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O que provoca o aumento da violência nas escolas

Com os recorrentes ataques no ambiente escolar ocorridos nas últimas semanas, o país volta às suas reflexões de como parar estes atos de violência. Entretanto, antes de simplesmente propor “a polícia dentro das escolas”, acredito que devemos buscar os fatores que contribuem para estes lamentáveis acontecimentos.

Apesar de serem concebidas para serem ambientes seguros e protegidos, as escolas têm se tornado cenário de comportamentos agressivos, ameaças e violência física. Devemos destacar que mais de 70% dos jovens que frequentam escolas no Brasil já presenciaram alguma situação envolvendo agressões físicas e verbais entre os alunos, enquanto mais de 30% já se envolveram diretamente em brigas, e nos últimos anos, a violência letal nas escolas tem se tornado uma realidade cada vez mais preocupante no Brasil, com o aumento de casos de ataques armados.

Assim, com a finalidade de elaborar um programa eficiente para a redução da violência e valorização da vida do ambiente escolar para a devida execução do metodológica do projeto. Apontamos os principais fatores que provocam o aumento da violência nas escolas.

Desigualdade

A primeira causa é o abismo das desigualdades do Brasil. Começando pela econômica que é frequentemente acompanhada por outras formas de desigualdade, como o acesso a serviços públicos básicos. Isso gera uma sensação de injustiça e indignação em grupos sociais menos favorecidos, que podem se sentir marginalizados pela sociedade e pelo Estado. Essa sensação de injustiça pode levar a sentimento de exclusão social e, consequentemente, a conflitos e violência.

Visibilidade e violência

Partindo dessa situação de desigualdade, há o fator da necessidade de visibilidade entre os jovens, o desejo de serem reconhecidos como “alguém”. Isso pode ser alcançado, por um lado, por meio de suas virtudes, como suas realizações nos estudos, participação em atividades esportivas e culturais, e até mesmo integração em grupos religiosos, entre outros. Por outro lado, os jovens acreditam que o reconhecimento vem por meio da ostentação financeira ou pela prática da violência.

No caso dos homens, sendo desde a infância doutrinados para serem fortes, dominantes, corajosos e, em muitos casos, agressivos. Consequentemente, muitas vezes atos ou posturas de violência são usados por estes meninos para serem “vistos”, que sua presença seja notada. Não por acaso que a taxa de homicídios dolosos perpetrada por homens é cerca de 14 vezes maior do que a de mulheres. Além disso, a questão é que muitas vezes estes jovens, principalmente aqueles de famílias sem estrutura financeira, usam a violência para obter bens de consumo a fim de gabar-se diante da sociedade e ser “enxergado”.

Quanto às jovens meninas, além dos elementos citados, a exacerbação da sexualidade, muitas vezes precoce, viabilizada em boa parte pela visibilidade dos canais das redes sociais, as expõem em um círculo vicioso de violações.

Internet e redes sociais

Os jovens, tanto homens quanto mulheres, utilizam principalmente as redes sociais como meio de exposição pessoal, mas também como alvo de diversas formas de violência, como o bullying, o cyberstalking e a divulgação de imagens íntimas sem consentimento, dentre outras. O anonimato proporcionado pela internet muitas vezes é utilizado como ferramenta para essas práticas violentas.

Além disso, muitos jovens são influenciados pelos algoritmos de alcance das redes sociais e acabam propagando atos de violência e discursos de ódio para ganhar visibilidade. Esses mesmos jovens também se engajam em grupos extremistas devido à facilidade de comunicação proporcionada pelos canais eletrônicos.

Grupos extremistas

Podemos identificar outro fator que contribui para o aumento da violência nas escolas, que é a interconexão entre ódio e algoritmo. Isso se refere à disseminação de grupos extremistas através das redes sociais e das novas tecnologias de comunicação, que promovem uma polarização ideológica agressiva. Esses grupos conseguem atrair muitos seguidores ao propagar práticas segregacionistas, falta de empatia, banalização da vida e cultura armamentista, que incentivam atitudes violentas no dia a dia das pessoas.

Impacto nas famílias

A disseminação do discurso intolerante promovido por esses grupos extremistas tem afetado diretamente a dinâmica das relações familiares, agravando ainda mais as tensões existentes. Além dos fatores econômicos e culturais que já contribuíam para a desarmonia em muitas famílias, a legitimação da violência verbal e física tem gerado conflitos interparentais mais frequentes e intensos em diversas áreas, como religião, disciplina e comunicação, afetando negativamente o bem-estar emocional, psicológico e social das crianças e adolescentes envolvidos.

Pandemia

Ao mesmo tempo em que houve um aumento nas relações conflituosas entre famílias, muitos estudantes tiveram suas aulas suspensas devido às restrições da pandemia do coronavírus, sendo obrigados a passar mais tempo em casa. Infelizmente, muitas dessas famílias já possuíam relações disfuncionais, e durante os períodos de maior isolamento social, houve um alarmante aumento nos casos de violência doméstica, que muitas vezes envolveram a presença desses jovens.

Saúde mental

Após a pandemia, verificou-se um aumento considerável nos níveis de estresse e ansiedade dos alunos, resultando em um aumento significativo nos diagnósticos de transtornos mentais, incluindo depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtornos alimentares.

Com o fechamento das escolas e universidades e a transição para o ensino remoto, muitos estudantes foram afetados negativamente pela falta de interação social e pelo conflito familiar, o que impactou significativamente suas vidas. De acordo com educadores, esse fator contribuiu para o aumento da hostilidade dos jovens que retornaram às salas de aula.

Mudança da responsabilidade educacional

Nas últimas décadas, temos observado uma mudança significativa no envolvimento dos pais na educação de seus filhos. Devido às transformações sociais, muitos pais têm transferido cada vez mais a responsabilidade pela educação para as escolas, resultando em um aumento do trabalho dos educadores. Como consequência, sobrecarga de trabalho e as dificuldades em lidar com questões pessoais e emocionais dos alunos, que antes eram de responsabilidade dos pais, são algumas das possíveis consequências desse novo cenário.

Desgastes dos profissionais de educação

A falta de envolvimento das famílias na educação dos filhos e a escassez de políticas públicas para lidar com questões escolares geram um sentimento de impotência nos educadores em relação a conflitos subjetivos e até problemas mais graves, como a participação de estudantes em atividades ilícitas e o acesso fácil a armas de fogo. Essa situação compromete não só a segurança dos alunos e dos profissionais da educação, mas também a qualidade do ensino como um todo nas escolas.

Cultura da violência nas escolas

A existência de uma cultura de violência nas relações entre estudantes nas escolas não é algo recente, o que que atualmente referenciado com o termo bullying no Brasil. No entanto, é evidente a escalada na gravidade dos conflitos, manifestados através de comportamentos desafiadores, intimidação, vandalismo, confrontos, agressões físicas e verbais. Além disso, levando em consideração o contexto territorial e social em que esses jovens estão inseridos, há uma grande incidência de uso de drogas e, em situações mais graves, ocorrem ataques armados.

Comunidades e segurança pública

Além dos fatores mencionados, é importante considerar as circunstâncias locais que propiciam casos de violência, seja em áreas com altos níveis de conflito e influência de grupos criminosos, ou em regiões onde a legitimação de preconceitos tem sido promovida por grupos extremistas, levando a uma ideia de “supremacia” que justifica atos bárbaros.

Falta de programas sistêmicos

A violência nas escolas é um problema complexo que requer uma abordagem multissetorial para ser enfrentado efetivamente. No entanto, a maioria dos órgãos públicos tem optado por uma abordagem policial em vez de investir em ações que poderiam produzir resultados mais efetivos na desconstrução da cultura da violência nas escolas. Embora essa abordagem possa causar uma sensação de segurança, ela não contribui efetivamente para a prevenção da violência no ambiente escolar.

Em busca das soluções

A prevenção da violência nas escolas é responsabilidade não só do governo ou dos trabalhadores da educação, é também dos pais, alunos, movimentos sociais e da comunidade em geral. Para isso, em nosso entendimento, é necessário a criação de um ente mediador que transite entre todos estes setores e que – a partida da avaliação de todos os fatores aqui citados, principalmente as conjunturas locais -, se construam em conjunto medidas de prevenção da violência e valorização da vida que, mesmo com um traçado metodológico central, tenha a flexibilidade de se adaptar as especificidades de cada “território escolar”. Para, a partir daí, consolidarem núcleos de mediação de conflitos, acolhimento e promoção da cultura da paz envolvendo dialogicamente com professores, alunos, gestores – e demais profissionais escolares -, além dos setores públicos de assistência social, cultura, esporte, turismo e segurança pública.

Por fim, é imprescindível que a comunidade em geral seja mobilizada para apoiar medidas preventivas e trabalhar em conjunto para criar um ambiente seguro e saudável. Mas quem deve iniciar este processo é o poder público e, junto com todos os setores da sociedade, trabalhem juntos para promover a segurança e a educação como valores fundamentais para uma sociedade pacífica e justa, para assim, evitar novas tragédias.

– Adriano Dias é fundador da ComCausa

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

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