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Memória: Irmã Maurina símbolo de fé e resistência à tortura da ditadura

Maurina Borges da Silveira, mais conhecida como Irmã Maurina, foi uma freira católica brasileira que se tornou um símbolo de fé e resistência durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985).

Filha de uma família numerosa de Minas Gerais, Irmã Maurina ingressou na vida religiosa aos 16 anos e dedicou sua vida a cuidar de crianças e jovens. Em 1968, assumiu a direção do Lar Sant’Ana em Ribeirão Preto, onde acolheu órfãos e crianças em situação de vulnerabilidade.

Seu compromisso com a justiça social a colocou em rota de colisão com o regime militar. Em 1970, foi presa e torturada por agentes da repressão por seu apoio à luta popular e por denunciar as violações de direitos humanos cometidas pelo regime.

Apesar das atrocidades que sofreu, Irmã Maurina nunca perdeu a fé ou a esperança. Sua história de luta e resistência inspirou milhares de pessoas e se tornou um símbolo da luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil.

Irmã Maurina faleceu em 2011, aos 84 anos, deixando um legado de fé, compaixão e compromisso com a justiça social. Sua memória segue viva como um exemplo de que a fé pode ser uma força poderosa na luta por um mundo mais justo e humano.

Prisão e Resistência:

Em outubro de 1969, a freira Maurina Borges da Silveira, então com 43 anos, foi presa em Ribeirão Preto, São Paulo. Diretora do Orfanato Lar Santana, ela havia cedido, sem saber, uma sala para reuniões de estudantes do grupo guerrilheiro FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional).

Junto com outros militantes, Irmã Maurina foi capturada pela Operação Bandeirantes (Oban) e submetida a cinco meses de torturas cruéis. Choques elétricos, humilhações, ameaças de violência sexual e a obrigatoriedade de assinar uma falsa confissão de que era amante de um militante marcaram esse período sombrio.

A brutalidade da tortura contra uma freira causou indignação e abalou a Igreja Católica. O bispo de Ribeirão Preto, Dom Felício da Cunha, excomungou os delegados responsáveis, Renato Ribeiro Soares e Miguel Lamano, este último considerado um dos maiores torturadores da ditadura pela revista Veja.

A prisão de Irmã Maurina foi um marco na luta pela justiça social. Dom Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo de São Paulo, declarou que esse episódio o motivou a se dedicar à causa.

Apesar das atrocidades sofridas, Irmã Maurina jamais perdeu a fé ou a esperança. Em 1970, foi trocada pelo cônsul japonês Nobuo Okuchi, sequestrado pela VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), e obrigada a se exilar no México por 14 anos. Lá, continuou seu trabalho religioso e social na livraria da Congregação das Irmãs de São José de Lyon.

Mesmo impedida de retornar ao Brasil durante o governo Geisel, Irmã Maurina se tornou um símbolo de fé e resistência contra a opressão da ditadura militar. Sua história inspira a luta por um mundo mais justo e humano.

Suposta gravidez

Após a ditadura, jornais sensacionalistas afirmaram que irmã Maurina teria abortado após ter engravidado do delegado Sérgio Paranhos Fleury, que a teria estuprado. Dom Paulo Evaristo Arns e a própria freira desmentiram tanto o estupro quanto a gravidez. O tema foi utilizado pelo dramaturgo Jorge Andrade na peça Milagre na Cela, de 1977.

O episódio que gerou a alegação de que Maurina teria engravidado na prisão foi, de acordo com a mesma, quando um militar alto e loiro começou a abraçá-la, dizendo que estava longe da esposa. De acordo com a irmã Maurina, ela pediu para ele se afastar e então ele sacou uma pistola, insistindo para que ela a segurasse, a fim de que suas impressões digitais ficassem na arma.

Retorno ao Brasil

Após a entrada em vigor da Lei da Anistia, Madre Maurina retornou ao Brasil e se estabeleceu em Araraquara, no interior de São Paulo. Lá, ela se juntou à Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitalares da Imaculada Conceição e faleceu aos 86 anos, em 5 de março de 2011, após lutar contra o Alzheimer.

Em homenagem à sua trajetória e legado, a Prefeitura Municipal de Araraquara inaugurou, em 28 de março de 2011, um centro de educação e lazer no Assentamento Monte Alegre com o nome da religiosa.

Além disso, a partir de 28 de agosto de 2013, a rua “E” no Loteamento Borda do Parque, em Ribeirão Preto, foi oficialmente denominada com o nome de Madre Maurina.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa