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Morre aos 90 anos Léa Garcia uma Atriz Visionária

Faleceu a atriz renomada Léa Garcia, na madrugada desta terça-feira (15). Estava programado para ela receber o Troféu Oscarito, como parte da 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado, na região da Serra do Rio Grande do Sul. O filho e representante de Léa, Marcelo Garcia, informou que a atriz faleceu devido a um infarto. Mesmo sendo conduzido ao Hospital, lamentavelmente, chegou ao local já sem vida.

A triste notícia do falecimento foi comunicada por meio de uma publicação feita em sua página oficial no Instagram.

Nota do Festival de Cinema de Gramado

É com imenso pesar que a organização do Festival de Cinema de Gramado informa que a atriz Léa Garcia faleceu na madrugada de hoje (15), no hotel que estava hospedada em Gramado. A atriz receberia o troféu Oscarito na noite de hoje, ao lado de Laura Cardoso. De acordo com o Hospital Arcanjo São Miguel, a causa da morte foi um infarto agudo do miocárdio.

Dona Léa Garcia havia chegado a Gramado no último sábado (12) acompanhada do filho, Marcelo Garcia. A atriz circulava diariamente pelo evento, onde acompanhou diversas sessões no Palácio dos Festivais. Em uma de suas passagens pelo tapete vermelho, a atriz afirmou ao portal Acontece Gramado ter “um enorme prazer em estar mais uma vez em Gramado. Esse calor, essa receptividade com a qual a cidade nos recebe. Aqui tem um leve sabor de chocolate no ar. Obrigado a todos que fazem o festival, que participam e que concorrem. Aqui me sinto sempre prestigiada”.

Léa Garcia possuía uma história antiga com Gramado, conquistando quatro Kikitos com Filhas do Vento, Hoje tem Ragu e Acalanto. Aos 90 anos, a veterana detinha de um currículo com mais de cem produções, incluindo cinema, teatro e televisão. Com uma célebre trajetória nas artes, foi indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes em 1957 por sua atuação no filme Orfeu Negro que, em 1960, ganharia o Oscar de melhor filme estrangeiro, representando a França.

Atuando em produções para televisão, cinema e teatro, Léa consolidou uma carreira de papéis marcantes em produções como Selva de Pedra, Escrava Isaura, Xica da Silva e O Clone. Foi peça fundamental na quebra da barreira dos personagens tradicionalmente destinados a atrizes negras. Tornou-se, assim, uma referência para jovens atores e admirada pela qualidade de suas atuações.

Dona Léa seguia ativa nas artes cênicas. Em 2022, atuou nos longas Barba, Cabelo e Bigode, Pacificado e O Pai da Rita. Ontem (14) havia confirmado negociações com a TV Globo para atuar no remake da novela Renascer.

Possíveis alterações na programação do Festival de Gramado serão anunciadas em breve pela organização.

Léa Garcia: A Trajetória Inspiradora de uma Atriz Visionária

Nascida na emblemática Praça Mauá, no Rio de Janeiro, no ano de 1933, Léa Lucas Garcia de Aguiar escreveu seu nome na história como uma atriz pioneira em tempos em que essa profissão era uma raridade para mulheres negras. Filha de Stela Lucas Garcia e José dos Santos Garcia, sua vida tomou um novo rumo aos 11 anos, quando sua mãe faleceu e ela foi viver com sua avó. Desde a juventude, Léa revelou seu desejo de explorar o mundo artístico, embora com um foco diferente: ela sonhava em estudar Letras para se tornar escritora.

No entanto, o destino a conduziu por caminhos inesperados quando ela cruzou o caminho de Abdias Nascimento, uma figura marcante em sua vida. O dramaturgo e ativista não apenas a influenciado ao mundo da literatura, mas também a convencer a pisar no palco pela primeira vez. A estreia aconteceu na peça “Rapsódia Negra” (1952), escrita pelo próprio Abdias e encenada pelo Teatro Experimental do Negro. A paixão pelas artes cênicas logo se tornou inegável.

Léa Garcia, ao longo de sua carreira, desafiou estereótipos ao interpretar personagens memoráveis ​​tanto no teatro, quanto na televisão e no cinema. Seu papel como Rosa na novela “Escrava Isaura” se tornou um marco, quebrando barreiras ao se destacar em personagens tradicionalmente designados para atrizes negras. Sua atuação é marcante a transformou em um ícone admirado por sua habilidade e qualidade.

No teatro, Léa brilhou em produções notáveis, incluindo “Orfeu da Conceição” (1956), de Vinicius de Moraes, onde se destacou como Mira. Sua estreia na televisão se deu no Grande Teatro da TV Tupi nos anos 1950, mas seu convite para entrar na Globo em 1970 levou a papéis memoráveis, como em “Assim na Terra como no Céu” e “Escrava Isaura”.

A trajetória de Léa Garcia também teve seus desafios, incluindo a necessidade de superar a confusão entre o personagem e a pessoa real, levando a situações de violência física. No entanto, ela sempre destacou a importância de entender os contextos e desafios enfrentados por seus personagens.

Léa Garcia também deixou sua marca no cinema, participando de filmes relevantes como “As Filhas do Vento” (2005), que aborda temáticas raciais e redenção entre irmãs. Além de sua atuação, Léa também se aventurou como roteirista, adaptando textos de autores negros para o cinema.

Sua jornada artística a levou a explorar diferentes emissoras e projetos, sempre deixando sua marca por meio de personagens envolventes. Seu retorno à Rede Globo em 2016 foi marcado por seu papel em “Êta Mundo Bom!” e “Sol Nascente”.

Ao longo dos anos, Léa Garcia recebeu reconhecimento por sua dedicação e talento. Seus prêmios e participações em festivais evidenciam sua importância na indústria do entretenimento, enquanto sua trajetória inspiroura continua a influenciar jovens atores e quebrar barreiras, abrindo caminhos para uma representação mais inclusiva e independente nas artes cênicas.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa