Passeata das Mulheres Negras uniu gerações em Copacabana no último domingo
No último domingo (29), a orla de Copacabana acolheu a 10ª edição da Passeata das Mulheres Negras, um evento que ressaltou a força e a busca por igualdade. Organizado pelo Fórum Estadual de Mulheres Negras, entre outras insituições, a passeata atraiu milhares de participantes e marcou o encerramento de uma semana de mobilizações pelo Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, e pelo Julho das Pretas, que promove ações de protesto e celebração ao longo do mês.
O evento serviu como um ponto de encontro entre diferentes gerações. Uma figura de destaque foi Nair Jane de Castro Lima, uma ex-empregada doméstica de 92 anos. Com uma trajetória notável como líder sindical e defensora dos direitos dos trabalhadores domésticos, Nair participou da marcha simbolizando perseverança e inspiração para as gerações futuras.
No último domingo (29), ocorreu na orla de Copacabana, a 10ª edição da Marcha das Mulheres Negras, reunindo um público significativo.
📸Tânia Rego pic.twitter.com/hPPVG31fPY
— Portal C3 (@C3Portal) July 29, 2024
Perto dela, pais e responsáveis trouxeram seus filhos para a passeata. Luciane Costa, acompanhada de suas netas, Manuela, de três anos, e Mirela, de seis, demonstrou a importância de inserir as crianças em ambientes de reivindicação desde cedo.
“Para que elas cresçam sabendo que a nossa existência é importante para um mundo mais justo e igualitário. Nós, mulheres, somos o útero desse mundo e precisamos ser respeitadas”, afirmou Luciane.
Durante o encontro, foram destacados dois pontos: o PL 1904/24 e o extermínio de jovens negros
O Projeto de Lei 1904/24, atualmente em discussão na Câmara dos Deputados, propõe que qualquer aborto realizado após 22 semanas de gestação seja considerado homicídio, mesmo em situações de gravidez resultante de estupro.
O outro tema foi a tendência das decisões judiciais em absolver agentes de segurança responsáveis pela morte de pessoas negras. Um exemplo citado foi o caso de João Pedro, um jovem de 14 anos que foi atingido por um tiro de fuzil nas costas enquanto estava na casa de parentes durante uma operação policial na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, em 18 de maio de 2020. A Justiça, após analisar as evidências e depoimentos, decidiu que os policiais agiram em legítima defesa.
Estatísticas revelam realidade preocupante
Dados estatísticos revelam os desafios enfrentados pelas mulheres negras no Brasil. Na economia, elas são as mais afetadas pelo desemprego. Em 2023, jovens negras de 18 a 29 anos apresentaram uma taxa de desemprego três vezes maior que a dos homens brancos, conforme informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a renda dessas jovens é 47% menor que a média nacional.
No campo da segurança, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado recentemente, indica que 63,6% das vítimas de feminicídio em 2023 eram mulheres negras, um aumento em relação ao ano anterior, que registrou 61,1%. A incidência de violência sexual contra mulheres negras também cresceu, passando de 56,4% em 2012 para 63,2% em 2023, de acordo com o mesmo relatório.
A passeata em Copacabana não só celebrou a força das mulheres negras, mas também destacou a urgência de continuar lutando por um futuro mais justo e igualitário para todas.