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João Cândido 21 Dias: Parecer do MPF cita importante livro que relata perseguição

No dia 19 de março, o Ministério Público Federal (MPF) emitiu um novo parecer, destacando a contínua perseguição enfrentada por João Cândido, popularmente conhecido como o “almirante negro”, inclusive durante o regime ditatorial no Brasil. O documento foi enviado ao Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) com ênfase na necessidade de conceder anistia e reparação a João Cândido Felisberto.

Este parecer faz referência às contribuições da pesquisadora Silvia Capanema, cujo livro sobre a vida de João Cândido revela episódios esclarecedores sobre a perseguição ao marinheiro. A autora destaca que Alexandrino de Alencar, oficial da Marinha que facilitou a entrada de João Cândido na instituição, também participou da “Revolta da Armada” e foi anistiado por dois decretos, em 1894 e 1897, sendo posteriormente promovido na Armada, apesar de seu envolvimento em rebeliões.

Segundo a pesquisa de Capanema, João Cândido teve que recorrer ao Ministro da Marinha em 1912, quando enfrentava dificuldades para encontrar emprego na Marinha Mercante devido à perseguição por parte de oficiais. Mesmo após sua anistia em novembro de 1910 e sua absolvição no Processo do Tribunal Militar em 1912, sendo desligado da Marinha por término de serviço, ele continuou a ser alvo de perseguição.

As hostilidades persistiram nas décadas seguintes, de acordo com a autora, não apenas contra João Cândido, mas também contra aqueles que tentaram escrever sobre o tema. Ela menciona casos como o do jornalista Aparício Torelly, agredido por oficiais, e de Edmar Morel, cujos direitos políticos foram cassados após publicar sobre a “Revolta da Chibata” durante o regime militar de 1964.

Mesmo após sua morte, a perseguição não cessou. Documentos acessados com o auxílio do biógrafo Álvaro Nascimento indicam que a ditadura civil-militar não tinha intenção de encerrar o silenciamento em torno da história da Revolta da Chibata.

Um exemplo notável é a censura da canção “Mestre-Sala dos Mares”, de Aldir Blanc e João Bosco, por seu conteúdo considerado “esdrúxulo” e “negativo”. A letra, que menciona a chibata na Marinha e as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores do cais, foi vetada. Mesmo em meio à redemocratização, em 1985, a censura persistiu, como demonstrado pela necessidade de submeter o enredo da União da Ilha ao escrutínio da censura no Carnaval, e a censura de uma matéria da Rádio Tirana/Albânia sobre a Revolta da Chibata em novembro de 1985.

Campanha da ComCausa 21 Dias: João Cândido em busca de igualdade e reconhecimento

Diante de desafios persistentes relacionados à desigualdade racial, a ComCausa está promovendo campanha “21 Dias de Ativismo Contra o Racismo”, visando fomentar a reflexão sobre a igualdade e combater todas as formas de discriminação.

O movimento, inspirado pelo Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, reconhecido mundialmente em 21 de março pela ONU, busca não só honrar a memória das vítimas do histórico “Massacre de Sharpeville” em 1960, na África do Sul, mas também destacar a urgência de enfrentar o racismo em suas diversas manifestações.

Dentro desse contexto, a ComCausa concentra esforços nesta campanha em uma frente especial: a aprovação do Projeto de Lei do Senado n° 340, de 2018, que propõe o reconhecimento de João Cândido como herói nacional. Cândido, uma figura icônica por sua liderança na Revolta da Chibata, representa uma luta histórica contra a opressão e o preconceito racial no Brasil.

João Cândido será o homenageado

Nascido no Rio Grande do Sul em 1880, filho de ex-escravizados, João Cândido trabalhou por mais de 15 anos na Marinha de Guerra do Brasil, tendo sido instrutor de aprendizes de marinheiro. Ele foi o marinheiro que liderou a Revolta da Chibata, ocorrida em 1910 em navios atracados na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e entrou para a história como o Almirante Negro. João Cândido radicou em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e se tornou uma referencia de luta.

“Temos que reafirmar muito a importância do episódio da Revolta da Chibata para a desconstrução do racismo e também pela dignidade dos praças militares” – diz Adriano Dias da ComCausa – “É um herói com a nossa cara, da nossa classe. Homem negro que se radicou na Baixada como tantos de nossos vizinhos. Extremante necessário que, principalmente os mais jovens, o reconheçam pela sua coragem e importância histórica”.

Encontro por João Cândido no Livro dos Heróis da Pátria

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

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