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Getúlio Vargas comete suicídio e é sucedido por Café Filho

A pressão política e social contra o governo de Vargas aumentou ao longo de seu segundo mandato, culminando em uma crise política e na Revolta dos Marinheiros em 1954. Em meio a esse contexto, Getúlio Vargas cometeu suicídio em 24 de agosto de 1954. Seu suicídio gerou comoção e como resultado, ele se tornou uma figura polarizada na história brasileira, elogiado por suas políticas trabalhistas e criticado pelo autoritarismo e repressão.

Getúlio Vargas deixou um legado complexo e contraditório. Ele é lembrado como um líder carismático que implementou políticas sociais importantes, mas também como um político que utilizou métodos autoritários para manter o poder. Sua influência na política e na sociedade brasileira perdura até os dias atuais.

Getúlio Vargas (1882-1954) foi um político brasileiro que teve um papel significativo na história do Brasil, servindo como presidente em duas ocasiões distintas. Sua trajetória política é marcada por momentos de grande influência e controvérsia.

Primeira Presidência (1930-1945): Getúlio Vargas iniciou sua carreira política como deputado estadual no Rio Grande do Sul, seu estado natal. Em 1930, liderou um movimento político-militar que resultou na queda do então presidente Washington Luís e na instauração de um governo provisório. Em 1934, foi eleito presidente pela Assembleia Nacional Constituinte, assumindo oficialmente o cargo em 1935.

Durante seu governo, Vargas promoveu reformas sociais e incentivou, como a criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e a expansão da infraestrutura nacional. No entanto, seu governo também foi marcado por um período autoritário, com a repressão a movimentos políticos e a implementação de políticas de censura.

Estado Novo (1937-1945): Em 1937, Vargas deu um golpe de Estado e estabeleceu o Estado Novo, um regime ditatorial no Brasil. Durante esse período, ele concentrou poderes, dissolveu órgãos legislativos e restringiu liberdades civis. O Estado Novo foi marcado pelo controle estatal da economia e por uma postura nacionalista.

Segunda Presidência (1951-1954): Após um período de exílio na sequência da queda do Estado Novo em 1945, Getúlio Vargas voltou ao poder democraticamente em 1951, sendo eleito presidente novamente. Durante esse segundo mandato, ele continua a implementar políticas de cunho trabalhista e nacionalista. No entanto, suscita uma crescente oposição política e críticas à sua gestão.

Carta testamento de Getúlio Vargas

Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa