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O Enem mais desigual da história

Neste domingo, dia 17, teremos a aplicação da primeira prova do ENEM, mas será que é o mais correto a ser feito? O ENEM vai contribuir MUITO para o aumento da desigualdade na educação caso a prova aconteça de fato.

A pandemia expos aos olhos de todos que há uma desigualdade sem tamanho entre os que possuem condições econômicas e estruturais daqueles que não possuem. Segundo dados divulgados pela Istoé, são 6,5 milhões de alunos da rede pública sem acesso à internet, enquanto na rede privada o número é de 155 mil. Sem contar que muitos alunos, mesmo com acesso à internet, não possuem estrutura física para estudar. Como estudar quando muitos alunos dividem o quarto, o computador e suas internets não suportam os vídeos? É uma crueldade colocar duas realidades que já são distintas, mas que agora estão cada vez mais desiguais, para realizar a mesma prova e acreditar que estarão igualmente preparados.

Certamente, o educador Anísio Teixeira, que lutou tanto para um sistema educacional mais equânime e que dá nome ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), estaria de acordo que o ENEM deve ser adiado para que a sua função seja realizada da melhor forma possível (sim, o ENEM foi criado para corrigir injustiças sociais, mesmo que essa sua função nunca tenha atingido êxito).

Além disso, há o problema dos calendários das instituições federais. O Ministério da Educação (MEC) não conversou com qualquer instituto sobre calendários para que os novos vestibulandos aprovados ingressem nos cursos. Há um completo despreparo e desrespeito aos alunos por parte do corpo técnico, a ponto de nem mesmo a pesquisa que foi realizado pelo órgão com os participantes foi levada em consideração na hora de marcar a data da aplicação da prova.

Enquanto assistimos ao município de Manaus (AM) viver um colapso absurdo por falta de oxigênio para os internados, assistimos também o governo federal asfixiar os nossos jovens com a aplicação de provas. Quantos irão realizar a prova sem o preparo adequado, porque não houve suporte técnico para que eles assistissem às aulas? Quantos deixarão de ir por medo (tanto da prova quanto da Covid-19)? Ou ainda quantos farão a prova, mas com total desatenção com medo de um participante que tenha tossido ao lado? Nenhuma resposta pode ser respondida agora, mas a certeza é que Anísio Teixeira estaria envergonhado da autarquia federal que leva seu nome.

Resta-nos apenas torcer para que a justiça interceda pelo adiamento da prova e que nenhum mal aconteça aos nossos jovens.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

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