Campanhas

Memória: Rachel de Queiroz primeira mulher a Academia de Letras

Em 4 de novembro de 2003, o mundo recorda a partida de Rachel de Queiroz, uma das figuras mais destacadas da literatura e cultura brasileira do século XX. O bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, testemunhou o momento em que essa renomada autora brasileira fez sua despedida do mundo terreno, deixando para trás um legado que perdura até os dias de hoje.

Rachel de Queiroz nasceu em 17 de novembro de 1910, na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. Desde tenra idade, ela demonstrou uma paixão apaixonada pela escrita.

Filha de Daniel de Queiroz Lima e Clotilde Franklin de Queiroz, Rachel tinha conexões familiares com José de Alencar por meio de sua mãe. Quando tinha apenas 45 dias de vida, sua família se mudou para a Fazenda Junco, em Quixadá, uma propriedade da família.

Sua estreia literária ocorreu com o romance “O Quinze,” publicado em 1930, o qual a estabeleceu como uma das vozes mais influentes da ficção social nordestina. Seus escritos eram profundamente enraizados na compreensão das complexidades da vida no sertão nordestino, retratando as lutas e esperanças do povo da região.

Em 1913, Rachel retornou a Fortaleza quando seu pai foi nomeado promotor. Em 1917, a família se mudou para o Rio de Janeiro para escapar da grave seca que afligia o Nordeste desde 1915. Em 1921, após regressar a Fortaleza, Rachel ingressou no Colégio Imaculada Conceição e se formou como professora em 1925, com apenas 15 anos de idade.

Início da Carreira Literária

Em 1927, sob o pseudônimo de Rita de Queluz, Rachel escreveu uma carta irônica para o jornal “O Ceará” sobre o concurso Rainha dos Estudantes. O sucesso da carta levou ao convite para colaborar com o jornal, onde organizou a página literária e publicou o folhetim “História de um Nome”. Durante esse período, ela também lecionou História no Colégio Imaculada Conceição.

O Quinze: Um marco na literatura brasileira

Em 1930, aos vinte anos, Rachel se destacou na cena literária brasileira com a publicação do romance “O Quinze”. A obra é uma representação realista e profundamente social da luta secular do povo contra a miséria e a seca.

Lançado durante a Segunda Fase do Modernismo, “O Quinze” impulsionou o Romance Regionalista dos anos 30. O livro narra o êxodo dos trabalhadores da região de Logradouros e Quixadá para Fortaleza em busca de sobrevivência. Paralelamente, conta a história do amor impossível entre a professora Conceição e o proprietário rural Vicente.

“O Quinze” teve grande repercussão no Rio de Janeiro e recebeu elogios de Mário de Andrade e Augusto Schmidt. A consagração veio em 1931 quando Rachel foi ao Rio receber o prêmio Graça Aranha de Literatura na categoria melhor romance.

Ativismo Político

Ainda em 1931, Rachel conheceu os integrantes do Partido Comunista Brasileiro. Ao retornar para Fortaleza, ela participou ativamente da implantação do partido no Nordeste.

Uma Vida de Letras e Lutas

Rachel de Queiroz, uma figura proeminente na literatura brasileira e na política, teve uma vida marcada por realizações notáveis. Nascida no Nordeste, ela se mudou para o Rio de Janeiro em 1932 após uma intensa militância política. No mesmo ano, casou-se com o poeta José Auto da Cruz Oliveira e lançou seu romance “João Miguel”, que abordava os problemas sociais da seca e do coronelismo no Nordeste.

Rachel continuou sua militância no Partido Comunista nos anos seguintes. Em 1937, foi presa por três meses por defender ideias esquerdistas. No mesmo ano, publicou “O Caminho das Pedras”, um livro que deslocou a paisagem nordestina para o segundo plano e focou em agitações políticas, métodos de educação e a participação feminina na vida pública.

Sua carreira jornalística começou no Ceará, escrevendo para o jornal “O Ceará” e colaborando com o jornal “O Povo”. Quando se mudou para o Rio de Janeiro em 1939, colaborou com o “Diário de Notícias”, “O Jornal” e a revista “O Cruzeiro”. Durante esse período, publicou o romance “O Galo de Ouro” em folhetins.

A partir de 1988, Rachel colaborou semanalmente para “O Estado de São Paulo” e para o “Diário de Pernambuco”. Ela escreveu mais de duas mil crônicas, que foram reunidas e publicadas em diversos livros.

Além de ser romancista, cronista e jornalista, Rachel também escreveu peças para o teatro. Sua peça “A Beata Maria do Egito” recebeu o prêmio de teatro do Instituto Nacional do Livro em 1958.

Rachel traduziu mais de quarenta obras para o português. Ela foi membro do Conselho Estadual de Cultura do Ceará e participou da 21ª Sessão da Assembleia Geral da ONU em 1966 como delegada do Brasil.

Em 1977, Rachel fez história ao se tornar a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras. Ela tomou posse no dia 4 de novembro do mesmo ano, ocupando a cadeira nº 5.

Em 1992, aos 82 anos, Rachel publicou “Memorial de Maria Moura”, uma obra que conta a vida de Maria Moura, uma órfã envolvida em brigas com seus primos por uma questão de herança de terras. A obra foi adaptada para a televisão na minissérie “Memorial de Maria Moura”, que foi um sucesso de audiência.

| Editoria Virtuo Comunicação

| Projeto Comunicando ComCausa

| Portal C3 | Instagram C3 Oficial

João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa