Campanhas

Dia Nacional do Médico de família e comunidade,

Celebrado anualmente, o Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade ressalta a importância vital desses profissionais na prestação de serviços da Atenção Primária à Saúde (APS). Esses médicos desempenham um papel crucial, uma vez que aproximadamente 85% das preocupações médicas dos pacientes podem ser tratadas por eles, enquanto os casos restantes são encaminhados para especialistas.

No entanto, qual é exatamente a distinção que torna esses profissionais tão particulares? No Brasil, é comum a confusão entre médicos de família e clínicos gerais, embora desempenhem funções distintas e complementares. Enquanto o clínico geral foca especificamente na doença, o médico de família concentra-se na pessoa como um todo. A médica de família do SUS em Florianópolis (SC), Fernanda Melchior, define essa distinção afirmando que “a clínica geral é pontual, enquanto a medicina da família é longitudinal”. Isso significa que o paciente é acompanhado durante todas as etapas da vida, desde o nascimento até o fim dela. É fundamental lembrar que o médico de família possui uma formação específica, completando a residência em medicina da família.

Para além dos sintomas físicos, o estilo de vida, hábitos, saúde emocional, condições de trabalho e moradia são considerados pelo médico de família ao oferecer um diagnóstico. Em outras palavras, uma abordagem integral é adotada, incorporando os aspectos biopsicossociais, pois todos esses elementos podem influenciar a saúde, muitas vezes sem a consciência do paciente. Como menciona Fernanda, “quando a boca se cala, o corpo fala”, ressaltando a atenção dedicada a esses detalhes.

Um caso exemplar destacando a relevância do médico de família é o de um paciente que procurou Fernanda queixando-se de falta de ar, dificuldade para dormir e engolir. Após consultas com outros especialistas, que prescreveram exames gastrointestinais e pneumológicos, nenhum indicou anormalidades. Ao buscar compreender o contexto do homem, descobriu-se que ele enfrentava uma separação, sentindo falta dos filhos e enfrentando dificuldades no trabalho, sofrendo assim de ansiedade. Esse é um exemplo do que é chamado de “rompimento de ciclo de vida”, onde a intervenção envolve medicação, suporte durante o período de adaptação ao remédio e até mesmo facilitação do contato com os filhos, ao envolver a esposa na resolução do problema.

Outra situação comum é quando pacientes chegam com sintomas adversos decorrentes da interação de medicamentos prescritos por diferentes especialistas, muitas vezes sem conhecimento completo do histórico do paciente. O objetivo do médico de família é evitar intervenções desnecessárias e coordenar os cuidados para garantir uma abordagem unificada.

Além do enfoque individual, a medicina da família abrange uma dimensão coletiva. Cada equipe atende uma região geograficamente delimitada, permitindo a identificação de problemas comuns entre os moradores. Por exemplo, queixas de dores no ombro de vários residentes que trabalham no mesmo supermercado levantaram suspeitas sobre a ergonomia do local, possibilitando intervenções. Outro caso envolveu um número significativo de crianças de uma escola que chegaram à UBS com piolhos, exigindo uma ação coletiva envolvendo a escola.

Fernanda enfatiza que a saúde da família não depende exclusivamente do médico, mas sim da equipe multidisciplinar. Enfermeiros, agentes comunitários, técnicos de enfermagem e, em algumas equipes, dentistas, desempenham papéis fundamentais na prestação de cuidados e na criação de vínculos com a comunidade.

Atualmente, o SUS possui cerca de seis mil médicos de família, um número ainda considerado baixo levando-se em conta a densidade populacional do país. Investimentos do Ministério da Saúde na formação desses profissionais, como o Pró-Residência para APS, e incentivos aos municípios visam aumentar a presença desses profissionais, respondendo à demanda da população por cuidados abrangentes e integrados na Atenção Primária à Saúde.

| Editoria Virtuo Comunicação

| Projeto Comunicando ComCausa

| Portal C3 | Instagram C3 Oficial

João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa