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Caso Jorge Careli servidor Fiocruz desaparecido

No dia 10 de agosto de 1993, por volta das 20h, um acontecimento chocante abalou as entranhas da favela de Varginha, localizada em Manguinhos. Jorge Careli, servidor da renomada Fiocruz, foi brutalmente abordado enquanto utilizava um orelhão público. Testemunhas afirmam que ele foi violentamente espancado e arrastado para uma Kombi por policiais da DAS, em meio a uma batida policial que visava capturar um suspeito de sequestro.

O desaparecimento de Jorge Careli desencadeou uma onda de cobertura midiática e mobilização por parte da Fiocruz, que clamou o apoio da sociedade para encontrar seu funcionário. À medida que os dias se arrastavam, evidências inquestionáveis começaram a surgir. A polícia admitiu a possibilidade de envolvimento da equipe da DAS, na época sob o comando do delegado Hélio Vígio. Na Kombi da DAS, foram descobertos vestígios de cabelo, marcas de água e indícios de tiros.

Após mais de dois anos de um processo intrincado, uma sentença desconcertante foi proferida: o juiz Heraldo Saturnino de Oliveira, da 6ª Vara Criminal, afirmou que “não havia dúvidas de que Careli foi espancado e possivelmente morto por um dos réus, mas a acusação não conseguiu demonstrar quem, dentre os 23 acusados, cometeu o crime, tampouco provou a cumplicidade dos outros policiais na conduta ilícita”. Vinte e dois acusados foram absolvidos, e a punibilidade de Armando Correia da Silva foi extinta devido à sua morte.

Diante da absurda e injusta sentença, a Presidência da Fiocruz, a Asfoc e outras organizações de defesa dos direitos humanos levaram a denúncia de absolvição à Anistia Internacional e à Comissão de Direitos Humanos da OEA. Enquanto isso, o Ministério Público recorreu ao Tribunal de Justiça. Em 25 de agosto de 1995, Lindalva dos Prazeres testemunhou ter visto Careli na “sala do pau” da DAS na manhã seguinte ao desaparecimento. Em uma entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo, ela relatou: “Eu perguntei a ele se era sequestrador, e o rapaz disse: ‘não, eu trabalho na Fiocruz’.” O Ministério Público reabriu o caso, mas meses depois, ao fim da investigação, o juiz Heraldo Saturnino ratificou a sentença anterior.

Em 1999, o governo do Estado do Rio de Janeiro assumiu sua responsabilidade, concedendo uma indenização de R$ 22,5 mil para cada um dos pais de Careli, Antonio e Maria Careli, por danos morais, além de uma pensão mensal de R$ 875 por danos materiais. No entanto, o corpo de Jorge Careli jamais foi encontrado, deixando um vazio inexplicável no desfecho deste trágico episódio.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa