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Botafogo completa 119 anos de história no futebol

No ano de 1891, nasceu o embrião do que viria a ser um dos clubes mais emblemáticos do cenário esportivo brasileiro. O Grupo de Regatas Botafogo, originado por membros que haviam pertencido ao Clube Guanabarense, estabelecido em 1874, teve seu início sob a liderança do remador Luiz Caldas, também conhecido como Almirante. O clube foi forjado em um momento marcante, permeado pelo contexto da Revolta da Armada, que culminou na prisão e subsequente falecimento de Caldas. Os remanescentes desse grupo, então, uniram-se para formalizar a fundação do Club de Regatas Botafogo em 1º de julho de 1894.

A primeira sede do clube foi situada em um casarão, agora demolido, ao sul da praia de Botafogo, adjacente ao Morro do Pasmado, onde a avenida Pasteur encontra seu termo atual. Entre os feitos notáveis ​​do clube, destaca-se a icônica embarcação Diva, que emergiu em 1899 e conquistou a fama ao triunfar em todas as 22 regatas em que participou. Esse feito notável coroou o Botafogo como campeão carioca naquele ano. Não se limitando a proezas locais, o Club de Regatas Botafogo se tornou pioneiro ao garantir o título brasileiro em uma modalidade esportiva, ocorrida em outubro de 1902, por meio do desempenho vitorioso do atleta Antônio Mendes de Oliveira Castro, que, posteriormente, se tornaria presidente do clube.

Paralelamente a esses eventos, em 1904, nasceu nas instalações de um casarão no Largo dos Leões, bairro do Humaitá, um novo clube de futebol, batizado como Electro Club. Esse projeto foi concebido pela mente colaborativa de Flávio Ramos e Emmanuel Sodré, colegas do colégio Alfredo Gomes. A fundação oficial aconteceu em 12 de agosto e, em questão de semanas, o clube mudou de nome para Botafogo Football Club, uma decisão influenciada por Dona Chiquitota, avó materna de Flávio. Os primeiros embates amistosos do clube ocorreram, tendo o jogo inaugural em 2 de outubro contra o Football and Athletic Club, na Tijuca. O Botafogo sofreu uma derrota por 3 a 0 nessa partida, mas sua primeira vitória logo se seguiu em maio de 1905 contra o Petropolitano, com um gol de Flávio Ramos.

Após uma coexistência de 38 anos entre o Club de Regatas e o Football Club, as duas entidades se fundiram oficialmente em 8 de dezembro de 1942. No entanto, a união dessas duas instituições foi instigada por uma tragédia: em 11 de junho de 1942, os times de remo e futebol se encontraram em uma partida de basquete, parte do Campeonato Carioca. O jogador Armando Albano, uma das principais figuras do Botafogo Football Club e da Seleção Brasileira, chegou atrasado devido ao trabalho e entrou na quadra já durante o intervalo do primeiro tempo. No entanto, momentos depois de se agachar para pegar uma bola, Albano desabou no chão, perdendo a consciência. Após esforços em vão para reanimá-lo, a notícia de sua morte interrompeu a partida, que estava com o placar de 23 a 21 para o clube de futebol. Em uma decisão de comoção, o Botafogo de Regatas optou por renunciar ao confronto, proporcionando a Albano uma última “vitória” em homenagem. Nesse clima de profunda comoção, os dirigentes das duas agremiações escolheram selar a união definitiva dos clubes, originando assim o Botafogo de Futebol e Regatas.

Botafogo e Ditadura Militar no Brasil

O ano de 1968 marcou um período tumultuado no Brasil, no auge do regime militar. No Rio de Janeiro, um evento trágico chocou a nação e inflamou a opinião pública. Em meio a esse clima de perseguição, a morte do estudante Édson Luís, ocorrida após a invasão do Calabouço, um restaurante frequentado por jovens universitários, gerou profunda comoção.

Esse acontecimento fatídico se tornou um ponto de virada na reação da população à ditadura. Milhares de pessoas tomaram as ruas, manifestações eclodiram, conflitos se presenciaram pelo país e greves foram deflagradas. O cenário político internacional também desempenhou um papel, com os protestos ocorridos em maio na França inspirando o movimento estudantil brasileiro a unir forças com a população e desafiar o regime autoritário.

Em 18 de junho, uma manifestação expressiva de estudantes secundaristas e universitários chamados as ruas do Centro do Rio de Janeiro, protestando contra a política educacional imposta pelo governo ditatorial e denunciando o que consideravam uma “desmoralização do ensino estatal”. Jean Marc von der Weid, líder estudantil e presidente do diretório acadêmico da UFRJ, foi detido.

Esse incidente intensificou ainda mais a inspiradora. Os alunos chegaram a realizar um “funeral” simbólico do ministro da educação, Tarso Dutra, como forma de protesto. Uma reunião estava agendada entre os estudantes e o ministro para o dia seguinte, mas Dutra optou por receber apenas um pequeno grupo para evitar tumultos.

Na manhã seguinte, os arredores do Ministério da Educação já estavam repletos de estudantes. Ao meio-dia, os primeiros manifestantes chegaram, entoando palavras de ordem contra a ditadura. A resposta da polícia foi violenta, com cassetes e bombas de gás sendo usadas para dispersar a multidão. Alguns estudantes protegeram arremessando pedras.

Esse cenário de caos se estende ao longo do dia. As ruas do Rio de Janeiro foram palco de confrontos e desordem. A polícia agiu de forma indiscriminada, enquanto os manifestantes danificavam propriedades e carros, evoluiu em um verdadeiro caos em pleno horário de pico de uma quarta-feira.

As cenas de abuso e tumulto persistiram até o final do dia, anunciando o que aconteceria no dia seguinte, em 20 de junho. Nesse dia, cerca de 2 mil estudantes ocuparam a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em Botafogo, onde planejavam realizar uma assembleia geral.

No entanto, a situação logo saiu de controle. Os estudantes ocuparam a reitoria e exigiram melhorias nas condições de estudo e no fim das prisões arbitrárias. Conforme as horas passavam, aumentava o temor de que os estudantes estivessem detidos ao deixarem o campus, uma vez que a UFRJ estava cercada pelas forças de segurança.

O reitor, Clementino Fraga, intercedeu junto ao governador e à Secretaria de Segurança para que o cerco fosse levantado, mas uma promessa não foi cumprida. No início da noite, os estudantes decidiram sair da universidade, emocionados pelo reitor. Ao chegarem aos perseguidos, foram recebidos pelas bombas da polícia, desencadeando mais tumultos e correrias.

Diante da repressão policial, cerca de 200 estudantes encontraram refúgio na sede do Botafogo, um clube localizado nas proximidades. O presidente do clube, Altemar Dutra de Castilho, permitiu que os jovens se abrigassem e impedissem a entrada da polícia. No entanto, as forças de segurança ignoraram seus apelos e invadiram o clube, mesmo com os protestos dos dirigentes.

A situação se deteriorou ainda mais quando a polícia irrompeu em frentes diferentes, agredindo os presentes, incluindo crianças que estavam ensaiando para uma festa junina. Os estudantes que buscaram refúgio no clube foram levados ao campo de futebol pelos funcionários do Botafogo.

As operações da polícia continuaram, e os estudantes foram encurralados no campo. Ali, foram manifestados a abusos e violência, mesmo após terem sido rendidos e desarmados. O confronto deixou vários feridos entre os atletas e funcionários do clube.

No dia seguinte, a imprensa caracterizou os eventos como a “Sexta-Feira Sangrenta”, marcada pela tragédia e violência. O número de mortos chegou a pelo menos 28, e centenas de pessoas ficaram feridas. A indignação pública diante desses acontecimentos forçou o governo a permitir a concretização da “Passeata dos Cem Mil” em 26 de junho, a maior manifestação até então contra o regime militar.

Contudo, uma onda crescente de protestos também resultou em uma escalada da repressão por parte do governo. No final daquele mesmo ano, em dezembro de 1968, o Ato Institucional nº 5 (AI-5) foi instituído, suprimindo direitos civis e políticos e consolidando o regime de perseguição e tortura. A ditadura militar brasileira duraria até 1985.

Em um contraste notável com aqueles tempos sombrios, o período democrático finalmente passou ao Brasil. Em 21 de junho de 1989, exatamente 21 anos após os trágicos eventos de 1968, o Botafogo comemorava uma conquista esportiva. O clube venceu o Flamengo, sagrando-se campeão carioca pela primeira vez nesse período. Altemar Dutra de Castilho, presidente do Botafogo, permanecia no cargo desde aquele fatídico ano de 1968.

O relato desses acontecimentos serve como um seguidor contante das lutas, dos desafios e das tragédias que marcaram aquele período da história do Brasil. Não apenas nos faz relembrar os fatos em si, mas também ressalta a importância dos posicionamentos adotados por indivíduos e internações durante esse tempo. É uma lembrança dolorosa, mas crucial, do que aconteceu e da importância de rejeitar veementemente os abusos de poder e a violação dos direitos humanos, reafirmando a aversão à ditadura e à repressão.

É válido acrescentar que, em períodos posteriores, a ditadura militar selecionou alguns clubes para intervenção. Coincidentemente ou não, o Botafogo foi um dos mais dependentes, sofrendo uma das maiores intervenções que culminaram na perda do Estádio de General Severiano.

A preservação desses eventos sombrios, a preservação das lutas pela democracia e rejeitam aos abusos são elementos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e consciente de sua história.

“O Símbolo Emblemático do Club de Regatas Botafogo: A Jornada da Estrela Solitária”

A história do Club de Regatas Botafogo é rica em símbolos que enaltecem sua identidade e tradição. A mais notável delas é a “Estrela Solitária”, um ícone que é imortalizado no escudo, na bandeira e na flâmula do clube. Inicialmente, a Estrela Solitária ostentava uma forma distinta: cada extremidade exibia uma tonalidade, dividindo-se em preto e branco e criando um intrigante efeito de sombra. Entretanto, nos anos iniciais, essa imagem foi substituída pelo famoso desenho da estrela de cinco pontas, branca sobre um fundo preto.

A Estrela Solitária é uma representação da Estrela D’Alva, escolhida porque os remadores do clube, que diligentemente se encontravam nas primeiras horas da manhã na Enseada de Botafogo, frequentemente vislumbravam o brilho do planeta Vênus no céu. Com a fusão de dois clubes, essa estrela que aponta para o zênite também se tornou um emblema do futebol. Como resultado, o Botafogo de Futebol e Regatas ganhou um dos seus apelidos mais famosos: “o clube da Estrela Solitária”.

No que diz respeito ao escudo, o Club de Regatas Botafogo não possuía um símbolo oficial único. Entretanto, um emblema popular era frequentemente usado, apresentando a Estrela Solitária, vamos e o monograma “CRB” – iniciais do clube. Sem uniforme, apenas o monograma com a estrela era exibido. Mais tarde, em 1919, a estrela superou como iniciais, que foram construídas dentro dela.

O desenho do escudo do Botafogo Football Club foi habilmente traçado a nanquim por Basílio Viana Júnior, um de seus fundadores. Era um escudo branco no estilo suíço, contornado em preto, com as iniciais “BFC” entrelaçadas em preto no centro.

Com a criação do Botafogo de Futebol e Regatas em 1942, a estrutura do escudo do Botafogo Football Club foi preservada, mas a Estrela Solitária branca do Club de Regatas Botafogo substituiu as letras, apresentada sobre um fundo preto. Além disso, o escudo foi realçado por dois contornos, um branco interno e outro preto externo.

O reconhecimento internacional também abraçou o símbolo do Botafogo. A revista japonesa T Sports Magazine, em 2008, coroou-o como o escudo de futebol mais belo do mundo. No ano seguinte, o site Esporte Info (hoje Esporte Final) reafirmou essa honra. Uma equipe de jurados composta por jornalistas, uma designer gráfica e um historiador brasileiro ratificaram sua beleza ímpar. Além disso, em 2013, o site norte-americano Bleacher Report incluiu o distintivo alvinegro entre os 20 mais impressionantes globalmente.

do contexto de estrelas, entre 1981 e 2003, quatro estrelas menores adornavam o escudo oficial do Botafogo, simbolizando o tetracampeonato carioca conquistado entre 1932 e 1935. Atualmente, porém, o clube honra seu apelido de “Estrela Solitária” e não mais utiliza essas estrelas complementares.

A bandeira do Botafogo de Futebol e Regatas emergiu da fusão do Botafogo Football Club com o Club de Regatas Botafogo. A bandeira original do clube de futebol exibe faixas horizontais pretas e brancas, com o escudo do clube centralizado. Enquanto a bandeira do clube de regatas era branca, exibindo um quadrilátero preto no canto superior esquerdo, com a icônica Estrela Solitária em branco. Com a fusão, em 1942, as listras horizontais e o quadrilátero preto permaneceram, enquanto a Estrela Solitária branca preservada no canto superior esquerdo.

A dimensão oficial da bandeira é de 1,28 metros de largura por 90 centímetros de altura. As listras horizontais têm 10 cm de largura cada, totalizando cinco faixas pretas e quatro brancas. O preto que abriga a Estrela Solitária mede 56 por 40 centímetros.

O Camisa 7, sem dúvida, ocupa um lugar especial na história do Botafogo. Esta numeração é carregada de significado e glória, sendo vestida por jogadores que ganharam uma marca indelével no clube e na Seleção Brasileira. A trajetória vitoriosa teve início em 1948 com o atacante Paraguaio, que desempenhou um papel crucial na conquista do título carioca daquele ano. Nos anos de 1960, o camisa 7 abraçou a lenda Garrincha, um dos maiores ícones do clube e da seleção nacional, que conferiu a eternidade a esse número.

A década de 1970 viu a continuidade da aura da camisa 7, personificada por Jairzinho, Rogério e Zequinha. Em 1989, depois de duas décadas sem o título carioca, a camisa mágica brilhou novamente quando o atacante Maurício marcou o gol do título contra o arquirrival Flamengo.

Os anos 1990 trouxeram Túlio Maravilha, que trocou o número 9 pela camisa 7 em uma ação de marketing, associado ao patrocínio da marca de refrigerante Seven Up. O resultado foi a conquista do Campeonato Brasileiro de 1995, com Túlio como artilheiro da competição.

Na década seguinte viu Dodô carregar a mística da camisa 7. Após usar a camisa 10 em passagens anteriores pelo clube, ele trocou para o número 7 em 2007, evoluiu em grande venda de camisas, apesar da ausência de títulos e de um polêmico caso de doping.

Em 2021, o Botafogo escolheu batizar seu programa de sócio-torcedor como “Camisa 7”, em homenagem aos associados à rica história de ídolos do clube a esse número. A seleção do nome ocorreu por meio de uma votação online entre os torcedores.

Quanto aos hinos, embora exista um hino oficial do Botafogo Football Club com letra de Octacílio Gomes e música de Eduardo Souto, é o hino popular composto por Lamartine Babo em 1942 que ecoa nas mentes dos torcedores. Os versos iniciais “Botafogo, Botafogo campeão desde 1910” são entoados com frequência nos jogos do clube. Contudo, há uma discrepância na letra, já que o primeiro título oficial do Botafogo foi o Campeonato Carioca de 1907. Muitos torcedores adaptaram a letra para “Botafogo, Botafogo campeão desde 1907”.

A história do Club de Regatas Botafogo é tecida com símbolos que transcendem a mera representação gráfica. Cada elemento, do escudo à camisa 7, do hino às estrelas, enraíza-se profundamente na cultura do clube, forjando uma identidade que permanece luminosa através do tempo.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa