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Memória: Ataque na Escola Raul Brasil de Suzano (Massacre de Suzano)

Os ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, estado de São Paulo – Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 – entraram pouco depois das 9 horas, do dia 13 de março de 2019, na escola com coturnos táticos e balaclavas de caveira, efetuando diversos disparos de arma de fogo durante o horário do intervalo e atingindo dezenas de pessoas. Hoje completam quatro anos e os ataques continuaram, ainda mais agravados pelo aumento do acesso de armas promovido pelo governo.

Depois do ataque, ainda dentro da escola, Guilherme Taucci matou Luiz Henrique e, em seguida, se suicidou. A polícia encontrou no local um revólver calibre 38, dispositivos plásticos para recarregamento rápido de arma, uma besta, uma machadinha, um arco e flecha tradicional, coquetéis molotov e uma mala com fios que levou ao acionamento do esquadrão antibombas.

Ataques fora da escola

Poucos minutos antes do atentado na escola, Guilherme Taucci havia atirado em seu tio, o comerciante Jorge Antônio de Moraes, dentro de uma revendedora de veículos de Jorge, nas proximidades. O homem foi levado ao hospital mas não resistiu aos ferimentos.

Além de Jorge Antônio, eles também planejavam matar o eletricista vizinho de Luiz Henrique, que seria morto por este, pois haviam tido um desentendimento meses antes. Era uma espécie de pacto entre os dois criminosos, em que cada um mataria um desafeto antes do massacre na escola. Uma hora e meia antes do ataque à escola, Luiz Henrique foi até a casa do vizinho. Ao encontrar o portão trancado, passou a chamá-lo insistentemente, mas o homem não atendeu e Luiz foi embora.

Total de vítimas

Ao total, dez pessoas morreram. Além dos dois rapazes, sete na escola, sendo cinco alunos e dois funcionários. O ataque também deixou onze estudantes feridos, que foram levados para hospitais próximos.

Nome Idade Obs.
Jorge Antônio de Moraes 51 anos Tio de Guilherme, morto por este antes do ataque à escola
Marilena Ferreira Vieira Umezo 59 anos Coordenadora pedagógica
Eliana Regina de Oliveira Xavier 38 anos Inspetora
Caio Oliveira 15 anos Aluno
Claiton Antônio Ribeiro 17 anos
Douglas Murilo Celestino 16 anos
Kaio Lucas da Costa Limeira 15 anos
Samuel Melquíades Silva de Oliveira 16 anos
Luiz Henrique de Castro 25 anos Agressor, morto por Guilherme
Guilherme Taucci Monteiro 17 anos Agressor, cometeu suicídio

Os feridos foram:

. Adna Isabella Bezerra de Paula, 16 anos, estudante
. Anderson Carrilho de Brito, 15 anos, estudante
. Beatriz Gonçalves Fernandes, 15 anos, estudante
. Guilherme Ramos do Amaral, 14 anos, estudante
. Jenifer Silva Cavalcanti
. José Vitor Ramos Lemos, estudante
. Leonardo Martinez Santos
. Leonardo Vinicius Santa Rosa, 20 anos
. Leticia de Melo Nunes
. Murilo Gomes Louro Benite, 15 anos, estudante
. Samuel Silva Felix

Bullying

Segundo a mãe de Guilherme Taucci, de 17 anos, o garoto deixou de frequentar a escola em virtude de bullying. Ele morava com os avós e duas irmãs e estava afastado dos pais, que são dependentes químicos. Segundo relato de colegas, ele os ameaçou há três dias em um shopping, quando disse que estes deveriam “ficar espertos”. Em um de seus perfis, o atirador se identificava como “Guilherme Alan” e postou uma foto com máscara e arma antes do ataque.

As apurações concluíram que, entre as motivações que levaram ao massacre estavam o bullying, isolamento social e o desejo de superar o massacre em uma escola de Columbine, nos Estados Unidos, pois queriam ser lembrados pela quantidade de mortes e armas. Tinham o pensamento de que faziam um “ato heroico”. Um terceiro suspeito, que não participou do ato e esteve envolvido diretamente, afirmou que eles também tinham a intenção de realizarem estupros.

Pesquisas na internet

Os assassinos supostamente buscaram ajuda para planejar o atentado em um fórum é conhecido por sua apologia ao terrorismo e à violência, com conteúdo pautados em intolerâncias às minorias e machismo: o Dogolachan, um imageboard, fórum onde todos os participantes são anônimos, também conhecido como chan, abreviatura de channel.

Antes dos ataques, um dos assassinos também postou na internet uma série de imagens com a máscara de caveira, portando a arma de fogo utilizada e fazendo um símbolo de arma com a mão na cabeça.

Responsáveis

Guilherme Taucci Monteiro, então com 17 anos de idade, foi aluno da Escola Estadual Professor Raul Brasil e teria largado a escola alegando estar sofrendo bullying. Morava com os avós, pois sua mãe é usuária de drogas. Guilherme gostava de cultura gótica e simpatizava com o nazismo. O pai de Luiz Henrique, seu melhor amigo e com quem invadiu a escola, havia prometido arrumar uma vaga para ele no mesmo serviço de limpeza e conservação de praças em São Paulo. Segundo seu avô, Guilherme frequentava uma LAN house com Luiz Henrique e não estranhava que ele tivesse dinheiro para os jogos ou para compras pela internet, porque o neto sempre fazia bicos. O último deles havia sido como vendedor num quiosque de cachorro quente, onde ganhou 600 reais. Com a morte da avó, quatro meses a antes do crime, Guilherme passou a dar sinais de depressão clínica. Guilherme e Luiz se conheceram na infância e, desde então, andavam sempre juntos. Os programas da dupla dos últimos tempos eram passeios pelo shopping e visitas regulares à LAN house do bairro, onde costumavam jogar jogos de tiro em primeira pessoa.

Luiz Henrique de Castro de 25 anos de idade, também foi aluno da Escola Estadual Professor Raul Brasil. Vivia com os pais, um irmão mais velho e o avô, de 80 anos. Segundo seus vizinhos, trabalhava com jardinagem em uma empresa na Zona Leste de São Paulo. César Expedito, amigo de Luiz havia 14 anos, declarou que ele gostava de jogar bola e videogame e nunca havia demonstrado comportamento agressivo. Segundo César, Luiz estudou um ano na Escola Raul Brasil mas concluiu o ensino médio em supletivo em outra escola, nunca havia sido expulso e trabalhava em Guaianases.

A Justiça condenou um jovem de 17 anos acusado de ser o terceiro envolvido no massacre, que foi internado provisoriamente por 45 dias em uma unidade da Fundação CASA. Na casa do adolescente, os policiais encontraram desenhos de pessoas mortas, mensagens criptografadas e uma bota militar muito semelhantes às achadas na casa dos dois atiradores. Um vídeo mostrava que Guilherme Taucci e o jovem de 17 anos foram até um estande de tiros e treinaram disparos com armas airsoft e arco e flechas, cinco dias antes do ataque. Segundo a Polícia Civil, o adolescente teria participado ainda da compra do machado usado para ferir alunos e professores. Após a apreensão do jovem, a delegacia de Suzano considerou que ele foi o autor intelectual do ataque à escola, ao lado de Guilherme, embora ainda não soubesse o que teria provocado a saída dele da efetivação do ataque. Os detalhes do processo correm em segredo de Justiça. A defesa do adolescente apreendido contestou as acusações.

Casos anteriores

Antes deste ataque em Suzano, outros atentados já haviam ocorrido em escolas brasileiras. A com maior número de vítimas foi em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2001.

Salvador (BA) – 2002 (duas pessoas feridas)

Taiúva (SP) – 2003 (uma pessoa morta, e oito feridas)

Rio (RJ) – 2011 (12 pessoas mortas, e 13 feridas)

São Caetano do Sul (SP) – 2011 (uma pessoa morta, e uma ferida)

Santa Rita (PB) – 2012 (três pessoas feridas)

Goiânia (GO) – 2017 (duas pessoas mortas, e quatro feridas)

Medianeira (PR) – 2018 (duas pessoas feridas)

Suzano (SP) – 2019 (dez pessoas mortas, e 11 feridas)

Caraí (MG) – 2019 (duas pessoas feridas)

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa