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Memória: Mãe Gilda de Ogum símbolo de resistência contra a intolerância religiosa

No cenário cultural e religioso brasileiro, o legado de Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos, carinhosamente conhecida como Mãe Gilda de Ogum, permanece como um símbolo de resistência e luta contra a intolerância religiosa. Nascida em 21 de janeiro de 2000, Mãe Gilda foi uma proeminente praticante do Candomblé, cuja trajetória deixou uma marca histórico na cidade de Salvador.

Em 1976, Mãe Gilda iniciou sua jornada espiritual no Terreiro de Oyá, imergindo-se nas tradições e rituais do Candomblé. Com o passar dos anos e dedicada devoção à sua fé, ela ascendeu ao papel de yalorixá, culminando em um momento significativo em outubro de 1988, quando registrou oficialmente o Ilê Axé Abassá de Ogum, seu Terreiro de Candomblé localizado na pitoresca Lagoa do Abaeté, em Itapuã.

Para Mãe Gilda, sua missão transcendeu os limites do culto religioso. Reconhecida como uma ativista social destemida, ela empenhou-se em transformar o panorama do bairro de Nova Brasília de Itapuã. Sua personalidade forte e seus esforços incansáveis para melhorar as condições de vida na comunidade a destacaram como uma líder visionária.

Entretanto, sua jornada foi interrompida de maneira trágica. Em 21 de janeiro de 2000, Mãe Gilda faleceu após ser alvo de ataques provenientes da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), que veiculou difamações nas páginas da Folha Universal. Este episódio lamentável, ao invés de silenciar sua mensagem, amplificou a necessidade de combater a intolerância religiosa no Brasil.

O impacto de Mãe Gilda foi reconhecido pelo Governo Federal em 2007, quando o aniversário de sua morte foi oficialmente designado como o “Dia de Luta contra a Intolerância Religiosa”. Assim, o legado de Mãe Gilda de Ogum transcende sua presença física, tornando-se um chamado à reflexão e à ação na promoção da diversidade religiosa e no combate à intolerância que persiste na sociedade brasileira.

Mãe Gilda enfrentou inúmeros ataques ao longo de sua vida devido à sua fé. Além das agressões que resultaram em sua trágica morte, sua imagem foi explorada no jornal Folha Universal, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), em 1999. A manchete, intitulada “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”, denunciava um suposto “mercado de enganação” em ascensão no país, utilizando a imagem de Mãe Gilda com uma tarja preta nos olhos.

A Koinonia, entidade dedicada a representar e defender grupos historicamente oprimidos, assumiu o papel de representar a família na busca por justiça. A morte de Mãe Gilda coincidiu com a assinatura da procuração que designava advogados para defendê-la no caso. Em 2004, a Iurd foi condenada em primeira instância, sendo obrigada a indenizar a família em mais de R$ 1 milhão.

O caso avançou para a segunda instância, e ainda no mesmo ano, o Tribunal de Justiça da Bahia emitiu uma decisão unânime condenando a Iurd por danos morais e uso indevido da imagem da ialorixá Mãe Gilda. O julgamento foi então levado ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde permaneceu até setembro de 2008. O STF também condenou a Iurd, mas reduziu a indenização para menos de R$ 150 mil. Este desfecho reforçou a importância da luta pela justiça, destacando a persistência da família e da Koinonia na defesa dos direitos daqueles que enfrentam discriminação religiosa.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa