Brasil

Futebol feminino que estreou hoje no Mundial já foi proibido no país

Brasil estreou hoje no Mundial feminino, às 8h, contra o Panamá, na Austrália, mas para chegar até esse dia, as mulheres passaram por proibições e se vestiam de homens para praticar o esporte.

Em 1940, um ano após a primeira partida de futebol feminino disputada no Brasil, uma revolta girou em torno da resistência da imprensa e de setores conservadores. Essa pressão levou o então presidente Getúlio Vargas a assinar um decreto proibindo a prática entre as mulheres, restringindo o esporte mais popular do país. Alegava-se que a participação das mulheres no futebol poderia afetar sua “natureza de ser mãe”.

O jogo histórico ocorreu no recém-inaugurado Estádio do Pacaembu, em São Paulo, e envolveu o Sport Clube Brasileiro e o Casino de Realengo, dois clubes do subúrbio carioca, que se enfrentaram em um amistoso. Foi uma ocasião marcante, pois foi a primeira partida oficial do futebol feminino no Brasil. O Sport venceu por 2 a 0, com gols de Zizinha e Sarah.

No entanto, mesmo antes do jogo acontecer, a polêmica já estava instalada. Diversos setores da sociedade e da imprensa criticavam a possibilidade de mulheres participarem do esporte.

Setores poderosos da sociedade continuaram se manifestando contra essa “prática antinatural”. No ano seguinte, em 1941, Vargas cedeu à pressão e assinou o decreto 3.199, que proibia explicitamente às mulheres a prática de esportes considerados incompatíveis com suas condições naturais.

Isso resultou na restrição do futebol feminino por quase 40 anos, sendo revogado somente em 1979, quando a prática voltou a ser legal. O futebol feminino só foi devidamente regulamentado em 1983. Apesar da proibição, muitas mulheres nunca deixaram de jogar e criaram estratégias para burlar a lei, segundo especialistas. Algumas se vestiam como homens ou jogavam à noite, em espaços privados.

Desde então, o futebol feminino tem avançado em várias pautas importantes, buscando o devido reconhecimento e investimento. Embora tenha progredido nos últimos tempos, ainda enfrenta o desafio de superar décadas de defasagem em relação ao futebol masculino no Brasil. A luta continua para garantir que o futebol feminino seja valorizado e homenageado em igualdade de condições.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa