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Memória: Joãozinho da Goméia o Rei do Candomblé

Em 19 de março de 1971 nos deixou Joãozinho da Goméia, conhecido como “Rei Negro”, “Maior Babalorixa do Brasil” ou “Rei do Candomblé”. Quando veio a falecer, mais de 5 mil pessoas foram ao seu enterro no cemitério do corte oito em Caxias.

No dia em que seu terreiro em Duque de Caxias promovia o Lorogun, uma das maiores cerimônias do Candomblé que significa o fechamento do terreiro para quaresma, Joãozinho morria no Hospital das Clínicas de São Paulo. Joãozinho não resistir aos procedimentos para tirar um tumor maligno do cérebro.

Babalorixa foi trazido em um caixão dourado e ficou exposto por 26 horas em Duque de Caxias, e no fim, houve uma romaria até o cemitério, para que “sua obra jamais fosse esquecida”, disse Gitadê, um de seus seguidores.

João da Goméia deixou cerca de 4.600 filhos e netos de Santo.

Como de costume sete dias após sua morte os búzios foram jogados para escolher o herdeiro do trono da Goméia. A escolhida foi Sandrinha, que nasceu dentro da Goméia pelas mãos de João, que também foi seu padrinho de batismo. Sandra hoje é mais conhecida como Mãe Seci.

Nascido em 27 de março de 1914, Inhambupe, no interior da Bahia, João Alves Torres filho, começa sua história do Candomblé em 1933, quando é iniciado pela tradição Angola. Aos 10 anos começou a sentir fortes dores de cabeça e sonhar com “Um homem cheio de penas” interpretado como um aviso dos Orixás que o faria começar sua iniciação e se tornar o mais conhecido sacerdote de Candomblé de Caboclo do país, chegando a refazer santo no terreiro de Gantois da mãe Menininha, e se eternizando como referência nas tradições de Angola, Bantu e Caboclo.

O pai de Santo deixou a Bahia e construiu o terreiro que o deixou famoso, na rua da Goméia em Duque de Caxias na Baixada Fluminense. O Terreiro ficou conhecido também pelos frequentadores, entre eles, Getúlio Vargas, Cauby Peixoto, Emilinha Borba, Juscelino Kubitschek, Maria Antonieta, Solano Trindade, Dorival Caymmi, Paulo Gracindo, Tenório Cavalcante, Marlene entre outros.

“É impossível falar de Candomblé no Brasil sem falar de Joãozinho, ele colocou a religião nas páginas dos jornais e revistas, mostrando assim o candomblé não só como algo exótico, como um culto primitivo, mas sim como uma religião que tinha uma estrutura própria”, afirmam seus seguidores.

Tentativa de apagar a memória de Joãozinho da Goméia

Em junho de 2020, o então prefeito Washington Reis anunciou que iria construir uma creche no local onde ficava o barracão de Joãozinho da Goméia. Se não fosse a liderança de Mãe Seci, o terreno onde funcionou a Goméia poderia deixar de existir.

Após movimentos sociais, religiosos, culturais e herdeiros de Tata Londirá, que mobilizarem um abraço em defesa do terreiro, uma ação chegou ao Ministério Público Federal, Defensoria Pública. A mobilização fez com que o prefeito recebesse a Comissão Goméia, e após o encontro, anunciou que havia desistido da ideia de construir a creche “Pequeno Guerreiro” no local.

Joãozinho da Goméia

Negro, de personalidade irreverente à sua época e à sua envergadura como líder espiritual, Joãozinho foi homossexual assumido, compositor, dançarino, assistente social, parteiro, costureiro e bom garantidor de polêmicas ao apresentar as danças sagradas dos orixás em espaços públicos. Além do racismo e dos preconceitos vividos por suas escolhas de vida, sofreu críticas dos seus irmãos de religião que não admitiam um pai-de-santo se dedicar a um caboclo – espírito encantado originário das religiões indígenas, sem relação com a África -, no caso, o Caboclo Pedra Preta.

Terreiro da Gomeia agora é patrimônio cultural e histórico do RJ

No vídeo abaixo, participação do “Rei do Candomblé”, Joãozinho da Goméia no filme “Copacabana Mon Amour” de 1970, dirigido por Rogério Sganzerla. [Imagens da restauração realizada em 2013].

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa