Entrevistas

Adriano Dias entrevista para alunos UFRRJ

Entrevista para alunos UFRRJ em abril de 2008

O nome ComCausa tem estado presente em ações na Baixada. Desde quando a instituição existe?

  • Oficialmente a ComCausa existe desde 2003, quando constituiu-se juridicamente. Entretanto, não tínhamos a atuação que temos hoje, eram pontuais. Para se ter idéia, no período de 2003 até final de 2006, em média, eram realizadas duas ou três ações por ano.

Que tipo de ações?

  • Prioritariamente na área de cultura e exigibilidade de direitos. Por um lado, realizávamos alguns shows mesclando com debates, por outro, quando aconteciam situações como a chacina da Baixada e o derramamento de óleo do trem da FCA em Itaboraí, a instituição funcionava como agente de cobrança por direitos que foram violados. Mas, acho importante destacar que, para nós, o que realmente conta é o acúmulo de mais de dez anos de experiência de militância político-social de seus membros fundadores.

O que mudou então?

  • A maneira e a sistematização da atuação. Em 2007 decidiu-se pela reestruturação política e metodológica da instituição, assumindo assim os princípios dos Direitos Humanos com foco na Baixada Fluminense  como bandeira e intensificando suas ações neste campo. Em nossas ações observamos, fundamentalmente, os princípios da complementaridade e da intersetorialidade.

Como assim?

  • Todas as questões sociais, culturais, econômicas e ambientais na Baixada são temas da ComCausa. Estes são os princípios dos Direitos Humanos, as coisas não são separadas; não da para se discutir somente cultura ou somente meio ambiente, por exemplo. Estes assuntos estão ligados a fatores econômicos e sociais…Não temos como levar cultura para jovens em um bairro sem considerar que a sua rua tem uma vala a céu aberto e ele não tem acesso à educação de qualidade. Considerando o déficit dos direitos humanos dos moradores da Baixada não tínhamos outra maneira de atuar sem considerar todos estes fatores.

Quais os resultados que você acredita que foram alcançados pela instituição nestes dois anos?

  • Foi conseguir avançar no tratamos das questões de Direitos Humanos na Baixada, transformando a velha ideia de que ‘isto’ é coisa para defender bandido ou que é somente falar de polícia e violência. Estamos conseguindo que as pessoas percebam que direitos humanos é ter acesso à educação e saúde de qualidade, a emprego e moradia, e também à lazer e cultura. E que estes últimos, não são questões de menor importância.

De que maneira se conseguiu isto?

  • Muito em razão do diálogo com grupos e movimentos sociais da região e com setores do poder público. Para tanto, os de comunicação institucional foram de fundamental importância, pois este diálogo permite tornar visível a realidade da Baixada – em grande parte desconhecida, sobretudo, quando se diz respeito aos aspectos positivos – de forma que se desencadeiem também em ações de exigibilidade.

Além de você, quem mais compõe a direção da ComCausa?

  • Essa nova gestão tem como característica a diversidade de olhares para as questões sociais. Dentre os membros da diretoria Alexandre Gonçalves, formando de história. Nos conselhos consultivo e fiscal temos pessoas que há muito somam esforços pela melhoria da qualidade de vida na Baixada Fluminense. Acho importante destacar que além da composição da nova diretoria, a ComCausa hoje conta com uma diversidade magnífica de pessoas. Por exemplo, integramos em nosso quadro de associados pessoas como Maicon Carlos, jovem de 18 anos que vem se destacando como uma liderança da juventude em nossa região e o Sr. José Mandião, o ‘Mandico’, de 67 anos, com uma vida inteira de atuação de movimento comunitário de base. Gerações totalmente diferentes que estão atualmente trabalhando em conjunto num projeto de recuperação histórica. Além destes, estamos ampliando nosso quadro de participantes voluntários.

A forma de atuação da ComCausa muda com essa nova gestão?

  • Experiências vivenciadas no último semestre deste ano apontam para a necessidade de se intensificar ações com efetivo desdobramento para a população. Portanto, consideramos que estamos no caminho certo ao estabelecermos interlocução com o poder público e, ao mesmo tempo, parcerias e lutas com os demais grupos e movimentos sociais. Além disso, como resultado das ações realizadas, hoje, podemos contar com um número bem maior de colaboradores e voluntários; poder contar com material humano é fundamental para se realizar coisas. E, por conta destes desafios, será necessário também intensificar ações para mobilização de recursos a fim de que a população possa contar com a perenidade de nossas ações e ampliar seu potencial de abrangência.

Algum projeto em destaque para o este ano?

  • Com base no olhar local, com a experiência acumulada nestes dois anos de atuação na Baixada, sistematizamos uma série de projetos que analisamos serem verdadeiramente relevantes para contribuir para a mudança da conjuntura dos moradores da região. Além deste estamos buscando apoio para a ampliação do projeto “Comunicando ComCausa”, que continuará sendo o principal veículo de diálogo com a população em geral, com movimentos sociais e poder público sobre a realidade da região.

Matéria original de 28 de Abril de 2008

Atualizada em 21 de novembro de 2021

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa

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