Dia da morte de Clarice Lispector uma das mais importantes escritoras brasileiras
Nascida em 1920, Clarice Lispector deixou um legado indelével na literatura brasileira do século passado. Reconhecida por sua narrativa inovadora e uma linguagem profundamente poética, sua obra se destacou em meio aos paradigmas narrativos tradicionais. Seu romance inaugural, “Perto do Coração Selvagem”, foi agraciado com o prestigioso Prêmio Graça Aranha, consolidando seu lugar entre os grandes nomes da literatura.
A infância de Clarice foi moldada por uma trajetória marcada pela migração. Filha de Pinkouss e Mania Lispector, fugiu com a família da Ucrânia, escapando da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa, estabelecendo residência inicialmente em Maceió, Alagoas, por intermédio de Zaina, irmã de sua mãe. Apenas com dois meses, recebeu uma mudança significativa: seu nome foi trocado de Haya Pinkhasovna Lispector para o nome pelo qual seria conhecida, Clarice.
A família seguiu para o Recife, onde Clarice passou a infância no Bairro da Boa Vista, começando cedo a se envolver com a escrita. Sua jornada educacional foi marcada por fluência em inglês, francês e iídiche, além de sua formação no Ginásio Pernambucano, o principal colégio público da região.
A mudança para o Rio de Janeiro, aos 12 anos, marcou outro ponto de virada. Lá, frequentou o Colégio Sílvio Leite, finalizando sua educação formal. Seu amor pela leitura a levou a se tornar uma frequentadora ávida de bibliotecas.
Em 1941, ingressou na Faculdade Nacional de Direito e começou sua carreira como redatora na “Agência Nacional” e, mais tarde, no jornal “A Noite”. No mesmo ano, casou-se com Maury Gurgel Valente, colega de faculdade, e formou-se em Direito em 1944, o ano em que também publicou seu primeiro romance, “Perto do Coração Selvagem”, revolucionando a literatura brasileira com sua narrativa não linear e poética.
Após a publicação do livro, Clarice acompanhou seu marido diplomata em viagens ao exterior, vivenciando a Europa em meio à Segunda Guerra Mundial. O contato com diferentes culturas e realidades influenciou sua escrita, culminando em obras como “O Lustre” e “A Cidade Sitiada”.
Seu retorno ao Brasil marcou um novo capítulo em sua carreira. Trabalhou como colunista em jornais como “Correio da Manhã” e “Diário da Noite”, além de lançar “Laços de Família”, livro de contos que recebeu reconhecimento, como o Prêmio Jabuti.
A faceta multifacetada de Clarice emergiu em sua incursão na literatura infantil com obras como “O Mistério do Coelhinho Pensante” e “A Mulher Que Matou os Peixes”, além de romances e contos que exploravam profundamente o íntimo e o psicológico humano.
Sua vida pessoal foi pontuada por momentos difíceis, como o acidente que a deixou com queimaduras graves e sua luta contra um câncer de ovário. Mesmo assim, sua produção literária continuou intensamente, sendo reconhecida e premiada repetidamente.
Clarice Lispector faleceu em dezembro de 1977, deixando para trás um legado literário ímpar e uma narrativa que desafia limites temporais e espaciais, explorando a condição humana de forma singular e profunda, transcendendo fronteiras literárias convencionais. Suas obras continuam a ser lidas e apreciadas por gerações, revelando uma escritora cujo impacto perdura até os dias atuais.
