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Caso Joaquim: após uma década padrasto é condenado a 40 anos

Uma década após a trágica morte do pequeno Joaquim Ponte Marques, de apenas 3 anos, a justiça brasileira finalmente emitiu seu veredito em um dos casos mais chocantes do país. O padrasto da criança, Guilherme Raymo Longo, um técnico de informática, foi condenado a 40 anos de prisão em regime fechado por homicídio qualificado, com agravantes de motivo fútil, impossibilidade de defesa da vítima e crueldade.

O caso remonta a novembro de 2013, quando Joaquim foi encontrado sem vida nas águas do Rio Pardo, em Barretos, São Paulo, cinco dias após seu desaparecimento em Ribeirão Preto. As investigações iniciais indicaram que o menino, que sofria de diabetes, teria morrido dentro de casa após a aplicação de uma dose excessiva de insulina. Segundo o Ministério Público de São Paulo, Guilherme Raymo Longo teria administrado impressionantes 166 doses da substância no garoto antes de descartar o corpo em um córrego próximo à residência da família.

O padrasto foi preso logo após a localização do corpo de Joaquim em 2013, mas conseguiu habeas corpus, em fevereiro de 2016, para responder pelo crime em liberdade. Em dezembro do mesmo ano, fugiu do Brasil com documentos falsos para o Uruguai e depois seguiu para a Espanha.

Em 2016, após meses de investigações, Guilherme Raymo confessou ter matado o enteado. Em uma entrevista à TV Record em Ribeirão Preto, ele alegou que “não raciocinou direito” e acabou “fazendo besteira”. Segundo o padrasto, o garoto foi morto por estrangulamento e, em seguida, teve o corpo jogado no córrego.

A motivação do crime

De acordo com Longo, a motivação do crime era que ele acreditava que o relacionamento com a mãe de Joaquim melhoraria após a morte do menino, pois “ela ia ter mais tempo para se dedicar a mim, ao nosso relacionamento”. Contudo, a defesa do acusado sempre alegou a ausência de provas que o incriminassem.

Longo foi preso logo após a descoberta do corpo de Joaquim, mas em fevereiro de 2016 conseguiu um habeas corpus, permitindo que respondesse ao processo em liberdade. Em dezembro do mesmo ano, fugiu do Brasil com documentos falsos para o Uruguai e depois seguiu para a Espanha. Somente em 2018, após a extradição a pedido do governo brasileiro, ele foi novamente detido.

O réu já estava sob custódia desde 2018, quando foi capturado pela Polícia Internacional (Interpol) na Espanha e extraditado para o Brasil, após uma investigação exibida pelo programa “Fantástico” da TV Globo.

O caso ganhou ainda mais destaque devido ao relacionamento conturbado entre Guilherme Raymo e a mãe de Joaquim, Natália Ponte. O casal se conheceu em uma clínica de reabilitação, onde Natália trabalhava e Longo estava internado para tratamento de vício em cocaína. Natália chegou a ser presa e enfrentou acusações por omissão, já que o Ministério Público argumentava que ela tinha o dever de garantir a integridade física e psíquica de Joaquim.

Dez anos de espera do julgamento

O julgamento ocorreu após uma década do trágico incidente e se desenrolou ao longo de seis dias, com cinco deles dedicados a depoimentos. Notavelmente, o interrogatório dos réus, originalmente marcado para o sábado, 21 de outubro, foi antecipado para o dia anterior devido à eficiência do processo, que dispensou quatro das 34 testemunhas anteriormente convocadas pela defesa e acusação.

Durante uma semana, o júri conduziu mais de 30 horas de depoimentos a portas fechadas nas instalações do Fórum de Ribeirão Preto. Vale ressaltar que o julgamento ocorreu sem a presença do público e da imprensa, conforme determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

A condenação de Guilherme Raymo Longo a 40 anos de prisão encerra um capítulo sombrio na história da justiça brasileira e reafirma a importância de buscar a verdade e a justiça, mesmo em casos complexos e perturbadores.

Mãe Inocentada

Por outro lado, a mãe da criança, a psicóloga Natália Ponte, foi inocentada das acusações. Ela aguarda em liberdade desde 2014 por alegar que sua omissão em impedir o contato do filho com seu ex-companheiro, ciente de seu histórico de uso de drogas e comportamento violento, não poderia ser considerada como cumplicidade.

Angústia de um Pai

Ao sair do tribunal, o pai de Joaquim, Artur Paes Marques, aparentava estar profundamente emocionado e recusou-se a comentar o primeiro dia do julgamento.

Seu advogado afirmou que o testemunho de Artur teve um impacto profundo no júri, a ponto de alguns jurados derramarem lágrimas.

“O que Artur expressou em seu depoimento hoje reflete o que temos testemunhado nos últimos dez anos. Foi muito triste e angustiante. Para ele, como pai e a única pessoa que tem buscado por seu filho durante todo esse tempo, o sofrimento é imenso. Em meus 20 anos de prática jurídica, foi a primeira vez que vi jurados chorando. É incrivelmente comovente.”

De acordo com Alexandre Durante, o testemunho de Artur corrobora a negligência de Natalia. Visto que ele estava ciente do relacionamento tumultuado que Natalia tinha com Longo, Artur chegou a implorar para que Natalia deixasse Joaquim ficar com ele até que ela pudesse estabilizar sua situação.

“Naquele momento, Artur se aproximou de Natalia e pediu a ela que deixasse o menino ficar com ele até que ela resolvesse as coisas com Guilherme. Ela recusou persistentemente, e ele ofereceu a opção de deixá-lo com os pais dela, que também tratavam o menino como se fosse seu próprio filho. Ela recusou. Naquele momento, suas ações desempenharam um papel decisivo no trágico destino de Joaquim”, ele disse.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa