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Setembro amarelo e a Comunicação Não-Violenta

Setembro Amarelo é o mês dedicado à prevenção do suicídio. Trata-se de uma campanha, que teve início no Brasil em 2015, e que visa conscientizar as pessoas sobre o suicídio, bem como evitar o seu acontecimento. Acredito que seja a época mais adequada para trazermos o tema da comunicação não – violenta através deste artigo, com o objetivo de promover a comunicação eficaz através da empatia e do amor.

“A CNV nos ensina a linguagem da empatia e compaixão, que aproxima e faz florescer nossas relações com nós mesmos e com as outras pessoas. A capacidade de se colocar no lugar do outro e entendê-lo é de grande valia na prevenção do suicídio” – Marie Bendelac Ururahy.

Você sabia que grande parte dos problemas entre casais, filhos, colegas de trabalhos, gestores e colaboradores pode ser amenizada e evitada apenas com palavras? Aí que entra a comunicação não violenta, uma abordagem onde podemos nos relacionar de maneira mais autentica e “desarmada”, isso quer dizer que podemos iniciar uma conversa desligando o modo de ataque ou defesa que aprendemos a utilizar ao longo da vida e permitindo que nossa vulnerabilidade seja mostrada.

É importante saber que há uma forma saudável de se comunicar com os outros, retirando do diálogo julgamentos e acusações. Um modo de conviver com as diferenças, preservar a qualidade das relações e trabalhar harmoniosamente por objetivos comuns.

Desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg nos anos 1960, a Comunicação Não-Violenta (CNV) é um processo de entendimento que facilita o diálogo por meio da observação e da empatia. É um jeito de melhorar o clima e a produtividade sem a necessidade de culpar, ofender, humilhar, coagir ou ameaçar o outro.

Então vamos para prática! Para que a Comunicação Não–Violenta ocorra é preciso nos concentrarmos em quatro componentes, que devem ser expressados de forma clara:

  1. Observação – é necessário o que realmente está acontecendo em determinada situação. O segredo é fazer essa observação sem juízo de valor, apenas compreender o que se gosta e o que não gosta no que está acontecendo e no que o outro faz. É importante que essa observação seja baseada em fato, e não em nossas interpretações acerca do que a pessoa quis dizer com suas atitudes, mas sim, o que de fato ela fez ou falou.
  2. Sentimentos – Depois, é preciso entender qual sentimento a situação desperta depois da observação. É importante nomear o que se ente, por exemplo, mágoa, medo, felicidade, raiva, preocupação, alivio. Nesse momento é bem importante utilizarmos palavras que sejam, de fato, sentimentos e não julgamentos. Por exemplo, quando digo que estou me sentindo “ignorada” isso não é de fato um sentimento, pois a palavra descreve a ação de uma terceira pessoa “você está me ignorando”. A ideia aqui é que você se pergunte: “se estou com a sensação de que estou sendo ignorada, o que eu de fato sinto? ”. Esse exercício é importante não porque você quer se enganar ou retirar a responsabilidade do outro pelas ações dele, mas sim porque você quer aumentar suas chances de ser escutada quando for falar sobre algo. Se você disser “estou me sentindo triste com o que aconteceu” em vez de “estou me sentindo ignorada por você” suas chances de ser escutada são maiores.
  3. Necessidades – A partir da compreensão de qual sentimento foi despertado, é preciso reconhecer quais necessidades estão ligadas a ele. Comunique suas necessidades se responsabilizando por elas, por exemplo, em vez de dizer “estou irritada porque vocês não lavam a louça” você pode entender quais necessidades suas não estão sendo atendidas e comunicá-las “estou irritada porque eu estou cansada e gostaria de chegar em casa e encontrá-la limpa. Cooperação é algo importante para convivermos bem e gostaria de conversar sobre os acordos que vão nos ajudar a conviver melhor aqui em casa”.
  4. Pedido – Por meio de uma solicitação específica, ligada a ações concretas, é possível deixar claro o que se quer da outra pessoa. Use uma linguagem positiva, em forma de afirmação, para fazer o pedido. Evite frases abstratas, vagas ou ambíguas. Ou seja, depois de entendermos melhor o que precisamos, podemos fazer ao outro um pedido claro para nossas necessidades sejam atendidas. Na conversa, todas essas questões podem ser trazidas à tona, para que fique claro o que está se passando entre nós e o outro. Isto é, podemos comunicar a ele as nossas observações, a partir do que ele fez ou falou, depois explicar o que sentimos a partir dessas atitudes, bem como do que precisamos e não está sendo suprido e então, fazermos um pedido claro do que queremos.
    Comunicação Não-violenta no ambiente de trabalho.

A diferença de ideias e valores faz parte do dia a dia nas empresas e é muito comum as pessoas criarem a expectativa de encontrar no ambiente de trabalho espaços onde possam se expressar e serem reconhecidas nas suas características individuais. Por outro lado, as organizações dependem cada vez mais de redes de relacionamentos funcionando com um mínimo de harmonia para atender as demandas de desempenho, ótimos resultados e um ambiente agradável.

Nesse cenário, o uso da Comunicação Não-Violenta nas empresas é um caminho para conciliar a valorização da diversidade com um alto desempenho nas relações de trabalho entre pessoas e grupos. A CNV não busca evitar conflitos e tensões que são naturais no nosso dia a dia, mas antes reconhece-los e propiciar uma pausa na escalada do conflito que propicie o diálogo e a comunicação, mudando o foco do que separa para o que pode unir as pessoas, valorizando a cooperação e o respeito.

Agora compartilho com vocês uma metáfora muito interessante em relação a CNV. Você sabia que a Girafa é o símbolo da Comunicação Não-Violenta?

“A girafa é o mamífero terrestre com o maior coração. Seu longo pescoço oferece proteção ao permitir que ela possua a habilidade de ver longe no futuro, de alcançar coisas que são inatingíveis para outros e de permanecer fora de intrigas. Para que o sangue suba até a cabeça da girafa, seu coração tem que ser 43 vezes mais forte do que o do ser humano. Com um coração assim tão forte, a girafa ilustra na CNV a linguagem do coração, uma forma de se comunicar com o olhar mais amplo para as situações, desprovido de juízo de valor, apenas observando com empatia e uma conexão afetuosa. O propósito da linguagem girafa é criar uma qualidade de conexão para que possamos DAR (expressar as necessidades de forma compassiva e harmoniosa) e RECEBER (estar na presença das emoções negativas do outro, sem ser atravessado por elas, permanecendo em postura compassiva). Assim, escutar a dor do outro de maneira empática, ajuda a compreender o que está presente, para além da sujeira da mente da pessoa. ” (Psicóloga Flávia Vieira)

Conclusão

A comunicação é peça fundamental para um convívio harmonioso entre as pessoas. E no ambiente de trabalho isso não é diferente. Por trás de toda a metodologia que possa existir, o objetivo é fortalecer o vínculo entre as pessoas, valorizar e fomentar relações saudáveis dentro e fora do ambiente de trabalho. A CNV lembra que não é necessário insultar, gritar ou ter ações não pacíficas para alcançar um objetivo. É preciso ter resiliência e sabedoria ao mostrar o que pensamos. Buscar empatia e motivar as pessoas a se colocarem no lugar do outro criando um clima harmonioso, aumenta a produtividade, a satisfação e o nível dos resultados. Num ambiente onde as pessoas se sentem parte e conectadas, não há espaço para desrespeito. Seja em casa ou no ambiente corporativo.

“Observar sem julgar é a mais elevada forma de inteligência humana”. – Jidu Krishnamurti

Dica de livro:

Comunicação Não-Violenta – Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais.

Autor: Marshall B. Rosenberg

Autora do Artigo: MÁRCIA SIMON

Fonte: Dbccompany

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Emanoelle Cavalcanti

Acadêmica de psicologia, voluntária na Ong Médicos do Mundo