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Dez anos do álbum de estreia do ‘Metal Indígena’ do Arandu Arakuaa

Há exatos dez anos, em setembro de 2013, a cena musical brasileira foi sacudida pelo lançamento de um álbum revolucionário que desafiou as barreiras musicais e culturais. O primeiro disco da banda Arandu Arakuaa, intitulado “Kó Yby Oré”, marcou o início de uma jornada única e inspiradora, amalgamando elementos do heavy metal com a riqueza da música indígena.

A descoberta desta inovadora fusão ocorreu em um momento inusitado: enquanto trabalhava em um domingo à tarde, ouvindo uma webrádio de rock, deparei-me com o link para o videoclipe da música “Gûyrá”. Fui instantaneamente cativado pela criatividade e audácia da Arandu Arakuaa.

Ao realizar uma pesquisa mais profunda, descobri que a banda Arandu Arakuaa já havia sido formada em 2008. Eles estrearam nos palcos em agosto de 2011 e lançaram seu primeiro CD demo em junho de 2012, o qual chamou a atenção até mesmo na Europa. Foi neste momento que entrei em contato, no mesmo dia, com a mente visionária por trás da Arandu Arakuaa, nosso amigo Zândhio Huku. Natural do Tocantins, que teve a oportunidade de conviver com os povos Xerente e Krahô. Essa experiência transformadora se tornou a principal fonte de inspiração para as composições únicas da banda. Zândhio mergulhou profundamente nas cosmovisões e lutas desses povos e as transformou em músicas que surpreendem pela sua autenticidade.

Era setembro de 2013, e após uma série de conversas com Zândhio, agendamos uma entrevista em Brasília para a semana seguinte. Foi nessa ocasião que realizamos o registro em frente ao Ministério da Justiça, em uma noite abafada na capital. Coincidentemente, foi o dia em que o CD “Kó Yby Oré” chegou às mãos dos membros da banda. Este álbum marcante gerou a produção de dois videoclipes e um lyric vídeo.

Nesse mesmo período, tive a oportunidade de convidá-los para participar do I Fórum Mundial de Direitos Humanos, no qual a ComCausa estava envolvida na coordenação organizacional. Este evento de grande relevância ocorreu em dezembro daquele mesmo ano e a banda presenteou o público com uma bela apresentação acústica, além de me proporcionar a oportunidade de conduzir outra entrevista esclarecedora.

Mas, afinal, qual é a essência do som e da banda Arandu Arakuaa?

O som da Arandu Arakuaa é uma fusão hipnotizante da viola caipira, um dos instrumentos mais emblemáticos da música regional brasileira, com a poderosa guitarra do heavy metal. Essa combinação de estilos cria uma sonoridade única que encanta ouvintes de todas as idades e origens culturais.

No entanto, a singularidade da Arandu Arakuaa transcende a música e permeia suas letras. As canções são escritas em tupi-guarani, uma língua indígena que a banda está resgatando e preservando com grande dedicação. As letras abordam temas fundamentais para a cultura indígena, como a conexão com a natureza, a luta pela preservação das terras indígenas e a celebração da espiritualidade.

A Arandu Arakuaa não se limita apenas à criação artística, mas também utiliza sua música como uma ferramenta de conscientização e ativismo em prol dos povos indígenas brasileiros. Suas canções são um convite à reflexão sobre a importância da preservação da cultura e dos direitos dessas comunidades.

Ao longo dos anos, a Arandu Arakuaa construiu uma base de fãs leais e se apresentou em diversos eventos e festivais pelo Brasil, disseminando sua mensagem e música para um público cada vez maior. Sua música transcende barreiras culturais e linguísticas, unindo diferentes comunidades em torno de um objetivo comum: a valorização e o respeito pelos povos indígenas do Brasil.

Com uma sonoridade poderosa e letras que ecoam a força e a sabedoria dos povos indígenas, a Arandu Arakuaa continua a ser uma das bandas mais originais e inspiradoras da cena musical brasileira. Seu compromisso em promover a cultura indígena por meio da música é um exemplo inspirador de como a arte pode ser uma poderosa ferramenta de transformação social e conscientização.

Arandu Arakuaa: uma banda necessária

Em um momento crucial de reconstrução do Brasil, de reconciliação entre pessoas e sociedade após uma série de violências, desqualificações e ataques contra os povos originários, o Arandu Arakuaa se torna uma banda essencial. Ela representa não apenas a diversidade musical, mas também a diversidade cultural e étnica que é a essência do nosso país. É um lembrete poderoso de que precisamos de mais bandas lideradas por mulheres, bandas negras e bandas indígenas, que representem a riqueza da nossa nação.

Álbuns do Arandu Arakuaa:

  1. “Kó Yby Oré” (2013)
  2. “Wdê Nnãkrda” (2015)
  3. “Mrã Waze” (2018)
  4. “Ainãka” (2022)

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa