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ComCausa vai propor homenagem com nome de Dom Adriano

A ComCausa vai propor para as Casas Legislativas da região da Diocese de Nova Iguaçu a criação de comissões e homenagens para promotores de defensores dos direitos humanos com o nome do Bispo Dom Adriano.

Em agosto, aniversário da morte de Dom Adriano, a ComCausa vai propor a criação de homenagens com o nome do Bispo e também a criação de Comissões de Memória e História na Câmaras de Vereadores da Baixada.

Memória e verdade

Entre 2011 e 2014 a ComCausa promoveu várias atividades ligadas a iniciativa de memória e verdade no período de criação da Comissões Nacional da Verdade. Forma mais de cinquenta atividades entre 2012 e 2015 que foram diretamente articuladas pela ComCausa ou em parceria com instituições e o poder público. Diante do notório posicionamento do governo brasileiro em legitimar a ditadura civil-militar no Brasil, a ComCausa decidiu reativar projeto Memória e Verdade para promover a reflexão sobre este momento. O projeto focava em ações de resgate histórico das violações do Estado Brasileiro, mas agora será ampliado para ‘Memória, História e Verdade’, buscando enfatizar os movimentos de resistência diante da violência estatal promovida contra os próprios brasileiros. O projeto será agora coordenado Peter Sana, que é Professor é professor da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro – Seeduc, formado em história, filosofia, pós graduado em sociologia, mestre em educação e doutor em história social.

Segundo Peter Sana: “Baixada é marcada historicamente pela pobreza, descaso das autoridades políticas e negligência dos órgãos de segurança pública, e por isso a violência sempre foi tão latente na realidade dos moradores da região. Para tanto, em sua trajetória no bispado em Nova Iguaçu, Dom Adriano buscou reunir diversos recursos para combater a violência, que já se tornava intensamente presente na realidade do morador da Baixada a partir da metade do século passado”, enfatiza Peter ao expor a retomada com a figura do Ex-Bispo de Nova Iguaçu – “Juntamente com a participação de especialistas em História e Memória da Baixada Fluminense, retomam o projeto que busca viabilizar documentos e memórias relativas à trajetória de histórias como as de Dom Adriano e os movimentos sociais da Baixada Fluminense. Neste primeiro momento, o legado de lutas por direitos humanos deixado pelo falecido bispo da Diocese de Nova Iguaçu será rememorado e resgatado para que juntos possamos promover a reconstrução da identidade de luta do morador da Baixada”.

Além da própria figura do Bispo, será abordado a Comissão de Justiça e Paz, inaugurada em 1976 por iniciativa de Dom Adriano, movimento que “reuniu esforços da Igreja e dos movimentos que integravam o complexo de resistência da região, e o objetivo era defender a população mais vulnerável que tanto sofreu com desgastes políticos, desigualdades econômicas e marginalidade cultural” – segundo Peter Sana – “Dom Adriano assinou diversos manifestos, assim como desenvolveu em sua escrita um teor crítico que burlava a censura e penetrava no clero, assim como nos fiéis que acessavam seu conteúdo através dos periódicos publicados como A FOLHA, BOLETIM DIOCESANO e INFORMATIVO DIOCESANO, vamos também promover estes conteúdos”.

Finaliza Peter: “Vamos com a ComCausa e seus colaboradores buscar juntos elaborar uma série de debates em torno do resgate da memória e da história de luta por direitos humanos na Baixada pautados na figura do bispo Dom Adriano, assim como promover uma gama de documentações que comprovam a riqueza literária, o enfrentamento e a resistência do bispo em relação aos anos de chumbo, durante a ditadura civil-militar-empresarial, um período trágico de nossa história.

O primeiro DebatePapo será na quinta-feira, dia 06 de maio, a partira da 20 horas no Facebook da ComCausa – com a participação do jornalista Artur Messias.

Para acompanhar a página acesse www.comcausa.net/memoriahistoria e www.comcausa.net/domadriano

“O pastor que andava com as ovelhas mesmo nas adversidades” – Gilney Vianna.

Dom Adriano nasceu no Sergipe como Fernando em 1918, foi ordenado em Salvador em 1942. Chegou na Baixada nos anos mais duros da Ditadura e se tornou figura importante para a história, tanto da Igreja Católica quanto das lutas sociais da região. Enfrentou a violência da repressão dos grupos de extermínio apoiados pelos políticos locais e pela ditadura. Acolheu os perseguidos políticos e sociais, em alguns casos dentro da própria estrutura diocesana.

Paralelo a isso, foi um articulador de diferentes movimentos e lideranças dos bairros onde a Igreja estava inserida. Após anos de ameaças, chegou a ser aconselhado por amigos e até por superiores a deixar a Baixada, insistiu em continuar seu trabalho. Em 1976 foi sequestrado, espancado e deixado nu pintado de vermelho. Posteriormente seu fusca foi roubado e explodido em frente à sede CNBB no Rio.

Outros episódios marcaram esta história de resistência, como 1977 quando homens armados até com invadiram o Centro de Formação de Líderes da Igreja, no bairro Moquetá em Nova Iguaçu e impediram a realização de congresso sobre direitos humanos. No dia 9 de novembro de 1979, a Catedral de Santo Antônio de Jacutinga, sede da Diocese da cidade, e a igreja do bairro da Prata amanheceram pichadas com frases escritas com tinta spray vermelha: “Aqui sede do PCB” e “O bispo é comunista”. No dia 20 de dezembro de 1979, uma bomba explodiu no altar da catedral da Diocese e destruiu portas, janelas e o sacrário, ferindo um operário que montava um presépio de Natal.

Mesmo após a redemocratização no anos 1980, Dom Adriano que questionava as autoridades investigações para a elucidação, punição dos culpados pelos assassinatos do Esquadrão da Morte na Baixada e continuou sua atuação também pelos direitos mais essenciais, como moradia, transporte, trabalho, saneamento e saúde. Em 1993, Dom Adriano inaugurou o Centro de Direitos Humanos, para continuar o trabalho da Comissão de Justiça e Paz. Logo após, em 1994 passa o comando da Diocese de Nova Iguaçu para o Bispo Dom Werner Franz Siebenbrock e assume a Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania. No dia 10 de Agosto de 1996, nosso Dom Adriano Hypolito falece aos 78 anos.

O religioso era protetor da população mais pobre e defensor dos direitos humanos mais básicos. Exatamente por conta de seus posicionamentos, Dom Adriano foi tido como comunista pelos militares, apesar de nunca se se posicionar ideologicamente, sendo humanista por princípio Cristão. Assim, como fonte de inspiração por seus atos, do “pastor que andava com as ovelhas” – como disse Gilney Vianna, então coordenador do Projeto de Memória e Verdade da Secretaria de Presidência da República -, a ComCausa o tem com referência de persistência e fé. Um dos personagens de maior referência na luta pelos direitos humanos na Baixada Fluminense. Esta semana, o chamado “o apóstolo da Baixada”, completaria 108 anos no dia 18 de janeiro.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa