Memória: Nascimento do cardeal Cláudio Hummes
Nascido no dia 8 de agosto de 1934, no município de Montenegro (RS), Filho de Pedro Adão Hummes e Maria Frank Hummes, recebeu de batismo os prenomes Auri Afonso. Em 1952 Ingressou na Ordem dos Frades Menores onde emitiu os primeiros votos no dia 2 de fevereiro de 1953 e professou solenemente no dia 2 de fevereiro de 1956, quando então mudou seu nome para “Cláudio”. No dia 3 de agosto de 1958, foi ordenado presbítero, enviado a Roma fez doutorado em filosofia na atual Universidade Antonianum, em Genebra, Suíça, se especializou em Ecumenismo pelo Instituto Ecumênico de Bossey.
De volta ao Brasil, foi professor de filosofia na Escola de Filosofia da O.F.M. e na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (RS). De 1968 a 1972, foi diretor da Faculdade de Filosofia de Viamão (RS). De 1972 a 1975, foi Superior Provincial dos Franciscanos.
Em 1975, foi eleito bispo coadjutor de Santo André (SP). Em 25 de maio de 1975, aos 40 anos de idade, recebeu a ordenação episcopal, na Catedral de Porto Alegre (RS), sendo sagrante principal o cardeal Aloísio Lorscheider. No mesmo ano, assumiu como bispo titular e ali permaneceu por 21 anos.
Em 29 de maio de 1996, foi nomeado arcebispo de Fortaleza (CE) e, em 15 de abril de 1998, foi transferido para a Sé de São Paulo, tomando posse em 23 de maio. Em 2001, foi criado cardeal pelo Papa João Paulo II, permanecendo ainda como arcebispo de São Paulo até 2006, quando então foi chamado para Roma para ocupar o cargo de Prefeito da Congregação para o Clero, onde permaneceu até ser substituído por limite de idade, no final de 2010.
Novamente de volta ao Brasil, foi nomeado presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cargo que exerceu até março de 2022. Em 2014, ajudou a criar a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), da qual foi o primeiro presidente. Foi relator-geral do Sínodo para a Amazônia, em 2019, e, de julho de 2020 a março de 2022, presidiu a recém-criada Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).
Entre 1979 e 1983, dom Cláudio Hummes foi membro da Comissão Episcopal da CNBB para o Ecumenismo e para os Leigos. Assessorou a Pastoral Operária de 1979 a 1990. Na década de 1990, foi membro da Comissão Episcopal da CNBB para a Família e a Cultura, ele foi um dos responsáveis por organizar o II Encontro Mundial das Famílias com o Papa João Paulo II, no Rio de Janeiro, em 1997. Ele também abençoou o terreno e deu início às obras da Secretaria Executiva Nacional da Pastoral Familiar (Secren), em Brasília (DF).
Mais recentemente, foi legado pontifício do Papa Francisco para o XVII Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Belém, em 2016. Em 2019, foi relator da Assembleia Especial dos Bispos para a Região Pan-Amazônica. Foi o ordenante principal das sagrações episcopais de 20 bispos.
O cardeal presidiu a celebração, em outubro de 2019, que reeditou o Pacto das Catacumbas, na catacumba de Santa Domitilia, em Roma. Trata-se de um ato, cujo um dos organizadores foi dom Hélder Câmara, realizado às vésperas da conclusão do Concílio Vaticano II, em 1965. Dom Hélder foi um dos redatores do documento assinado por cerca de 40 bispos latino-americanos à época. Em 2019, durante o Sínodo para a Amazônia, recebeu o nome “Pacto das Catacumbas pela Casa Comum” e foi organizado por dom Erwin Kräutler, e reafirmou a opção pelos pobres assumida pelos prelados da América Latina.
Foi membro da Congregação para a Doutrina da Fé, da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e da Congregação para os Bispos. E também dos Pontifícios Conselhos para a Cultura, para os Leigos, para a Família, para o Diálogo Inter-Religioso, Cor Unum, da Pontifícia Comissão para a América Latina e do Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos.
Em 2005, por ocasião do Conclave que elegeria Bento XVI à Cátedra de Pedro, o cardeal Cláudio Hummes disse que o futuro Papa deveria preocupar-se com três coisas: a discussão das novidades da ciência na área da bioética e da biogenética; a ampliação do diálogo inter-religioso e a pobreza no mundo.
Em 2007, esteve próximo do cardeal argentino Jorge Mário Bergoglio quando este foi o relator do documento conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida. Para dom Cláudio, Bergoglio “foi um dos mais importantes atores” daquela conferência e “deixou muito dele mesmo, da sua experiência e da sua visão de evangelização” no Documento de Aparecida, cujas reflexões “através desse Papa é universalizado para a Igreja inteira”.
A relação de amizade com Bergoglio também deu origem a uma curiosidade em relação à escolha do nome pontifício, em 2013. Quando a contagem dos votos indicava a eleição de Bergoglio para a sucessão papal, dom Cláudio Hummes soprou aos ouvidos do cardeal argentino: “Não se esqueça dos pobres”. Com esse recado, Bergoglio, simbolicamente, mesmo sendo jesuíta, escolheu o nome Francisco, pela primeira vez na história da Igreja.
Na manhã de 4 de julho, aos 87 anos faleceu o cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, o comunicado foi feito pelo arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer, “suportou com paciência e fé em Deus” a prolongada enfermidade que o vitimou.
“Convido todos a elevarem preces a Deus em agradecimento pela vida operosa do falecido Cardeal Hummes e de sufrágio em seu favor, para que Deus o acolha e lhe dê a vida eterna, como creu e esperou. Deus acolha em suas moradas eternas nosso irmão falecido, cardeal Cláudio Hummes, e faça brilhar para ele a luz eterna”, afirmou o cardeal Odilo.
O velório foi realizado na Catedral Metropolitana de São Paulo, onde serão celebradas Missas em diversos horários a serem oportunamente divulgados.
Nota de pesar da CNBB
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) une-se em solidariedade aos familiares, à arquidiocese de São Paulo, aos Franciscanos e aos amigos do cardeal Cláudio Hummes, falecido nesta segunda-feira, 4 de julho de 2022. E manifesta o pesar pela Páscoa deste irmão, renovando a confiança na ressurreição.
Cardeal Cláudio Hummes marcou a Igreja no Brasil com sua atuação, de forma particular durante o ministério episcopal, que soma quase cinco décadas. Foi bispo coadjutor e bispo titular de Santo André, em São Paulo, e arcebispo das arquidioceses de Fortaleza, no Ceará, e de São Paulo.
Desde o início do seu ministério episcopal, contribuiu na missão desta Conferência Episcopal nas dimensões do Ecumenismo, dos leigos, da família, da cultura e, mais recentemente na realidade da Amazônia. Também atuou por vários anos à frente da Pastoral Operária.
Toda a dedicação de dom Cláudio à ação pastoral no Brasil o fez ser chamado para o cardinalato e para colaborar na Cúria Romana, tanto em Assembleias Sinodais, quanto nas diversas Congregações das quais foi membro e, de forma especial, na Congregação para o Clero, da qual foi prefeito entre 2006 e 2010.
A CNBB recorda o que foi destacado pelo Papa Bento XVI, quando dom Cláudio renunciou a função à frente da Congregação para o Clero, por limite de idade. O pontífice agradeceu pelo “bem realizado no longo e fiel serviço à Igreja” e salientou que Hummes dedicou “incansavelmente, com alegria e competência, toda tua energia pela causa do Reino de Deus”. Resta parafrasear o hoje Papa Emérito, pois assim o fez dom Cláudio até aqui.
Nos últimos anos, o seu empenho permitiu novo impulso à presença da Igreja na Amazônia, ao favorecer, por meio da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), maior articulação, escuta às dores e alegrias dos povos e o protagonismo das comunidades. Esse caminho foi coroado com o Sínodo para Amazônia e a publicação da exortação apostólica Querida Amazônia. A criação da Conferência Eclesial da Amazônia, da qual dom Cláudio esteve à frente até quando sua saúde permitiu, também revela o esforço para realizar os sonhos apontados pelo Papa Francisco para a região amazônica.
Roguemos a Deus que acolha o eminentíssimo cardeal Cláudio Hummes em seu Reino e lhe dê o descanso eterno. Possamos imitar seu testemunho de comprometimento com a causa do Reino, com a comunhão eclesial e com o cuidado com os pobres e com a casa comum.
Em Cristo,
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
1º Vice-presidente da CNBB
Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá (MT)
2º Vice-presidente da CNBB
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral