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Memória: Malcolm X uma vida contra a opressão racial

Em 21 de fevereiro de 1965, Malcolm X preparava-se para discursar num encontro da OAAU no Audubon Ballroom, em Nova Iorque, quando alguém na plateia de cerca de quatrocentas pessoas gritou: “Tire a mão do meu bolso, Nigger!”. Foi uma manobra de diversão: enquanto os guarda-costas saíam dos seus lugares tentando conter o distúrbio, um homem correndo atirou por duas vezes em Malcolm com uma caçadeira de canos serrados e dois outros homens invadiram o palco disparando pistolas semiautomáticas. Malcolm foi assassinado aos 39 anos em frente de sua esposa Betty, que estava grávida, e de suas quatro filhas, por três membros da Nação do Islã.

A autópsia identificou um total de vinte e um ferimentos de bala no peito, ombro esquerdo, braços e pernas, incluindo dez ferimentos de bala do primeiro disparo da espingarda. Os maiores danos tinham sido causados pela caçadeira, que atingiu de perto o peito de Malcolm, perfurando os pulmões, o pericárdio, o coração e a aorta.

Filho de Earl Little, um pastor batista carpinteiro e um dedicado membro da UNIA (Associação Universal para o Progresso Negro) presumivelmente assassinado. Teria sido espancado, e depois atirado aos trilhos de uma linha de elétrico (bonde) em Lansing onde a família morava na altura, quando Malcolm estava com seis anos de idade. A versão oficial foi atropelamento, aventando-se até suicídio. Mas o historial de violência racista da época e local deixa supor que teria sido “executado” pela Black Legion, uma organização terrorista de supremacistas brancos.

Sua mãe passou dificuldades para sustentar os seus oito filhos e pressionada por assistentes sociais do governo para que seus filhos fossem levados para lares adotivos, acabou sendo internada em um hospital psiquiátrico. As crianças foram separadas e enviadas para lares de acolhimento. Malcolm e os seus irmãos asseguraram a libertação de Louise vinte e quatro anos mais tarde.

Malcolm foi adotado e quando terminou a oitava série, foi morar com sua irmã mais velha, em Boston, onde ele foi engraxate e empregado da estação ferroviária. Entrou para a vida boêmia, fez amizade com Storty, se envolveu com a prostituição, o jogo e o tráfico de drogas. Mudou-se para o Harlem, bairro de maioria negra de Nova Iorque, e entrou para o mundo do crime. Voltou para Boston e junto com o amigo e duas mulheres brancas, começou a assaltar residências, até que em 1946 acabou condenado a onze anos de prisão.

Conduzido à Prisão Estadual de Charlestown, em fevereiro de 1946, Malcolm ficou ali conhecido como Satã por causa de sua atitude rebelde e antirreligiosa. De repente privado de drogas, usou noz-moscada e outras drogas substitutas para se “fixar”. Mais tarde, conseguiu, através dos próprios guardas da prisão, marijuana, Nembutal e outras substâncias.

Nessa época, começou a estudar o Islã, segundo os ensinamentos de Elijah Muhammed, líder da Nação do Islã, com quem se correspondeu com frequência. Com a ajuda de sua irmã foi transferido para uma prisão colônia em Norfolk, onde passou a frequentar a biblioteca e se transformar em um leitor voraz. Em 1952 foi solto e em seguida tornou-se líder de um Templo e recrutou grande número de fiéis. Recebeu da Nação do Islã o “X” em seu nome, que significava que Deus lhe revelaria.

Em 1953 foi nomeado ministro assistente do Templo Número Um e passou a frequentar a casa de Elijah. Logo depois foi transferido para o Templo mais importante, localizado em Nova Iorque. Em 1958 passou a viajar pelos principais estados do país para pregar sua ideia separatista das raças, a independência econômica e a criação de um estado autônomo para os negros. Fundou o jornal “Muhammad Fala”, foi reportagem de revistas mensais, e participou de entrevistas no rádio, televisão e universidades, para defender a Nação do Islã.

A grande exposição de Malcolm X gerou ciúme e contribuiu para se espalhar entre os muçulmanos negros o boato que ele queria assumir o lugar de Elijah. Malcolm soube, através da imprensa, que havia sido banido da Nação do Islã, e que se formara uma conspiração para que ele fosse considerado traidor e punido com o ostracismo e a morte.

Após ter se distanciado na Nação do Islã, e para conhecer melhor a religião, mudou seu nome para “Al Haji Malik Al-Habazz, viajou para Meca e lá concluiu que Elijah havia deturpado o Islã nos Estados Unidos. Ao voltar, movido por novos ideais, em 1964, fundou a organização “Afro-American Unity”, um grupo não religioso e não sectário, criado para unir os afrodescendentes. A partir daí, passou a defender a conciliação com os brancos, foto que desagradou a Nação do Islã.

A luta pelos direitos civis fez de Malcolm X um mártir notório. Quando discursava na sede de sua organização, no Harlem, ao lado da mulher, grávida e de suas quatro filhas, foi assassinado com 13 tiros, por três homens. A polícia não encontrou provas, mas sempre suspeitou do envolvimento da Nação do Islã no crime.

A vida do líder que lutou pelos direitos civis dos negros norte-americanos foi tema de documentários e de filmes, entre eles “Malcolm X”, dirigido por Spike Lee, em 1992.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa