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A imbrochável cultura do estupro

A linguagem deplorável empregada pelo criminoso, que promove a cultura do estupro e a prática da necrofilia, decorre de uma conjuntura influenciada pela necropolítica. Essa situação é simbolizada pela concessão da medalha de imbrochavel ao ex-presidente Bolsonaro por um jogador de futebol, assim como pela Medalha Tiradentes, uma homenagem do parlamento do Rio de Janeiro a policiais criminosos como Adriano da Nóbrega. A interconexão desses elementos sombrios tem gerado impactos alarmantes na sociedade, promovendo atitudes desumanas e repugnantes.

A evidência mais recente desse problema é visível nos casos de violência contra mulheres, como o ataque de um policial militar em São Paulo, resultando na morte de sua companheira após poucos meses de casamento. Outros eventos recentes incluem o estupro coletivo de uma adolescente de 15 anos, que foi embriagada, violentada, e teve as filmagens expostas na internet por um grupo de jovens homens, sem uma resposta adequada por parte dos policiais da delegacia. Ou o caso da menina de 14 anos encontrada morta numa linha férrea após uma festa, com moradores da comunidade alegando que isso era previsível para uma “mulher” que se expõe em festas. Ambos os casos ocorreram em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.

É particularmente constrangedor notar que esses eventos ocorrem durante os “21 dias de enfrentamento à violência contra a mulher”, quando militantes e movimentos se dedicam aos debates sobre este tema. No entanto, nossa resposta muitas vezes parece infantil diante do tsunami de ódio nas redes sociais, refletindo uma sociedade que, de diversas formas, legitima a violência.

A fala criminosa e repugnante do ex-policial militar, também professor de aspirantes a policiais, representa apenas mais uma afronta em meio a uma plateia que assiste ao espetáculo como se as vítimas fossem descartáveis, julgadas como presas indefesas para os leões. Nossa reação, frequentemente limitada a placas com frases prontas e discursos panfletários, destaca a ineficácia de nossa postura diante de tanta promoção da crueldade.

Por outro lado, essa condição resultará em um aumento do medo das mulheres ao participar de eventos sociais, utilizar o transporte público, carros de aplicativo e até mesmo ao caminhar pelas ruas devido à crescente preocupação com a sua segurança no dia a dia.

Apesar dos avanços legais conquistados nos últimos anos, a persistência da violência contra a mulher enfatiza a necessidade de ações mais enérgicas. É crucial que a punição para tais comportamentos seja exemplar, vindo das mais altas esferas democráticas. A sociedade não pode mais tolerar discursos que desumanizam e inferiorizam, contribuindo para a perpetuação de uma cultura de violência. É hora de reavaliar nossas práticas, enfrentar a necropolítica que permeia nossa sociedade e reafirmar o compromisso com a construção de uma cultura baseada no respeito, igualdade e justiça.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa