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Memória: Nascimento de Dona Zica a Eterna Dama do Samba

No coração do Rio de Janeiro, nasceu em 6 de fevereiro de 1913, Euzébia Silva do Nascimento, conhecida artisticamente como Dona Zica, um nome que ressoaria como um acorde eterno na melodia do samba. Sambista da velha guarda da renomada Estação Primeira de Mangueira, ela se tornou uma figura emblemática do carnaval carioca, deixando uma marca indelével na rica tapeçaria musical do Brasil. Sua jornada, entrelaçada com o renomado sambista Cartola, foi um conto de amor e resiliência que ecoa até os dias de hoje.

Dona Zica, pseudônimo adotado por Euzébia, brilhou nos salões do samba e nas telas da novela “Xica da Silva”. Sua vida foi meticulosamente retratada pela escritora pernambucana Odacy de Brito Silva, imortalizando a trajetória dessa notável mulher que transcendeu as fronteiras do tempo.

O enlace de Dona Zica e Cartola ocorreu em 1954, quando ela já ultrapassava os 40 anos de idade. Conhecidos desde a juventude, os dois compartilhavam um vínculo que resistiu ao teste do tempo, mesmo sem terem sido namorados na juventude. No Morro da Mangueira, onde ambos residiam, as convenções sociais da época impediam um relacionamento mais próximo, mas o destino, eventualmente, os uniria.

Antes de sua união com Cartola, Dona Zica já havia vivido uma vida repleta de experiências. Casada aos 19 anos com seu primeiro marido, ela teve cinco filhos biológicos e adotou um sexto. Após 20 anos de casamento, tornou-se viúva, enquanto Cartola, estéril, seguiu seu próprio caminho após um casamento sem descendência. Suas vidas se entrelaçaram novamente após mais de uma década, reascendendo a chama da amizade e evoluindo para um romance que duraria 26 anos, até a partida de Cartola em 1980.

O talento culinário de Dona Zica desempenhou um papel crucial em suas vidas. Na década de 1960, sua maestria gastronômica foi posta em destaque quando ela comandou um inesquecível vatapá na casa de Benjamin Eurico Cruz. Esse episódio seria o embrião do lendário Zicartola, uma famosa casa de samba e restaurante que se tornou o epicentro das reuniões dos sambistas da época.

A música brasileira lamentou a perda de Dona Zica em 22 de janeiro de 2003, quando ela faleceu aos 89 anos devido a problemas cardiovasculares. Seu legado perdura como parte indissolúvel da história do samba, e sua amizade com Dona Neuma, outra grande personalidade da Mangueira, é um elo que enriquece ainda mais o tecido cultural dessa comunidade.

A Estação Primeira de Mangueira, fundada em 1928 como a segunda escola de samba na história do Rio de Janeiro, continua a ecoar os ritmos e as tradições que foram moldados por ícones como Dona Zica, mantendo viva a chama do samba que continua a ser a alma pulsante do carnaval carioca.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa