Mamória: Caso Eduardo de Jesus
O garoto de 10 anos, Eduardo de Jesus Ferreira, foi vítima de um disparo fatal na cabeça e faleceu em 2 de abril de 2015, à tarde, à porta de sua residência no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. Naquele momento, policiais militares estavam sob ataque de suspeitos e retaliando a agressão em uma área conhecida como Areal, parte de uma operação na qual os agentes envolvidos foram posteriormente afastados de suas funções.
A investigação sobre a morte de Eduardo revelou que o menino foi atingido por um tiro disparado por policiais durante o tiroteio no Complexo do Alemão. Segundo sua mãe, Terezinha Maria de Jesus, que estava em casa assistindo televisão no momento, Eduardo se dirigiu à porta para falar com os pedreiros que estavam trabalhando lá. Ele estava sentado quando foi atingido por um tiro na cabeça por trás.
Devido ao confronto entre os policiais e traficantes, onde o garoto ficou na linha de fogo, as investigações consideraram a ação dos agentes como legítima defesa, resultando na ausência de acusações formais no inquérito encaminhado ao Ministério Público.
Após a perda de seu filho, Terezinha Maria de Jesus, a mãe de Eduardo, retornou ao Piauí, sua terra natal, acompanhada de suas filhas, neto e genro.
O desfecho do inquérito que investigou a morte do jovem Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, no Complexo do Alemão, foi classificado como uma verdadeira “anomalia”. Após sete meses de diligências, a Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil concluiu que o tiro fatal que tirou a vida da criança, em 2 de abril, partiu de um policial militar durante um confronto na localidade de Areal.
Contudo, a unidade especializada não atribuiu a responsabilidade direta pela tragédia a nenhum dos envolvidos. No inquérito recém-finalizado, os soldados Marcus Vinicius Nogueira Bevitori e Rafael de Freitas Monteiro Rodrigues, lotados na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da região, foram considerados inocentes pela polícia, que alegou que “agiram em legítima defesa e não tinham a intenção de disparar contra a criança”. A DH chegou a descartar o indiciamento dos policiais por homicídio culposo, que ocorre quando não há intenção de matar.
MPRJ pede desarquivamento de inquérito sobre morte do menino Eduardo de Jesus
No dia 27 de setembro de 2023, um novo capítulo se abriu nessa história trágica. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) solicitou o desarquivamento do inquérito policial que investiga a morte de Eduardo de Jesus Ferreira. Essa decisão veio à luz de novas provas, incluindo vídeos gravados no dia do homicídio, indícios de fraude na investigação policial e falhas do promotor original do caso, conforme apontado pela defesa de Terezinha.
O advogado João Pedro Accioly, representante legal de Terezinha, esclareceu que o pedido de desarquivamento foi baseado em diversas irregularidades identificadas nas investigações, incluindo falhas no laudo de confronto balístico e a semelhança notável nos depoimentos dos policiais envolvidos.
Além disso, o advogado comemorou a inclusão de um segundo policial no caso, que havia sido excluído da primeira denúncia. “Além do policial Rafael de Freitas, que havia sido alvo da primeira denúncia, a decisão do procurador-geral de justiça permite a investigação e a acusação do policial Marcus Bevitori, que havia sido impropriamente excluído da primeira ação penal. Elementos do próprio inquérito levam a crer que Freitas foi o primeiro a disparar, mas Bevitori foi o responsável pelo disparo letal”, explicou.
Terezinha, mãe de Eduardo, expressou sua esperança renovada pela busca de justiça após oito anos de luta: “Eu estou me sentindo com uma grande esperança de que agora essa justiça vai ser feita, depois de oito anos de muita luta. Estou com meu coração bem esperançoso. Com Deus na frente tudo vai fluindo. A guerra ainda não ganhei, mas uma batalha eu já venci, graças a Deus”. A saga por justiça continua, e a sociedade espera que o desfecho honre a memória de Eduardo e traga paz à sua família.