Entrevistas

Entrevista com Adriano Ibiapina da banda ‘Unhas Incravadas’

Formada em julho de 2002 por Adriano (vocal), Carlos (guitarra), Thiago (bateria) e Fábio (baixo), o Unhas Incravadas (a grafia é essa mesmo com “I”) surgiu para tocar músicas inspiradas em bandas como Garotos Podres, Ratos de Porão e do punk vindo de fora do Brasil. Ao longo desses sete anos de história a banda fez apresentações nos mais variados locais e conquistou um público fiel no meio do rock alternativo devido suas músicas autorais bem-humoradas e ao mesmo tempo realistas e conscientes das dificuldades do mundo atual, o que fez seu nome virar algo próximo do “cult”.

Depois da saída de Fábio e a entrada de Wellington a banda se apresentou no evento Rock ComCausa para um público de cerca de 500 pessoas na celebração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Recebemos o vocalista Adriano Ibiapina para um bate-papo descontraído onde ele me falou um pouco das inúmeras histórias da banda.

De onde veio o nome Unhas Incravadas?

Adriano Ibiapina: (Risos) O nome é a coisa mais retardada que tem. Minha mãe vivia reclamando de uma unha encravada no pé e quando fomos imaginar o nome eu sugeri “coloca unha encravada” e daí eu vi que todo mundo começou a rir e achou o nome horrível. Vi que tinha que ser esse o nome e resolvemos também brincar com a grafia de botar com “I” e não o correto pra mostrar que a idéia era brincar desde o início com fato que há algo errado e não está muito certo.

Por que a ideia de montar uma banda de rock?

  • Para tocar músicas que iam desde o punk rock até coisas do cotidiano, falamos de coisas que aconteceram com a gente, coisas que conhecemos bem, falamos da realidade.

Essa era mesmo uma pergunta que eu iria fazer, pois ouvindo as letras de músicas suas como “Playboy da Honda Biz”, “Danton conheceu o Tarantino” e “Oldcar” só para citar algumas, percebemos que há ali uma crítica social e uma boa dose de realidade. Era mesmo essa a ideia, criticar transmitir a mensagem que querem atrás de letras bem-humoradas e satíricas?

  • A ideia é essa mesmo, de que o humor afeta mais as pessoas, pois primeiro elas irão rir e depois pensar naquilo que ouviram. Além disso, fazemos um discurso diferente e isso não é bem visto. Não somos muito bons em fazer um discurso sério, somos mais de brincar e ai colocar nossas ideias. Na realidade a gente acaba brincando com o que não achamos certo. Pode parecer simplista, mas é espontâneo, irreverente e é o que somos. São reações que conseguimos colocar para fora de imediato.

Como você vê o espaço na mídia para artistas independentes e que não fazem uma arte convencional para o mercado?

  • Quando surgimos, a maioria das pessoas chegava pra gente e dizia “se vocês fizessem um som assim, vocês iam chegar a tal lugar…” e a gente achou que essas pessoas estavam querendo apenas que vendêssemos um som, que montássemos a banda com o objetivo de fazer sucesso. Não existe isso, você tem que tocar o que quer e o que gosta. Não há espaço na grande mídia para artistas independentes e isso acaba levando muito artista para a idéia de que se não tocar ou fizer o que vai agradar ao público não irá conseguir nada. Algumas bandas acabam cedendo a essa pressão para fazer sucesso, pois tocam durante anos e não conseguem destaque e de repente fazem uma música do tipo: “ó Janaína me dá um beijinho” e pronto: fazem sucesso.

Vocês chegaram a tocar na Hillo`s rock?

  • É… Tem aquela relação com o Adriano Dias que na época era um dos organizadores e depois veio a fundar a ComCausa. Aliás, vou contar um segredo dele que ninguém sabe: ele odeia quando o chamam de Tony Ramos (risos). Inclusive a gente está querendo homenageá-lo com uma música “Tony Ramos da Baixada” (risos).

Como estão os espaços para tocar?

  • Há uma certa escassez de espaços que aceitem bandas novas e que toquem músicas próprias, principalmente sátiras. Normalmente as bandas novas pagam para tocar, carregam os instrumentos e amplificadores nas costas e depois do show carregam tudo de volta, além de tocar em instrumentos ruins e locais vazios.

Que experiência vocês tiraram do Rock ComCausa? (Evento realizado em dezembro de 2008, com a presença de sete bandas de rock que entre uma música e outra liam trechos da Declaração Universal dos Direitos Humanos)

  • Vimos que há pessoas na Baixada que querem fazer algo e participar disso mostrando aos outros que é possível desde que se queira. Foi muito bom, pois através do rock mostramos, nós e as outras bandas, que há cultura nas mais diferentes formas e a música é uma delas. Assim fica mais fácil de chegar nas pessoas e conscientizá-las, já que a partir da música a pessoa pode ir atrás daquilo que estava sendo falado e acaba encontrando um mundo novo e conhecendo ideias novas.

Uma mensagem para quem estiver lendo e para a ComCausa.

  • Continuem lendo, pois esse é o caminho. Façam o que gostam. Se curtirem música, peguem um instrumento e toquem, faça o som de vocês, não importa qual. Já uma mensagem para a ComCausa? Só digo que os admiro pois o trabalho de conscientizar mentes é uma tarefa que deve ser muito árdua. Então espero que a ComCausa durem muitas décadas, pois vocês acabam dando forças a pessoas que não tem formas de divulgar o trabalho, como é o caso da minha banda, e porque a ComCausa traz um novo olhar para a Baixada Fluminense: um olhar de incentivo que mostra que na Baixada existem muitas coisas boas, não só as notícias ruins exibidas na mídia.

O que vocês têm planejado para o resto do ano (em 2009)?

Somos uma banda meio preguiçosa, temos preguiça de ir ao estúdio e de pegar as notas e tudo mais. Mas planos para o fim do ano? Vamos tocar no segundo Rock ComCausa (risos).

Um chute nas partes baixas dos modismos

Enttrevista de Igor Fernandez de 17 de Setembro de 2009

Atualizada 24 de novembro de 2021

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