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Nascimento de Tim Lopes

O renomado jornalista brasileiro, Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, mais conhecido como Tim Lopes, nasceu em 18 de novembro de 1950 em Pelotas e foi tragicamente assassinado no Rio de Janeiro em 2 de junho de 2002. Sua morte chocou o Brasil, sendo listada pelo portal Brasil Online (BOL) entre os “22 crimes que chocaram o Brasil”.

Tim Lopes iniciou sua carreira na revista Domingo Ilustrada, onde foi apelidado de “Tim Lopes” pelo jornalista Samuel Wainer, devido à sua semelhança com o cantor Tim Maia. Ele se destacou por suas reportagens investigativas, muitas vezes se infiltrando nas situações que estava cobrindo. Por exemplo, para relatar as condições de trabalho dos operários na construção do metrô do Rio, ele trabalhou como operário na obra.

Ao longo de sua carreira, Tim Lopes trabalhou para vários veículos de comunicação, incluindo a Folha de S.Paulo, O Dia, Jornal do Brasil, O Globo e a revista Placar. Na TV Globo, ele participou de uma série de reportagens do programa Fantástico, que promoviam o encontro de familiares de vítimas com assassinos presos. Em 2001, ele foi um dos ganhadores do Prêmio Esso.

O desaparecimento de Tim Lopes em 2 de junho de 2002 levou a uma intensa busca. Depoimentos de narcotraficantes presos indicam que ele teria sido sequestrado e morto entre as 22h e 0h daquele dia. Sua morte foi confirmada em 5 de julho, após exame de DNA dos fragmentos de ossos encontrados num cemitério clandestino. No entanto, um grupo de advogados pediu uma nova perícia nas ossadas atribuídas a Tim Lopes e a reabertura do inquérito sobre o caso.

Sequestro e Assassinato de Jornalista na Favela da Vila Cruzeiro

Na tarde de 2 de junho de 2002, o jornalista Lopes decidiu realizar uma reportagem investigativa em uma área conhecida por ser um ponto de venda de drogas na Rua Oito, localizada na favela da Vila Cruzeiro. Lopes, que já havia realizado uma reportagem semelhante na favela da Grota, no Complexo do Alemão em 2001, pretendia capturar imagens de drogas e armas.

Durante sua investigação, Lopes foi a um bar local, comprou uma cerveja e começou a filmar traficantes armados que passavam de motocicleta. No entanto, sua presença não passou despercebida. Dois membros da facção criminosa que controlava a Vila Cruzeiro e a maior parte do Complexo do Alemão, André da Cruz Barbosa e Maurício de Lima Matias, conhecidos pelos apelidos de André Capeta e Boizinho, respectivamente, abordaram Lopes.

Lopes foi confrontado depois que uma pequena luz vinda de sua mochila, onde sua câmera estava escondida, foi notada e relatada a um dos traficantes armados. Quando questionado, Lopes se identificou como jornalista da Rede Globo, mas não possuía suas credenciais de jornalista, pois estava trabalhando disfarçado. Lopes foi então espancado no local.

Os traficantes entraram em contato com o chefe do narcotráfico, Elias Pereira da Silva, conhecido como Elias Maluco, para instruções. Eles foram instruídos a esperar por um carro que os levaria para transportar Lopes da Vila Cruzeiro até o Complexo do Alemão, onde Elias Maluco estava esperando. Antes de ser colocado no porta-malas de um Fiat Palio roubado, Lopes foi baleado nos pés ou pernas e teve as mãos amarradas atrás das costas.

Os traficantes levaram Lopes por uma estrada sinuosa de terra batida que levava da favela da Vila Cruzeiro até o Complexo do Alemão. Ao chegar à Favela da Grota, Lopes foi recebido por Elias Maluco. Lopes foi reconhecido por um dos traficantes, Cláudio Orlando do Nascimento, conhecido como Ratinho, que Lopes havia filmado no ano anterior.

Lopes foi então amarrado a uma árvore. Ratinho, convencido de que Lopes era o mesmo jornalista que havia feito a reportagem de 2001 que resultou em sua prisão, insistiu que Lopes deveria morrer. Apesar dos apelos de Lopes por sua vida, ele foi informado de que seria morto. Em um ritual de violência, os traficantes queimaram os olhos de Lopes com um cigarro e Elias Maluco, usando uma espada de samurai, cortou as mãos, braços e pernas de Lopes enquanto ele ainda estava vivo. Os outros traficantes, incluindo André Capeta e Ratinho, também participaram da tortura. A polícia foi posteriormente informada de que havia sangue em vários dos traficantes que estavam reunidos ao redor. Lopes foi colocado dentro de vários pneus, coberto de combustível diesel e incendiado. Esse processo, que se tornou institucionalizado entre traficantes nas favelas mais violentas do Rio na época, era chamado de micro-ondas.

Investigação do Caso Tim Lopes: Uma Trama de Violência e Mistério

O detetive Daniel Gomes, da 22ª DP do bairro da Penha, foi o responsável pela investigação do desaparecimento do jornalista Tim Lopes. A trama começou a se desenrolar quando Lopes, após uma tarde na favela da Vila Cruzeiro, foi abordado por traficantes por volta das 20h. Ele havia combinado que alguém o esperasse em um carro fora da favela para lhe dar uma carona para casa. Quando Lopes não apareceu no horário combinado, o motorista alertou a Rede Globo, que demorou 11 horas para chamar a polícia.

Na segunda-feira, 3 de junho de 2002, às 11h, Gomes foi notificado de que um advogado da Rede Globo estava na delegacia para vê-lo. O motorista que havia esperado por Lopes na noite anterior o acompanhava.

A investigação de Gomes na Vila Cruzeiro revelou rumores de um homem que havia sido capturado e espancado pelos traficantes. Foi relatado que os traficantes levaram este homem ao topo do morro da Vila Cruzeiro e o incineraram. Gomes encontrou pneus queimados, sangue fresco e restos humanos na área, mas os testes de DNA revelaram que não eram de Lopes.

Dias depois, dois suspeitos foram presos no Morro da Caixa d’Água, perto da Vila Cruzeiro. Durante o interrogatório, eles afirmaram que foi Elias Maluco quem assassinou Tim Lopes. Eles descreveram como Lopes foi transportado de carro até a Grota no Complexo do Alemão para conhecer Elias Maluco e outros da quadrilha e como Lopes foi reconhecido pela televisão e obrigado a sofrer humilhação e tortura e seu corpo queimado para destruir evidências.

Em 11 de junho de 2002, após uma denúncia anônima, detetives descobriram um túmulo secreto em um campo perto de um campo de futebol rudimentar no topo da colina da Pedra do Sapo. Lá eles descobriram alguns fragmentos de ossos queimados de vários indivíduos. Através de testes de DNA, eles foram capazes de identificar positivamente uma pequena parte do osso da costela pertencente a Tim Lopes. Também encontrados enterrados no local estavam o relógio de pulso de Lopes, seu crucifixo e a micro-câmera que ele estava usando naquela noite.

O relatório final da polícia do inspetor Daniel Gomes tinha 658 páginas. Gomes concluiu em sua investigação que Lopes não havia filmado no baile funk na Vila Cruzeiro, mas escreveu que Lopes filmou traficantes traficando drogas e carregando armas naquela noite. O chefe de Lopes na Globo disse que Lopes estava trabalhando em uma história sobre exploração sexual no baile funk, com o entendimento de que Lopes teria tentado obter filmagens no baile funk se ele não tivesse sido abordado relativamente cedo na noite. Gomes escreveu que se a Globo tivesse notificado a polícia à meia-noite de 2 de junho, ainda haveria uma chance de que a vida de Lopes pudesse ter sido salva por meio da interdição da polícia.

O Jornal Nacional, da Rede Globo, posteriormente transmitiu uma resposta, incluindo um editorial do apresentador William Bonner criticando o relatório de Gomes. O Jornal Nacional afirmou que as imagens gravadas de Lopes foram destruídas naquela noite nas micro-ondas.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa