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Entendendo a não-monogamia: formas diferentes de relacionamento

O assunto sexualidade ainda é um tabu para a grande parte da sociedade. Em relação ao público feminino, conversar sobre desejos sexuais representa uma grande resistência e incomodo. Historicamente, a sexualidade feminina, até o século XIX, possuía uma grande influência da sociedade e pelo cristianismo, onde era pregado que ela deveria ser submissa. Os homens eram responsáveis pelos corpos femininos, quando uma mulher ainda não fosse casada, seu pai era responsável por ela e sua sexualidade só possuía fins reprodutíveis (TRINDADE; FERREIRA, 2008).

Ao longo dos anos, a idealização de amor já possuiu diversos sentidos. Já foi compreendido como trovadoresca no período da idade média a vigilância moral no período do Renascimento. Conforme a obra de Regina Navarro Lins ‘O Livro do Amor’ (2012), podemos compreender que o amor romântico surge como uma perspectiva de libertação da razão para um prazer nobre, ou seja, a escolha do seu parceiro romântico se tornará a condição para a felicidade.

Devido a essa construção social e histórica, o amor é hoje entendido hegemonicamente de acordo com certas normas: de amor romântico, patriarcal, heteronormativo e de monogamia compulsória (PEREZ e PALMA, 2018).

Com a construção de amores românticos, os casamentos sofreram um grande impacto socialmente, sendo sentenciados a infelicidade e proporciona a liberdade de escolha de um indivíduo em relação a um ideal de amor. Entretanto, essa autonomia romântica é restritiva, pois é criado um ideal de amor que é difícil de ser alcançado. De acordo com esse molde de família burguesa, o relacionamento deve se manter firme e durável (LINS, 2014).

Essa construção de relacionamento fragiliza a mulher e fortalece o homem. O patriarca irá possuir a autoridade do lar e a mulher deverá se submeter as ordens dele.

O amor romântico também tem limites em sua universalidade, já que, baseado na família nuclear burguesa, é heteronormativo. Ou seja, suas representações sociais são estritamente heterossexuais (PEREZ e PALMA, 2018, p. 3).

Para compreender a construção da monogamia, Engels aponta que:

A monogamia é assim, exclusivamente para a mulher, para garantir que os herdeiros do homem são de paternidade indiscutível. Ou seja, desde seu início a monogamia é desigual, a fidelidade não se aplica do mesmo jeito aos homens, dando historicamente a eles a liberdade de manterem relações extraconjugais. Na família, portanto, “(…) o homem é o burguês e a mulher representa o proletário” (ENGELS, 2012, p. 97).

Amar várias pessoas ao mesmo tempo

A partir de 1990, a sociedade passa a identificar diversas formas de se relacionar, entre estas várias formes, está o poliamor (REIS, 2017). Baseado no princípio da não monogamia, coloca a possibilidade de se estabelecerem várias relações, inclusive amorosas, ao mesmo tempo, com a concordância de todos os envolvidos.

A composição mais comum dentre esse leque da não monogamia é o casal aberto, que pode ser representado por um casal, independente do gênero, decida ampliar os horizontes do seu relacionamento. Para que essa abertura do relacionamento seja feita, é necessário que ambos sejam pessoas não monogâmicas, para não ocorrer sentimentos de traição ou infidelidade (LINS, 2014).

Atualmente, existem vários meios de comunicação e informação para conhecermos melhor a temática. Um dos canais comunicativos de mais influência sobre esse assunto é Tuy e Biel, canal informativo no YouTube que fala sobre as diversas formas de se relacionar de forma ética e respeitosa.

O psicólogo Filipe Starling, autor do livro ‘Não monogamia responsável’ contribui para a temática explicando como funciona um relacionamento não monogâmico. Em seu Instagram, ele realiza diversas postagens e lives para debater com o público sobre as diversas formas de se relacionar de forma respeitosa e ética.

Dentre as lives que merecem reconhecimento, podemos destacar a live com a professora e autora Adriana que publicou o livro ‘Os relacionamentos monogâmicos só existem na cabeça das mulheres’.

Claro que esse assunto não se encerra somente com o entendimento do Poliamor, existe outras diversas formas de se relacionar como: liberal, swinger, não exclusividade sexual ou polissexo, poliamor não-hierárquico, anarquia relacional, entre outros. O que merece nossa atenção respeitosa destas formas das pessoas se complementarem em suas experiencias de vida.

Referencias bibliográficas:

ALMEIDA, André Lourenço de. CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA SOCIAL ACERCA DA MONOGAMIA COMPULSÓRIA. Pitágoras. Belo Horizonte, 2021.

BUCKSTEGGE, Kamilla Kleine; MAFRA, Márcia Douetts Gouveia; Marilourdes; BOBATO, Sueli Terezinha. DISFUNÇÕES SEXUAIS FEMININAS: um estudo exploratório com um psicólogo que atua em âmbito clínico. Universidade do Vale do Itajaí. Goiânia, 2009.

Carvalho, Pedro Henrique Charão de. A produção sobre relações poliafetivas na psicologia brasileira: uma revisão sistemática sobre não monogamia de 2004 a 2021. 2021. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2021.

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Emanoelle Cavalcanti

Acadêmica de psicologia, voluntária na Ong Médicos do Mundo