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Memória: as forças alemãs liquidam com o gueto judeu de Cracóvia

No dia 13 de março de 1943, teve início a fase final da liquidação do gueto de Cracóvia, com o cerco e o ataque final realizado pelas forças nazistas das SS contra a comunidade judaica da cidade. A operação foi cuidadosamente planejada e executada pelos comandantes locais das SS ao longo de dois dias.

Numa primeira fase, os residentes da zona norte (a que os nazis chamavam de Zona A), que totalizavam entre 6000 a 8000 pessoas, foram deportadas para o campo de concentração de Plaszow. No dia seguinte, a restante população foi arrancada das suas casas e reunida nas ruas. Cerca de 2000 crianças, velhos e outras pessoas consideradas incapazes de trabalhar, assim como todos os que tentaram escapar, foram mortas a tiro. As restantes foram transportadas para o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau. O bairro foi saqueado e completamente esvaziado de todo o tipo de valores, bens e mercadorias. A reconstituição destes eventos constitui uma das passagens mais impressionantes do filme “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg.

O assalto ao bairro judaico de Cracóvia foi apenas um episódio de um plano mais vasto, elaborado pelos ideólogos nazis e executado pelas SS, de perseguição e extermínio dos judeus na Europa ocupada pela Alemanha, e que ficou conhecido como “a solução final”. A repressão nazi sobre as comunidades judaicas foi particularmente violenta e brutal na Polónia ocupada, onde teve início, no verão de 1942, a “Operação Reinhardt”, que previa o envio de todos os judeus para campos de trabalho ou de extermínio. Presume-se que o nome derive de Reinhardt Heydrich, um dos principais arquitetos do Holocausto, ou seja, do plano de extermínio dos judeus, que morreu num atentado por essa altura. Antes da ocupação alemã, a população judaica de Cracóvia era superior a 60 mil habitantes, mas decresceu rapidamente devido a deportações maciças para campos de trabalho. A partir de março de 1941, os sobreviventes foram encerrados num gueto e isolados do resto da cidade, enquanto prosseguiam as deportações. Os eventos de 13 e 14 de março de 43 foram a etapa final de um processo de destruição total da comunidade judaica.

O assalto ao gueto de Cracóvia levou ao quase completo desaparecimento dos judeus da cidade e à dispersão dos sobreviventes, como ocorreu noutras regiões ocupadas pelos nazis. A maior parte não resistiu às câmaras de gás dos campos de extermínio ou às terríveis condições existentes nos campos de trabalho. Alguns dos habitantes do gueto escaparam graças à boa vontade e ao auxílio prestado por alguns polacos residentes fora do gueto e que conseguiram ludibriar as autoridades nazis. Uma das pessoas que escapou desta forma foi o realizador de cinema Roman Polanski, então com 10 anos de idade. Outras integraram a célebre lista de trabalhadores de Oskar Schindler, que requisitou centenas de judeus para trabalhar na sua fábrica. Hoje, o gueto de Cracóvia é parte integrante da memória coletiva e do roteiro turístico da cidade, do qual restam ou foram reconstruídos, entre outros vestígios, pedaços do muro e a fábrica de Schindler.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa