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Massacre de Paraisópolis

Na madrugada do dia primeiro de dezembro de 2019, uma ação tumultuada durante um baile funk em Paraisópolis, bairro de São Paulo, resultou em nove mortes e deixou doze pessoas hospitalizadas, marcando o que ficou conhecido como Tragédia de Paraisópolis ou Massacre de Paraisópolis. O incidente foi desencadeado por uma intervenção da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

O episódio ocorreu durante o Baile da DZ7, na interseção das ruas Ernest Renan e Rodolf Lutze, quando a Polícia Militar entrou no evento com o objetivo de dispersar a multidão. Parentes de moradores e frequentadores do baile afirmaram que os policiais cercaram as saídas das ruas, resultando no encurralamento das vítimas em um beco.

Os oficiais justificaram sua intervenção alegando terem respondido a um incidente anterior envolvendo dois homens em uma motocicleta, supostamente envolvidos em disparos contra policiais e buscando refúgio no evento, o que provocou tumulto. De acordo com a versão policial, os agentes foram recebidos com arremessos de garrafas e pedras. Durante a ação, foram utilizadas balas de borracha e munições químicas para dispersar e garantir a segurança das equipes, conforme relatado pela própria corporação.

Após a dispersão do baile, vídeos divulgados mostraram policiais agredindo jovens já rendidos, enquanto outros disparavam balas de borracha contra as pessoas presentes no local. A Polícia Militar reconheceu que algumas imagens sugeriam abusos e uma resposta desproporcional por parte dos agentes, assegurando que medidas seriam tomadas para responsabilizar os envolvidos em eventuais excessos.

O caso foi formalmente registrado no 89º Distrito Policial de Jardim Taboão. A Polícia Militar abriu um Inquérito Policial Militar, que foi arquivado em fevereiro de 2020 pela Corregedoria da PM, que avaliou as ações dos policiais como lícitas. Essa conclusão gerou críticas do então ouvidor da PM, Bendito Mariano, que contestou a normalidade da operação e sua consequente imagem prejudicial para a corporação. Mariano deixou o cargo um dia antes da apresentação das conclusões do inquérito, por decisão do governador João Doria.

Testemunhas que sobreviveram à noite da tragédia relataram que policiais militares lançaram bombas de gás de efeito moral contra as pessoas no baile funk em Paraisópolis. Os participantes do baile fugiram para vielas do bairro, incluindo um beco sem saída conhecido como viela do Louro. No local, pelo menos nove PMs encurralaram um grupo e começaram a agredir os frequentadores. Como resultado do tumulto, nove jovens morreram, com idades entre 14 e 23 anos.

Um ano após o incidente, os moradores prestaram homenagens, colocando cruzes com fotos das vítimas na rua. A Defensoria Pública do estado pediu uma indenização aos familiares das vítimas pelos atos cometidos, enquanto o governo do estado afirmou que qualquer decisão depende da conclusão das investigações. Há processos na Justiça Militar e na justiça comum sobre o caso, e 31 policiais militares continuam afastados e sob investigação. O caso ainda não foi encerrado. O então presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do governo de São Paulo, Dimitri Sales, declarou que “a forma como a operação se deu, impedindo rotas de fuga, promovendo dispersão desordenada, sem que as pessoas pudessem fugir, sem ter espaço para fuga, isso tudo configura o ato de massacre. Não foi um mero acidente como se quer fazer crer.”

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

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