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O Dia internacional das mulheres e meninas na ciência

Para ressaltar a contribuição feminina na área científica ao longo da história, foi instituído em 2015, pela Assembleia das Nações Unidas, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro. A data é um marco para a promoção da igualdade de direitos entre homens e mulheres em todos os níveis do sistema educacional.

De acordo com dados da Unesco, atualmente, somente 28% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres. Ainda segundo a Organização, as mulheres têm menos acesso a investimentos, a redes de estudo e até mesmo a cargos “sênior” nas empresas, o que as coloca em profunda desvantagem.

Contrariando as estatísticas, a jovem Ana Beatriz Pimenta, de 17 anos, aluna da Escola Técnica Estadual Henrique Lage, unidade pertencente à Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), em Niterói, Região Metropolitana do Rio, desde cedo está inserida no mundo da Ciência. Ela é integrante do projeto intitulado como Medidor de Temperatura via WiFi. A invenção conquistou a 14ª Fecti – a maior feira de ciências voltada para a Educação Básica do Estado do Rio de Janeiro – e foi indicada para a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia de Criatividade e Inovação (Febrace), da USP, em março. O medidor de temperatura é a grande aposta dos alunos da Faetec na área da saúde.

Capaz de identificar se uma pessoa está com febre e informar em tempo real para o smartphone do responsável, o dispositivo criado por Ana Beatriz, Millena Santos e Ana Clara Antunes, sob a orientação do professor Altair dos Santos, poderá se tornar um aliado no tratamento da Covid-19 e de diversas doenças.

“O monitoramento da febre se tornou uma grande preocupação da população no mundo, e muitas pessoas não são capazes de medir sua própria temperatura, seja por alguma deficiência ou até mesmo por falta de conhecimento. Por isso, acreditamos que o dispositivo ajudará a identificar a presença do sintoma de quem precisa de um cuidado especial e que nem sempre está sob a supervisão de alguém” avalia Ana Beatriz.

A estudante falou sobre a importância de incentivar nas meninas o interesse pela Ciência. – Desde pequenas nós somos acostumadas a ver figuras masculinas atuando na área de eletrônica. Às vezes, a gente acha interessante, mas não tem a chance de ter acesso a essas disciplinas. Trabalhar com eletrônica me fez ver que isso não é algo masculino, e eu queria que muitas meninas tivessem a chance de enxergar isso também.

Veterinária brilha em festival Pós-doutoranda na Universidade Federal Fluminense (UFF) com bolsa da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), a médica veterinária Gabriela Ramos Leal, de 34 anos, venceu na categoria “escolha do público” o Farmelab, maior festival de divulgação científica do mundo e organizado pelo British Council. Trata-se de uma competição entre centenas de jovens cientistas sobre a capacidade de comunicar ao público não especializado, e em apenas três minutos, os dados mais importantes de um projeto de pesquisa socialmente relevante e quase sempre bastante complexo.

A narrativa de Gabriela foi sobre a “magia” da Ciência na criopreservação de embriões, com direito a comparações e referências às “princesas da Disney” que habitavam seu quarto na infância. Ela também foi a vencedora da etapa nacional da competição. Gabriela acredita que a desigualdade de gênero é uma realidade em diversas áreas, e na Ciência não seria diferente.

Por muitos anos, oportunidades e conquistas foram negadas ou bem limitadas a muitas mulheres que vieram antes de nós, e esse reflexo está presente na nossa sociedade. Nós ainda temos um grande caminho pela frente. A representatividade feminina na Ciência está aumentando. E foi por conta da luta de muitas que vieram antes de nós que hoje podemos estar em alguns espaços, contribuindo para que a estrutura social seja transformada e de forma que essa desigualdade se reduza ao longo do tempo. Ainda existe a questão da raça associada ao gênero. Embora as mulheres representem um bom percentual de docentes do Ensino Superior no Brasil, por exemplo, é importante perceber também que a minoria dessas mulheres é preta e parda, o que altera ainda mais a configuração social pré- estabelecida há tantos anos – destacou a pesquisadora.

Gabriela ressaltou ainda que é preciso melhorar a forma de comunicar às meninas, desde a pré-escola, o que é a Ciência e incentivá-las a ter interesse pela área.

“Eu acredito que existe uma dificuldade de comunicar para crianças o que é um cientista. Encontrar um mecanismo de deixá-las entender que elas podem ser médicas, professoras, engenheiras e cientistas. De forma geral, a Ciência é vista como algo distante da sociedade. A imagem de um cientista para algumas crianças ainda é “aquele homem branco, velho, num jaleco”. A aproximação de exemplos é fundamental para que as nossas meninas entendam que os cientistas têm todas as idades, todos os gêneros e todas as cores – observou.

Doutoranda e mestre em Psicologia Social pela Uerj, Evlyn Rodrigues Oliveira tinha desde criança muita sede pelo conhecimento e recebeu incentivo dos pais para se aprofundar nos estudos. Ela desenvolveu toda a sua trajetória acadêmica na rede pública e conheceu professores que até hoje são fontes de inspiração. Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Nós garantimos que está tudo certo com isso, mas você pode não desejar isso. Apesar de muitas dificuldades ao longo do caminho, consegui a tão sonhada vaga em Psicologia na Uerj, que configura um divisor de águas na minha vida e que permitiu a abertura de incontáveis oportunidades. Desde o segundo período da graduação passei a fazer parte de um grupo de pesquisa coordenado por uma professora que muito me ensinou e apoiou na desafiadora jornada científica. A luta das pesquisadoras à frente de seu tempo nos permitiu chegar até aqui e, hoje, continuamos firmes na luta por nós e por aquelas que ainda virão, que podem agora estar lendo este texto, fazendo seus trabalhos de casa, conversando sobre Ciência ou contribuindo para um mundo mais ético e melhor – enfatizou.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa