuais e parcialidade. O Ministério Público posteriormente arquivou as denúncias.

O Instituto Lula fez uma homenagem para Marisa no Twitter lembrando que o início do PT se deu pelas mãos dela, “A primeira bandeira do PT foi eu que fiz. Tinha um tecido vermelho, italiano, recorte, guardado há muito tempo. Costurei a estrela branca e ficou lindo. Minha casa era o centro. Foi assim que começou o PT.” Marisa Leticia

| Portal C3 | Portal C3 Oficial | Comunicação de interesse público | ComCausa