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Começaram as obras de valorização do sítio arqueológico do Cais do Valongo

Nesta quinta-feira, dia 6, iniciam-se as obras de valorização do sítio arqueológico do Cais do Valongo, situado na região da Pequena África, no Rio de Janeiro, pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG).

O primeiro passo será a chegada dos primeiros contêineres de apoio, seguidos da instalação de um guarda-corpo e de um módulo expositivo com quatro totens, que contarão a história da região. A curadoria dessa exposição ficará a cargo de Ynaê Lopes dos Santos, historiadora especialista na História da escravidão e das Relações raciais nas Américas.

Além disso, a Prefeitura do Rio de Janeiro também se envolverá no projeto, implantando uma nova iluminação no espaço de acordo com o projeto elaborado pelo IDG.

Desde 2017, o Cais do Valongo foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, preservando parte da história da escravidão e dos escravizados no Brasil.

Em março deste ano, a Ministra da Cultura, Margareth Menezes, a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, a primeira-dama Janja Lula da Silva e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, visitaram o local para anunciar investimentos.

Esse evento marcou a retomada do Comitê Gestor do Cais do Valongo, que tem como responsabilidade planejar a ocupação, sinalização e outras intervenções no sítio arqueológico, que foi designado como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco em 2017.

Durante uma visita, a Ministra Anielle Franco também mencionou a construção de um museu na região, onde antes funcionava o Comitê da Fome, e contestou que o mesmo seria chamado de Museu da Escravidão.

O Cais:

Construído em 1811 para receber os milhares de africanos que tornaram o Brasil – e o Rio – o principal porto de destino do tráfico escravo ao longo do século 19 e reformado em 1843 para receber Thereza Christina, que viria a ser Imperatriz do Brasil, o Valongo acabou por cair no esquecimento ao longo do século 20, enterrado sob os escombros da reforma Pereira Passos.

O lugar sobrevivia apenas nos registros históricos e iconográficos de autores como Maria Graham, Debret, Rugendas e Thomas Ender. Foi redescoberto em 2011, durante as escavações para a reforma da área, que deveria transformar-se no prometido Porto Maravilha, cartão postal ligado ao projeto dos Jogos Olímpicos de 2016.

O cais do Valongo possuía cerca de 350 metros de comprimento, indo da Rua Coelho e Castro até a Rua Sacadura. Estima-se que mais de um milhão de pessoa que foram escravizadas passaram pelo local. A maioria foi comercializada nas áreas de entorno em localidades como a Pedra do Sal. Aqueles que chegavam moribundos eram ou mortos jogados no mar ou enterrados no cemitério dos ‘Pretos Novos’.

Na época que o Valongo era usado para o trafico de seres humanos a região do era desabitada e o acesso era difícil, com isso, toda a movimentação ficava mais escondida do resto da cidade, importante centro político das Américas. A área deixa de funcionar como ponto de entrada de pessoas escravizadas por volta de 1831, quando leis contra a escravidão começam a ser aprovadas. Entretanto, o tráfego passa a ser clandestino e acontece de maneira clandestina no mesmo local.

O local, posteriormente foi descaracterizado e passou a ser chamado de Cais da Imperatriz no século XIX. A reforma foi para receber a futura imperatriz, Tereza Cristina, que chegaria ao Brasil para o casamento com D. Pedro II, em 1843. O espaço que abrigou o Cais do Valongo e da Imperatriz foi aterrado pelo prefeito Pereira Passos na reforma urbanística no início do século XX.

O sítio arqueológico foi descoberto em 2011 durante as escavações realizadas como parte das obras de revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro, no período que antecedeu os Jogos Olímpicos de 2016. No local, durante as escavações foram descobertos dois ancoradouros, Valongo e Imperatriz, contendo uma quantidade enorme de amuletos, anéis, pulseiras, jogo de búzios e objetos de culto provenientes do Congo, de Angola e de Moçambique. Durante as intervenções, foram encontrados cerca de 500 mil itens entre adornos e ossadas. O local é considerado um dos maiores sítios arqueológicos com resíduos do tráfico negreiro fora da África, visto que o Rio foi o estado que mais importou escravos em toda a América Latina.

A partir de sua exposição se iniciaram vários movimentos para que a região do complexo do Valongo fosse preservada.

No dia em que se celebra a Consciência Negra, em 2013, o Cais do Valongo foi declarado Patrimônio Cultural da cidade do Rio de Janeiro, por meio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). No mesmo ano, foi apresentado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), pelo deputado estadual André Ceciliano, o projeto de lei 2611/2013 que patrimônio o local como patrimônio da diáspora africana. No mesmo período, representantes da Unesco passaram a considerar o sítio arqueológico como parte da Rota dos Escravos, sendo o primeiro lugar no mundo a receber esse tipo de reconhecimento. Ambos eventos reforçaram a candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da Humanidade.

Em 2016, no dia 23 de abril, diversos movimentos promoveram várias atividades com a presença do Cônsul de Ângola, Rosário de Seita, na região do complexo do Valongo, incluindo Missa Ecumênica na Igreja da Praia das Pedrinhas e um ato pelo Tombamento na Pedra do Sal.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa