CampanhasDestaqueNotícias

Mães da Praça de Maio: Nora Cortiñas morre aos 94 anos

Nesta quinta-feira (30), a histórica integrante das Mães da Praça de Maio, Nora Cortiñas, faleceu aos 94 anos. A notícia foi divulgada pela organização Avós da Praça de Maio, que, em nota, lamentou a perda da “irmã de luta” e referência indiscutível do movimento pelos direitos humanos na Argentina.

Norita, como era carinhosamente conhecida, iniciou sua jornada de ativismo após o sequestro de seu filho Gustavo, militante da Juventude Peronista (JP), em abril de 1977. Gustavo foi levado por forças militares durante a ditadura argentina (1976-1983) e nunca mais foi visto. Ele é um dos 30.000 desaparecidos que a ditadura deixou na Argentina, conforme organizações de direitos humanos.

Nascida em 22 de março de 1930, Nora era mãe de dois filhos e psicóloga social de profissão. Sua vida mudou drasticamente após a perda de Gustavo, levando-a a se unir a outras mães em protesto na Praça de Maio, em Buenos Aires. Essas mulheres formaram a organização Mães da Praça de Maio, conhecida mundialmente pela defesa dos direitos humanos.

Durante sua vida, Nora esteve presente em inúmeras manifestações, bloqueios de rua, assembleias e eventos sindicais e políticos. Sua imagem, com o lenço branco na cabeça e a foto de Gustavo pendurada no peito, tornou-se um símbolo de resistência. Recentemente, ela também adotou uma bengala e um lenço verde no pulso, simbolizando seu apoio à legalização do aborto.

“Antes eu não era feminista” – revelou Nora em uma entrevista – “Cresci em um lar machista e patriarcal, mas quando levaram meu filho, um véu caiu sobre mim, e eu reuni toda a força para sair às ruas e superar todos os obstáculos. Além da dor, nos diziam para não sair às ruas, para ficarmos dentro de casa. Tive que me despir de um sistema que tínhamos internalizado até então e perceber que temos direitos.”

A luta de Nora ultrapassou a busca por seu filho, transformando-se em um movimento coletivo pelos direitos humanos na Argentina. Ela foi uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio – Linha Fundadora, organização que continuou a apoiar até sua morte. Nora sempre destacou a transformação das mães dos desaparecidos em defensoras públicas de causas justas, afirmando que “nosso filho biológico se transformou em 30 mil filhos. Por eles, geramos uma vida totalmente política e nas ruas.”

Reconhecida nacional e internacionalmente, Nora Cortiñas recebeu diversas homenagens ao longo de sua vida. Em 2022, foi criado o Norita Fútbol Club em Castelar, e em 2021, a cooperativa de trabalhadores Tiempo Argentino a declarou membro honorária por sua luta por memória, verdade e justiça.

Em uma entrevista de 2007 para o livro “De lo privado a lo público. 30 años de la lucha ciudadana de las mujeres en América Latina”, Nora compartilhou seu desejo de ser lembrada como uma mulher que exaltou a luta feminina. “Eu só gostaria que me lembrassem e dissessem ‘Lembra de Nora? Uau, ela estava em todos os lugares'”, disse.

Nora Cortiñas deixa um legado inestimável de coragem, determinação e amor incondicional pelos direitos humanos. Sua presença será eternamente lembrada nas ruas, nas lutas e nos corações de todos que continuam a lutar por um mundo mais justo e humano.

Portal C3 | Portal C3 Oficial

Comunicação de interesse público | ComCausa

Virtuo Comunicação

Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa